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Turismo religioso pede passagem

Última atualização 8 de dezembro de 2017 - 09:26:33

Acervo Municipal / Primeira Igreja Evangélica de Palmitos
Pedaço de terra que povoa o imaginário de turistas de todo o mundo. Seus caminhos perpassam por rios, águas termais, trilhas, fauna e flora exuberantes. Mas além de tudo isso, contempla uma corrente de fé que embala e emociona milhares de pessoas que por ele passam. E é nesta viagem que convidamos você leitor a embarcar. Uma história que envolve peregrinações dos devotos por santuários, grutas e igrejas, que também enriquecem o trajeto turístico do Vale das Águas e registram uma riqueza cultural imensurável, para o registro da história de pequenos municípios. Em meio a todo esse cenário, o turismo religioso pede passagem para se fortalecer no mapa turístico de Santa Catarina.
Para compreender essa ‘outra’ opçÃo de turismo na regiÃo Oeste catarinense, é necessário entender a colonizaçÃo, que ainda se mantém muito forte nos municípios, cada qual com suas particularidades. Segundo o historiador e professor Alceu Antônio Werlang a formaçÃo do Oeste catarinense partiu de duas frentes de colonizaçÃo.
O professor explica que a partir de 1838, paulistas e mineiros ocuparam a área dos campos, onde implantaram fazendas de criaçÃo de gado bovino. E a partir de 1917 a regiÃo mais acidentada foi ocupada por famílias descendentes de alemÃes, italianos e poloneses, a maioria vinda do Rio Grande do Sul.
Antes da ocupaçÃo, o historiador conta que havia índios caingangues e guaranis na regiÃo. E para esses nativos, de acordo com Werlang restou a alternativa da resistência ou da aliança com o colonizador. Além dos caingangues e guaranis, está presente em todos os municípios a populaçÃo mestiça, que foi se desenvolvendo ao longo dos anos, permitindo uma riqueza cultural diferenciada.
De acordo com ele, na regiÃo, as culturas sofreram bastante influência europeia. Os municípios de abrangência do Jornal Expresso d’Oeste, em específico, cultivam a cultura alemà e italiana hegemônica. Entretanto, hoje existe uma diversidade cultural, que segundo Werlang se deve pela política de colonizaçÃo que priorizou a organizaçÃo das colônias de um mesmo grupo étnico e religioso, o que diretamente influenciou na formaçÃo de igrejas e templos ao redor dessas comunidades.
VALE DAS ÁGUAS

Arquivo Expresso d’Oeste / Vice-presidente do Vale das Águas, Elói Líbano
Atualmente, alguns municípios da regiÃo Oeste de Santa Catarina estÃo inclusos no Vale das Águas do Mapa de Turismo Brasileiro organizado pelo Ministério do Turismo. A associaçÃo contém 27 municípios registrados, os quais apresentam suas potencialidades, sejam em águas termais, aventura, eventos, agronegócio e turismo religioso.
O vice-presidente do Vale das Águas, Elói Líbano, afirma que até o momento a regiÃo foi formalizada com roteiros turísticos. Os trabalhos do Vale das Águas iniciaram há dois anos e hoje conta com 27 municípios inclusos no mapa do turismo regional. “Agora estamos trabalhando para montar os roteiros dentro das potencialidades de que cada município tem a oferecer, incluindo o turismo religioso”, declara.
Líbano explica que o turismo religioso entra na questÃo macro, ou seja, na regiÃo do Vale das Águas serÃo criados vários atrativos e roteiros. “O turismo religioso é mais forte nos municípios onde tem eventos migrados a isso, que já possuem atrativos específicos, por isso precisamos acrescentar outros municípios que apresentam essa potencialidade”, ressalta o vice-presidente, destacando que o turismo religioso está sendo incluso nos roteiros do Vale das Águas, porém ainda nÃo tem uma rota definida. “Para que o turismo religioso seja incluído no roteiro, depende da participaçÃo de empresas privadas de cada município, ou seja, o envolvimento das igrejas e paróquias. É um trabalho que está sendo encaminhado, mas será agregado nos roteiros do Vale das Águas”, adianta.

