Trincas em muro da hidrelétrica Foz do Chapecó gera polêmica e controvérsias quanto a sua segurança
Última atualização 1 de setembro de 2017 - 10:04:41
ÁGUAS DE CHAPECÓ
Os impactos da destruiçÃo parcial de um muro de 18 metros de altura e 46 de comprimento da hidrelétrica Foz do Chapecó, na divisa entre Santa Catarina e o Rio Grande do Sul, estÃo no centro de uma controvérsia entre os construtores e gestores da barragem, que dizem nÃo ver risco de acidente, e um consultor especializado, contratado pelos próprios operadores, que encontrou falhas na estabilidade estrutural da usina, decorrentes do acidente.Engenheiro especializado em estruturas de concreto, o consultor Milton Emílio Vivan alertou os gestores da hidrelétrica, em análise encaminhada no dia 21 de julho, que o bloco 5, o trecho da barragem onde parte do muro desabou, está “nÃo conforme”, o que significa fora dos padrões de segurança de estruturas estabelecidos pela Eletrobras. O jornal o Globo, que teve acesso ao documento, submeteu-o a um outro engenheiro especializado e sem ligaçÃo com o autor do laudo, que considerou a análise “bastante séria”.Com 48 metros de altura e 598 metros de comprimento, entre as cidades de Águas de Chapecó (SC) e Alpestre (RS), a hidrelétrica Foz do Chapecó é um colosso de concreto e pedra que produz 855MW de energia, suficiente para abastecer cinco milhões de casas — o que corresponde a 25% de toda a energia consumida em Santa Catarina e a 18% do Rio Grande do Sul. Foi erguida numa alça do Rio Uruguai, a “Volta Grande”, com pelo menos 11 cidades próximas, a jusante (abaixo do vertedouro).
PRIMEIRO ACIDENTE EM 2014
O problema na barragem começou em junho de 2014, quando metade do muro central do vertedouro da hidrelétrica foi arrancada pelas cheias. Desde o primeiro acidente, o consórcio gestor, o Foz do Chapecó Energia (FCE), e o construtor, o Consócio Volta Grande (CVG), liderado pela empreiteira Camargo Corrêa, travam uma queda de braço para definir de quem é a responsabilidade pelo problema. A disputa desaguou em açÃo na 44ª Vara Cível do Tribunal de Justiça de SÃo Paulo e em processo no Centro de Arbitragem e MediaçÃo da Câmara de Comércio Brasil-Canadá. Quem perder terá de arcar com os custos.Procurado pelo Globo, Vivan confirmou a autoria da análise, mas ressalvou que o estudo é “inconclusivo” porque os problemas encontrados necessitam de análises mais profundas antes de se decidir as intervenções na barragem.” “NÃo sou dono de verdade nenhuma. Temos de tomar cuidado com as interpretações incorretas de questões técnicas”, frisa.Vivan considera fundamental trabalhar com os dados extraídos de “estudos e análises” para a recuperaçÃo da estabilidade da obra:”Existem critérios de cálculo e a situaçÃo real. Às vezes, os critérios nÃo se reproduzem na prática”, defende.
Legenda: A barragem da hidrelétrica Foz do Chapecó: à esquerda, no pé da imagem, trabalhadores fazem reparos no local – Gustavo Miranda / Agência O Globo / 17-8-17
Movimento dos Atingidos por Barragens cobra maiores explicações
Diante do ocorrido, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) manifestou preocupaçÃo com relaçÃo às notícias que saíram nos últimos dias sobre o risco de rompimento da Usina Hidrelétrica Foz do Chapecó. Conforme uma nota enviada a imprensa “Em 2014, metade do muro central do vertedoura da barragem foi arrancado pelas cheias. Desde entÃo, o consórcio gestor, Foz do Chapecó (FCE), e o construtor, o Consórcio Volta Grande (CVG), tentam se eximir da responsabilidade”, cobram.Eles alegam que além dos impactos ambientais, sociais e culturais que a construçÃo dessa usina causou na regiÃo, as populações atingidas agora sÃo obrigadas a viver o risco de rompimento que atingirá os municípios à jusante da barragem. “Queremos evitar um futuro crime como o que ocorreu no rompimento da barragem de Mariana, no qual 19 pessoas foram mortas. No dia 5 de novembro de 2015, a barragem de FundÃo, de propriedade da Samarco (Vale/BHP Billiton), rompeu-se e despejou milhares de toneladas de rejeitos de minério no Rio Doce”, comparam.
