Em junho, o transgênico completou 18 anos no Brasil. Ainda jovem, mas já consolidada, as sementes geneticamente modificadas vivem momentos de apoteose no mercado brasileiro, isso porque, em plena juventude, a biotecnologia já ocupa 90% das plantações.
Apesar desse sucesso, ela tem sido protagonista de polêmicas, que a levaram a justiça, devido às suspeitas sobre a sua real segurança no campo, tanto que, no início a tecnologia foi banida pelo Governo Brasileiro. Mas foi em 1998, que agricultores do Rio Grande do Sul lançaram ao solo as primeiras ‘maradonas’, nome carinhoso dado às primeiras sementes transgênicas de soja plantadas na época.
Até entÃo, apenas por vias ilegais, a transgenia chegava ao Brasil, mas a resistência do Governo durou até 2003, quando aLei 10.688/2003, do entÃo presidente Luiz Inácio Lula da Silva regularizou o plantio dos transgênicos no Brasil.
Para o coordenador do curso de Agronomia da Unochapecó, Luis Borsuk, a permissÃo do cultivo era o que faltava para que a aceitaçÃo fosse maciça entre os agricultores, pois a possibilidade de utilizar um herbicida que extermina as pragasinvasoras sem ter efeito nas plantas, trouxe praticidade e tranquilidade ao campo. “Todo mundo gosta de inovaçÃo, ainda mais aliado ao uso prático e de fácil manuseio. Isso resultou numa aceitaçÃo muito grande no meio agrícola”.
Aliada a uma proposta inovadora de aumentar a produtividade, baixar custos, diminuir o uso de agrotóxicos e ser resistente a pragas, a biotecnologia veio com uma inovaçÃo no ramo do agronegócio. Por outro lado, os orgânicos fazem oposiçÃo a tecnologia. Com um viés ecológico e de desenvolvimento sustentável, os pequenos agricultores familiares travam uma ‘luta’ no campo para manter viva a produçÃo dos alimentos orgânicos e das sementes crioulas.
Todavia, com o pouco incentivo das autoridades, o desenvolvimento dos produtos orgânicos vem em passos lentos, pois a nova tecnologia foi um “colírio aos olhos” dos agricultores e para o agronegócio. NÃo é para menos, pois o Brasil angariou pela quinta vez o segundo lugar no ranking dos maiores produtores mundiais de transgênicos.
Segundo uma organizaçÃo nÃo governamental norte-americana(Isaaa), o Brasil plantou em 2014, 42,2 milhões de hectares de transgênicos, e fica atrás apenas dos Estados Unidos, com 73,1 milhões de hectares. Em terceiro, a Argentina com 24,3 milhões de hectares.
Transgênicos sÃo organismos vivos modificados em laboratório. O código genético de uma espécie é alterado pela introduçÃo de uma ou mais sequências de genes provenientes de outra espécie. A geraçÃo de transgênicos visa obter organismos com características de interesse que o organismo original nÃo apresentava, como a resistência a herbicidas ou a produçÃo de toxinas contra pragas das culturas agrícolas.
Na natureza, esse processo nÃo ocorre, pois diferentes espécies nÃo se cruzam, mas cientistas criaram um processo de transferência artificial de genes. A professora e bióloga do curso de Agronomia da Unochapecó, Sandra Salazar explica que os resultados na área de transgenia sÃo alcançadas desde a década de 1970, quando foi desenvolvida a técnica do DNA recombinante. “A manipulaçÃo genética combina características de um ou mais organismos. Assim podem ser combinados os DNA’s de organismos que nÃo se cruzariam por métodos naturais”.
No melhoramento vegetal, que visa obtençÃo de cultivares de plantas mais produtivas, melhor adaptadas e resistentes a doenças e insetos, o transgênico é vistocomo uma ferramenta importante, pois ela pode acelerar o processo para obtençÃo de novas cultivares.
Segundo Sandra, a transgenia pode ser utilizada para obtençÃo de plantas resistentes a doenças, insetos e pragas tolerantes a estresses ambientais. “Com valor nutricional aumentado e com amadurecimento lento, a biotecnologia aumenta a vida útil de prateleira de frutos e flores, contribuindo assim para menor perda por apodrecimento”, acrescenta.
Na entrevista, o professor explica que esse universo envolve medo, incertezas e apreços, como o valor da vida. “Entendo perfeitamente o lado dessas pessoas que sÃo contra e acredito que nÃo poderíamos ser tÃo apressadas em relaçÃo a certos produtos. Porém, as razões de quem cultiva sÃo muito claras e tem os números para comprovar, mas isso nÃo quer dizer que eles ignoram os riscos. Vivemos em um sistema onde as coisas sÃo imediatas”.
Ele acredita que ostestes de periculosidades desses produtos sÃo incipientes, pois o debate em questÃo é muito mais sério do que se pensa. “Isso é muito diferente do que implantar uma fábrica, ou refinaria de petróleo, nós estamos disseminando genes, toxinas, proteínas em milhões de hectares de terra”.