IlustraçÃo / Municípios inclusos no Vale das Águas do Mapa Turístico de Santa Catarina

Santuário de Nossa Senhora da Salete atrai fiéis de todo o Estado
O santuário de Nossa Senhora da Salete foi inaugurado em 9 de outubro de 1960, e existe há mais de 50 anos, recebendo milhares de romeiros todos os anos perpassam pelo local para agradecer ou pedir graças à Nossa Senhora da Salete

Expresso d’Oeste / O santuário de Nossa Senhora da Salete recebe milhares de romeiros todos os anos
No município de Caibi, cerca de seis quilômetros do centro da cidade, em Linha Salete, está localizado o Santuário de Nossa Senhora da Salete, palco de uma romaria que acontece todos os anos no mês de setembro em honra a Santa Salete. Como ocorre com muitos dos municípios do Oeste de Santa Catarina, o turismo religioso atrai muitos visitantes da regiÃo. Segundo a irmà Raquel Travessini, no começo, as peregrinações da capelinha de Nossa Senhora da Salete aconteciam nas casas dos vizinhos da comunidade à noite, e já realizavam verdadeiras romarias.
Raquel conta que em 1945 a família Travessini e Bregalda lideraram com mais quatro famílias, a construçÃo de uma capela para a comunidade se reunir. A família Travessini doou o terreno para a construçÃo da capela. As obras da construçÃo iniciaram em 1949 e a obra foi inaugurada em 1951 onde funcionou por alguns anos como capela e escola.
A devoçÃo à Nossa Senhora da Salete foi se difundindo, e conforme a irmÃ, muitas pessoas vinham de longe para pedir e ou agradecer graças. Já em 1959 surgiu a ideia de construir um Santuário em Honra a Nossa Senhora da Salete. “A construçÃo do santuário surgiu com o objetivo de que lá fosse um local de oraçÃo. O vigário de Caibi, da época, Padre Assabido Rodhen solicitou à família Travessini a doaçÃo de um terreno considerável, que prontamente doou”, conta.

Expresso d’Oeste / No decorrer dos anos a devoçÃo à Nossa Senhora da Salete foi se difundindo e muitas pessoas vinham de longe para pedir e ou agradecer graças
O santuário de Nossa Senhora da Salete foi inaugurado em 9 de outubro de 1960, e existe há mais de 50 anos, recebendo milhares de romeiros todos os anos que perpassam o local para agradecer ou pedir graças à santa Salete. Hoje o santuário é um local encravado na natureza, e aos poucos está sendo estruturado para receber os milhares de romeiros que todos os anos têm visitado o local, nÃo só nos dias de romaria, mas todos os dias.
O prefeito de Caibi, Eloí Líbano, menciona que para incluir o santuário no roteiro turístico religioso de Santa Catarina é necessário organizar o espaço no quesito econômico. “Temos que ter um espaço para venda de objetos religiosos, artesanato do município. A nossa intençÃo do turismo nÃo é somente para visitaçÃo, mas também explorar economicamente, agregando valor às potencialidades do município. Outro ponto que precisamos adequar sÃo hotéis e gastronomia no município, pois hoje nÃo temos como hospedar uma excursÃo em Caibi”, afirma ele, destacando a importância da exploraçÃo econômica, para melhor estruturar o santuário e receber bem os fiéis.
CartÃo postal da Alemanha se torna CartÃo Postal de Linha Lajú

Tamara Melo / Igreja de ConfissÃo Luterana do Brasil da Linha Lajú de Mondaí
No município de Mondaí, especificamente na comunidade da Linha Lajú, o turismo religioso também tem sido referenciado. A igreja evangélica se tornou o cartÃo postal da comunidade e do município. Construída no alto de um moro, ela foi fundada em 06 de julho de 1927, na época, uma construçÃo de madeira que era usada como igreja e escola.
A professora aposentada, Úrsula Schneider de Oliveira, resgatou a história da comunidade, e conta que em 1946 as famílias do local começaram a sondar a possibilidade de construir um templo maior e mais resistente. “Neste tempo, um morador local doou um hectare de terra para a construçÃo da nova igreja, local em que ela está construída até hoje, na época eles queriam uma igreja que estivesse no alto e que em qualquer lugar que você chegasse na comunidade, a igreja era para ser vista”, conta a professora.
Segundo Úrsula, na época em que foi construída a igreja, os colonizadores tinham apenas um cartÃo postal da Alemanha com o modelo da igreja que queriam construir. “Como nÃo tinha um engenheiro as famílias contrataram um pedreiro que residia no município de Marques de Souza no Rio Grande do Sul. Ele tinha conhecimento nas construções da igreja daquela regiÃo”, relata Úrsula, frisando esse pedreiro desenhou a igreja por meio do cartÃo postal. “Ele fez as metragens necessárias e a única coisa que as famílias sabiam era a altura, largura e comprimento da igreja, o restante era copiado do cartÃo postal. Foi uma igreja construída sem projeto”, declara.
Para a construçÃo, a professora expõe que cada membro da comunidade doava 30 dias de serviços, que poderiam ser em dinheiro ou em mÃo de obra. “Eu lembro que na época meu pai vendeu uma vaca e doou todo o dinheiro para completar os 30 dias. Ainda teve um morador da comunidade que doou o terreno para a construçÃo da igreja”, declara.

