Diário Catarinense adianta o editorial que os jornais da RBS publicarão no próximo domingo para que os leitores possam manifestar concordãncia ou discordãncia em relação aos argumentos apresentados. Participações enviadas até as 18h de sexta-feira serão selecionadas para publicação na edição impressa.
O BRASIL OLÍMPICO
Embora recorrente, o debate em torno do número de medalhas conquistadas pelos representantes brasileiros nos Jogos Olímpicos tem um significado maior este ano por anteceder a competição em nosso país. Sempre é constrangedor ver o Brasil atrás de países de menor importãncia econÔmica e sem tradição esportiva que justifique o melhor desempenho. Mas é absolutamente injusto e descabido responsabilizar os atletas pela modesta performance de nossa delegação quando se sabe que a maioria das modalidades esportivas recebe pouca ou nenhuma atenção do poder público e da própria sociedade. Sem uma política esportiva melhor planejada e associada à educação, não podemos mesmo ambicionar resultados semelhantes ao de nações que investem fortemente no esporte.
Certamente é necessário investir mais. Mas o importante, mesmo, é investir certo. E cedo: para construir um atleta de elite é imprescindível investir na criança antes mesmo de saber que ela optará por determinada modalidade esportiva. No Brasil, não são as escolas que encaminham os jovens para o esporte. São os clubes, as academias de ginástica, as associações e federações. Nos países medalhistas, com raras exceções, estudo e esporte estão conjugados desde os primeiros anos da vida estudantil. Normalmente, é na escola que o futuro atleta identifica o esporte em que se sairá melhor, com a ajuda da instituição. A própria Inglaterra é um exemplo disso: além de terem organizado muito bem os Jogos de Londres, os ingleses consolidaram-se como potência olímpica.
Nossa situação é bem diferente. Excetuando-se esportes coletivos de grande ou média popularidade, os atletas brasileiros que se destacam quase sempre têm histórias de vida verdadeiramente extraordinárias. Antes de enfrentar uma final olímpica, enfrentam toda série de dificuldades, falta de orientação, falta de equipamento, treinamentos precários, pouco intercãmbio — até que conseguem impressionar um profissional capacitado ou um clube com recursos, que os encaminha para o aperfeiçoamento.
Se tivéssemos uma política esportiva centrada na massificação de diversas modalidades e na identificação precoce de potenciais campeões, é bem provável que nossa situação no quadro de medalhas olímpicas fosse bem melhor. Ainda que o objetivo prioritário do esporte não deva ser apenas a vitória, pois antes se destina a formar cidadãos, a desenvolver disciplina, persistência, capacidade de superação, camaradagem, trabalho em equipe e respeito ao próximo, os vencedores se transformam em multiplicadores e em exemplos para gerações futuras.
O Brasil olímpico, hoje, já não corresponde ao Brasil potência econÔmica mundial, com a sexta economia do planeta, a liderança continental e a relevãncia de pertencer ao restrito grupo dos países emergentes que estão a um passo do Primeiro Mundo. Não vamos mudar esta situação nos quatro anos que separam Londres do Rio de Janeiro. Mas podemos dar a largada para uma mudança de mentalidade que, no futuro, renderá bem mais do que medalhas olímpicas.
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