Sandra concorda que o assunto está longe de entrar em um consenso. Para ela, as dúvidas e receios em relaçÃo ao uso de variedades transgênicas persistem principalmente em relaçÃo àquelas que têm inseridos em seu código genético, genes que conferem resistência a insetos e a herbicidas. “Isto ocorre porque o uso contínuo destas variedades ocasiona, além de outras interferências no ambiente, seleçÃo de populaçÃo de insetos e plantas daninhas resistentes” explica.
A doutora em Agronomia ressalta que as grandes descobertas da ciência sempre geram polêmica. Ela acrescenta que a questÃo primordial nÃo é ir contra os avanços tecnológicos apenas por questões ideológicas, afinal, em muitas descobertas, como por exemplo, a energia elétrica e nuclear é notória suas benéficas aplicações e seu enorme potencial destrutivo. Trata-se, portanto, de como se utiliza as novas tecnologias que geram novas possibilidades, pois o problema nÃo é a tecnologia, mas que uso se faz dela.
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Para manter 100% o produto orgânico, os produtores sofrem com um impasse: a contaminaçÃo pelo vento das cultivarias transgênicas. “Os camponeses precisam colocar barreiras vegetais para evitar a contaminaçÃo, pode ser arbustos ou até árvores que possam proteger do pólen que possa vir das propriedades vizinhas”. Para Silva, deveria ser o oposto, pois quem deveria fazer essa açÃo preventiva é quem contamina e nÃo quem protege.
Em Palmitos, o presidente da Cooper D’água, Ari Dutel também tem travado uma luta contra as sementes geneticamente modificadas. Dutel diz que essa questÃo preocupa muito os pequenos agricultores, responsáveis pelos alimentos dos brasileiros. “Nós estamos vinculados a uma central com 21 cooperativas e nós estamos preocupados com a exclusÃo do pequeno agricultor. Isso veio devido a esse pacote do capitalismo”.
Ele acrescenta que as cooperativas estÃo engajadas para garantir a segurança alimentar e nutricional dentro das escolas. “NÃo é possível que o Estado adquira o alimento até fora do país, sabendo que a agricultura familiar, se tivesse uma valorizaçÃo e uma assistência técnica qualificada, seria capaz de produzir para essas instituições”.
Como forma de trazer práticas culturais dos antepassados, a cooperativa em parceria com o Sindicato de Produtores Rurais de Palmitos está buscando as sementes crioulas. “Nós achávamos que as sementes tradicionais tinham se acabado, mas aos poucos estamos coletando com as pessoas mais antigas essas sementes, que hoje sÃo uma raridade”, comenta.
Outra preocupaçÃo apontada pelos sindicalistas foi o uso excessivo do agrotóxico na produçÃo agrícola, o que tem prejudicado a saúde do agricultor como também das nascentes de água. “Precisamos desintoxicar nossa área de terra, isso nÃo é momentâneo, isso deve levar entre uma a duas décadas. Mas para chegar até isso precisamos dar comida para ela, com a produçÃo de orgânicos e a adubaçÃo verde”, acrescenta o presidente da Cooper D’água.
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Há oito anos, a regiÃo Oeste Catarinense enfrentava problemas com pragas e controle de ervas daninhas. Naquela época surgiram as primeiras cultivares resistentes a pragas. “Foi um grande salto na época na questÃo de produtividade que tivemos. Claro que nem todos aderiram à tecnologia”, explica o engenheiro Agrônomo, Santo Tumeleiro.
Os custos eram maiores e isso se acentuou a partir do terceiro e quarto ano, período esse de introduçÃo das sementes geneticamente modificadas. “Se olharmos na questÃo de produtividade e de ganhos, nós saímos de níveis de produtividade menores e atingimos níveis de produtividade maiores. Nesse aspecto a biotecnologia teve a sua contribuiçÃo com os agricultores, tanto das pequenas e médias propriedades” afirma.
Tumeleiro vê ganhos e perdas sobre a diminuiçÃo de herbicidas e inseticidas. Por exemplo, pragas que uma vez nÃo eram muito importantes, hoje sÃo protagonistas. “Agora precisamos de produtos que façam esse controle das ervas daninhas e das pragas, pois elas se readaptaram a essa tecnologia”. Ele afirma, que hoje a aplicaçÃo do defensivo vem numa mesma proporçÃo, do que antes do advento da biotecnologia. “A demanda praticamente se igualou”.
Os produtores da regiÃo Oeste saíram de produtividades de 4,5 a 5 mil quilos, para produtividades de 10 a 12 mil quilos por hectare. Para chegar a isso, o modo de se relacionar com a terra e com a tecnologia mudou. “Precisamos ter o bom senso que isso nÃo parte apenas da transgenia, pois melhoramos os processos de recuperaçÃo do solo. Temos sementes que nÃo sÃo modificadas e tem o mesmo índice de produçÃo que a transgênicas. O que parte aí, é como o agricultor utiliza essa tecnologia”.