Expresso d’Oeste / A professora aposentada, Úrsula Schneider de Oliveira, resgatou a história da comunidade
Atualmente, a igreja apresenta em sua arquitetura, paredes largas, construídas com tijolos e barro. Úrsula menciona que a igreja é muito resistente, e relata que quando foi construído o asfalto na comunidade de Linha Lajú, em 1994, a empresa responsável teve que fazer algumas detonações perto da igreja. “A igreja estava em cima de uma rocha, a qual a empresa precisava detonar”, conta. Ela revela que no primeiro momento a empresa iria indenizar a igreja caso houvesse algum dano. “Nessa época eu morava perto da igreja, a me chamaram para abrir todas as janelas e portas da minha casa e da igreja. E quando a detonaçÃo terminou na minha casa quebrou duas janelas, e na igreja nada aconteceu. A igreja foi muito bem construída”, afirma.
Úrsula se emociona ao falar da beleza da igreja e dos eventos que nela sÃo comemorados. “Muitos casamentos já foram realizados nesta igreja, tanto que teve pessoas que mudaram de religiÃo para poder realizar a cerimônia na nossa igreja. Hoje os casamentos sÃo poucos, mas as bodas de ouros sÃo constantes”, aponta, destacando como a tradiçÃo e história da igreja ainda se mantém vivos pela populaçÃo mais idosa.
Arquitetura marcante de templos religiosos se destaca na regiÃo
As peculiaridades na construçÃo, principalmente de igrejas, carregam a marca de uma cultura colonial atraindo turistas para conhecer as singelas construções impregnadas de riquezas da história de migraçÃo e imigraçÃo no Oeste e Extremo Oeste Catarinense

Igreja Matriz de SÃo Carlos Borromeu Localizada no centro do município de SÃo Carlos, a igreja foi construída em estilo gótico no 1952. Nela, encontra-se uma coleçÃo de obras de arte, incluindo estátuas e imagens bíblicas
Elas nÃo aparecem no trip advisor, nÃo sÃo citadas no mapa turístico de Santa Catarina, mas para quem presencia suas singelas e ao mesmo tempo magníficas arquiteturas, sabe quanta riqueza e história há por de trás de cada tijolo levantado. As peculiaridades na construçÃo, principalmente de igrejas, carregam a origem dos colonizadores que se instalaram na regiÃo.
A arquiteta de SÃo Miguel do Oeste, Letícia Bürgin, conta que os imigrantes que se estabeleceram no Extremo Oeste de Santa Catarina a partir de 1917 eram de origem alemÃ, italiana e polonesa vindas, na sua maioria, do Rio Grande do Sul. As edificações eram erguidas com a matéria-prima encontrada em larga escala na regiÃo: a madeira. “As instituições religiosas, independente da vertente de pensamento, tinham sua estrutura e acabamentos desenvolvidos com base neste sistema construtivo, tanto pela matéria prima encontrada com facilidade, quanto pela escassez de recursos financeiros, o que nÃo permitia que a comunidade adquirisse materiais de regiões mais distantes. Estas edificações eram singelas e cumpriam a funçÃo de reunir os fiéis”, declara.
Com o passar do tempo, e com o aumento do número de devotos, as edificações passaram a ser reformadas e ampliadas, recebendo de maneira gradativa a interferência de concreto e da cerâmica em sua concepçÃo. Letícia explica que com a maior captaçÃo de recursos e acesso facilitado a novos sistemas construtivos, as edificações religiosas passaram a ter uma funçÃo que ia além da reuniÃo de fiéis. “Ali também se representava o poder econômico da cidade/comunidade onde estava instalada, e também fez o devoto voltar à velha sensaçÃo das igrejas barrocas, onde o homem deveria compreender a sua pequenez diante da majestade de Deus e da autoridade da igreja”, destaca.
Segundo Letícia algumas das igrejas construídas no período da colonizaçÃo ainda se mantêm edificadas e exuberantes. “Sua arquitetura e seus detalhes construtivos contam a história de um período importante para a regiÃo, e estes fatos, se bem contados e ilustrados, também podem se tornar referencial de turismo”, afirma.A reportagem do Expresso d’ Oeste,realizou o levantamento de um pequeno recorte dessa realidade religiosa e apresenta a seguir, algumas igrejas que merecem destaque no mapa turístico do estado.