Usina Foz do Chapecó defende que nÃo há riscos à segurança das comunidades
Nesta semana, representantes da Usina Foz do Chapecó estiveram em Palmitos, onde participaram de uma coletiva de imprensa sobre o assunto. Na ocasiÃo, reafirmaram que nÃo há motivos para a populaçÃo se preocupar, e que, ante o ocorrido, novos estudos de segurança estÃo sendo realizados para redobrar atençÃo a situaçÃo do muro com rachaduras. “O muro que nÃo tem nada a ver com o vertedouro, ou seja nÃo é estrutural. começou aparecer algumas trincas, e a gente discutiu o deveria ser feito em relaçÃo a isso. O mais sensato seria tirarmos esse muro, que pode ceder. Tem algum problema se ela ceder, nÃo. EntÃo definimos que deveríamos tirar.Essa trica ocorreu em final de maio e começo de junho.Foi realizado algumas melhorias no vertedouro. Nada a ver com o muro e sua trinca.Mas vamos fazer um acréscimo de mediçÃo, embora a construtora tenha garantido que a estrutura é totalmente estável, nós queremos ter segurança e entÃo aumentamos o monitoramento de estrutura e fizemos uma adiçÃo de drenos, sempre no sentido de tornar o empreendimento que é seguro, projetado para uma cheia que nunca irá ocorrer, mas tudo oque puder ser feito para melhorar a segurança, será feito”, informaram.Em nota, comunicada a imprensa regional, a barragem da Usina Foz do Chapecó reforçou que o fato nÃo apresenta riscos à segurança das comunidades, dos colaboradores que trabalham no local e à sua operaçÃo, critério fundamental do empreendimento. Disseram ainda que a Foz do Chapecó Energia (FCE), concessionária da hidrelétrica, realiza trabalhos periódicos de análise e monitoramento, desenvolvidos por especialistas, de modo a oferecer as condições adequadas de segurança da barragem, segundo a legislaçÃo vigente.
NOTA A IMPRENSA
Após a forte cheia de 2014, a maior nos últimos 25 anos e a primeira relevante desde o início da operaçÃo da usina, a FCE realizou alguns reparos e contratou consultor técnico independente, que nÃo apontou riscos imediatos à segurança da barragem.
Na ocasiÃo, a cheia provocou a queda parcial de um muro remanescente da época da construçÃo da usina, utilizado exclusivamente para ensecar o trecho do rio onde as obras foram realizadas. Hoje, este muro nÃo tem mais qualquer funçÃo – e nunca teve funçÃo estrutural – e nÃo traz riscos à segurança da populaçÃo e da hidrelétrica. Vale ressaltar que o relatório do consultor, em 2014, nÃo apontou a necessidade de remoçÃo da parte remanescente do muro.
Com base nas recomendações da junta, o Consórcio Construtor Volta Grande (CVG), responsável técnico pela construçÃo da usina e que detém o seu acervo técnico, concluiu a maior parte das obras previstas. Desta forma, a FCE tomou – e continua tomando – as providências necessárias para preservar a segurança do empreendimento, independentemente da questÃo de custo, que está em discussÃo separada e em fórum jurídico adequado.
Em maio de 2017, uma nova cheia gerou fissuras no muro remanescente citado acima. A junta de consultores da FCE e o CVG realizaram análises adicionais sobre o muro e concluíram pela sua remoçÃo, visando evitar a necessidade de manutenções futuras, e nÃo por questões estruturais. A retirada do muro será iniciada em setembro, fato este já comunicado às autoridades locais. Vale ressaltar mais uma vez que este muro nÃo tem qualquer funçÃo estrutural e sua remoçÃo nÃo traz risco à segurança da usina e da barragem.Sensível à importância da usina para as comunidades do seu entorno, a FCE se adiantou e já esclareceu às prefeituras, promotorias públicas, órgÃos reguladores e demais autoridades sobre as obras de melhoria executadas nos últimos meses. A FCE tem se mantido em contato permanente com os públicos envolvidos para prestar esclarecimentos adicionais.Desta forma, conforme as ações mencionadas, demonstra-se que a segurança das comunidades próximas à usina, bem como de seus colaboradores, é uma prioridade da FCE. Foram e continuam sendo tomadas as providências necessárias à segurança operativa do empreendimento, as quais sÃo comunicadas aos órgÃos de controle. A barragem está de acordo com rígidos padrões de segurança de operaçÃo e legislaçÃo vigentes, tendo sido projetada para suportar a pior cheia decamilenar (10 mil anos) do Rio Uruguai.A FCE dispõe das devidas licenças ambientais e de operaçÃo do empreendimento, além de adotar práticas de operaçÃo e gestÃo que superam as exigências da legislaçÃo. Um exemplo disso é a realizaçÃo de inspeções semestrais, enquanto a lei estabelece a necessidade de uma inspeçÃo por ano. Outra boa prática adotada é a de inspeções específicas em momentos extraordinários, como grandes cheias, medida nÃo prevista na lei.Assim, reforçamos o fato de que a barragem nÃo apresenta riscos à segurança das comunidades e continua em plena operaçÃo. A FCE permanece à disposiçÃo para quaisquer novos esclarecimentos.
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