Igreja da cidade de Palmitos

Igreja Evangélica de ConfissÃo Luterana do Brasil
A Igreja em alvenaria de Palmitos foi construída e inaugurada no dia 04 de dezembro de 1960 e recebeu uma reforma geral em 1996. A Paróquia Evangélica de atua em cinco municípios: Palmitos, SÃo Carlos, Cunhataí, Caibi e Riqueza, e compõe-se de 19 comunidades – Palmitos, Três Pinheiros, Sede Oldenburg, Ilha Redonda, Linha Santa Terezinha, Barra Grande, Nova Santa Cruz, SÃo Carlos, Cunhataí, Cachoeira, FogÃo, Diamantina, SÃo Domingos, Lambari, Progresso, Bagé, Riqueza, Alta Riqueza e SÃo Pedro.
Grutas e santuários também contemplam o turismo religioso na regiÃo

A exemplo do Santuário de Salete em Caibi, diversos municípios da regiÃo, também contemplam pequenas romarias e atraem fiéis regionais em espaços que se misturam entre a açÃo humana e a natureza. Com uma infraestrutura mais simples, carregam a imagem de um determinado santo e as crenças da colonizaçÃo
A arquiteta e urbanista, Cândida Valcarenghi, menciona ainda que nos dias atuais, com o avanço tecnológico dos sistemas construtivos, combinado com excelência em senso estético, pode-se ter templos com grandes vÃos, que comportam muitos fiéis e com uma forma bem resolvida, o que valoriza a cidade/comunidade, podendo até se tornar uma referência turística para a localidade onde será edificado.
Cândida menciona que a riqueza nos detalhes é ponto marcante nas construções, que trazem consigo as características dos imigrantes alemÃes e italianos sendo atribuída a colonizaçÃo alemà as igrejas evangélicas, e a colonizaçÃo italiana as igrejas seguidoras do catolicismo, estando estas construções geralmente ricas em detalhes que vÃo desde seu exterior, marcado por materiais, detalhes da técnica construtiva utilizada, bem como particularidades dos estilos adotados, (gótico, bizantino, romântico, eclético e moderno), marcados por verticalismo, vitrais, grandes aberturas, torres majestosas, o interior destas construções geralmente marcado por grandes pinturas, esculturas, utilizaçÃo de materiais naturais aparentes.
No entanto, nÃo só de espaços cimentícios, a fé pelegrina se faz presente. A exemplo do Santuário de Salete em Caibi, diversos municípios da regiÃo, também contemplam pequenas romarias e atraem fiéis regionais em espaços que se misturam entre a açÃo humana e a natureza.Com uma infraestrutura mais simples, carregam a imagem de um determinado santo e as crenças da colonizaçÃo. A seguir, nossa equipe aponta um levantamento de pequenas grutas, encontradas no interior de comunidades.

Gruta de Nossa Senhora de Lurdes
Gruta de Nossa Senhora de Lurdes
Na Linha Santa Maria Goretti, em Palmitos, foi construída uma imagem de concreto da Santa. A imagem faz parte do projeto de construçÃo do Santuário Santa Maria Goretti, que integra os atrativos do município como novo ponto turístico religioso.



Monumento de Nossa Senhora da Saúde
O monumento da Nossa Senhora da Saúde encontra-se dentro de uma escultura em forma de mÃos, que seguram a imagem dentro de um coraçÃo. Esta santa é a Padroeira da Comunidade Ilha Redonda, em Palmitos. Local de movimentos religiosos, encontros e romarias.

Monumento de Nossa Senhora da Saúde

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