Sobre as pesquisas que afirmam o aumento do uso dos venenos no Brasil, Tumeleiro aponta uma razÃo. Para ele, no país, a área produtiva está numa regiÃo tropical. Os processos acontecem o ano inteiro, diferente de regiões produtoras da América do Norte e da Europa. “Lá tem uma cultura, num período de quatro a cinco meses, com um inverno rigoroso, o que impossibilita a produçÃo nessa intensidade como acontece no Brasil. É óbvio que teremos uma intensidade de defensivos no processo agrícola”, esclarece.
Entretanto, o engenheiro agrônomo nÃo vê as novas tecnologias com muita paixÃo, e crítica as futuras tecnologias que estÃo sendo desenvolvidas. Por exemplo, ele nÃo é favor que o milho seja toleranteao glifosato. NÃo é favorável também a nova geraçÃo da biotecnologia de soja (Intacta RR2), pois é necessário entrar com outros inseticidas para controle das pragas. “NÃo temos uma tecnologia que seja 100% segura contra pragas e ervas daninhas”.
A soja produzida na regiÃo Oeste é 100% transgênica, já o milho 95% é transgênica. “Mas existe espaço para os produtores que querem voltar a plantar os milhos convencionais. Até olhando a reduçÃo do custo de produçÃo”, acrescenta Tumeleiro.
Apesar desses pontos falhos, ele nÃo descarta a eficiência e a evoluçÃo da produçÃo de transgênicos. “Nós duplicamos a produçÃo brasileira, tanto de milho como de soja”. O bom senso, segundo o profissional, é essencial quando o assunto é transgenia, pois a nova tecnologia contribuiu no combate a fome no mundo, devido ao volume a mais de alimentos que vem sendo produzidos.
Para chegar até a propriedade do agricultor Nédio Meazza no município de Caibi, foi preciso percorrer 29 quilômetros de estrada de chÃo. Lá, o camponês mora com o pai, filha e esposa. O homem foi o único dos irmÃos que quis dar continuidade aos trabalhos do pai. A família cultiva em 110 hectares a cultura de milho e soja transgênica. Dividida em lotes, o agricultor com a cultura de milho já colheu 200 sacas por hectare e com a soja 60 sacas por hectare.
Segundo Nédio, a produtividade de uma safra depende do espaço, da qualidade da terra e do clima. A nova tecnologia foi apresentada ao agricultor há aproximadamente 10 anos, por meio da cooperativa da cidade que trouxe as empresas fornecedoras da semente. “Começamos aos pouquinhos como teste e hoje plantamos praticamente 100% da produçÃo na propriedade, só deixamos um espaço para área de refúgio para sementes convencionais”.
Ele admite que gostou das sementes transgênicas, pois agora utiliza menos agrotóxicos na plantaçÃo. “Em cada aplicaçÃo que é feita vai 200 litros de água e hoje você faz de uma ou duas aplicações por plantio”. Nédio faz um contraponto com as sementes convencionais. “Tinha muito veneno para aplicar e produzia pouco, tinha muita praga e insetos e nÃo tínhamos resultados bons. Começamos a trocar e estamos avançando”.
O agricultor paga pela transgenia o valor aproximado entre R$ 500 a R$ 600. Ele garante que depois que usou o novo método, a sua produçÃo aumentou 40%. “Melhoramos nossa qualidade de vida e temos um lucro maior com os transgênicos. Hoje nÃo dá para ficar sem a tecnologia, toda vez que saí uma nova variedade tem que testar e ver como ela se comporta para depois usar. Voltar para trás nÃo tem mais como, tem que ir pra frente”, acrescenta.
Foi por meio de programas de rádio e TV que o agricultor Marino Scheffler soube das sementes geneticamente modificadas. O primeiro contato aconteceu em 2010, quando a cooperativa da cidade de Palmitos trouxe até a propriedade as primeiras cultivares. “Eu escutava que o transgênico nÃo fazia mal as pessoas, a partir daí optei por plantar a transgenia”, afirma o agricultor.
Scheffler é considerado um pequeno agricultor, e cultiva transgênicos em 21 hectares no interior de Palmitos, mais precisamente na Linha Barra do Palmitos. Lá ele mora com a sua esposa Edila Scheffler. Cria alguns suínos e algumas vacas de leite para consumo próprio.
O pequeno agricultor nÃo poupa elogios para as sementes e ressalta alguns dos benefícios que contatou com a transgenia, como o controle das ervas daninhas. Mas ele admite que ainda usa defensivos agrícolas para o controle de pragas.Quando questionado sobre os níveis de produtividade da propriedade, o agricultor destaca que aumentaram, saindo de 100 sacas por hectare com as sementes convencionais, para 150 sacas por hectare com as sementes geneticamente modificadas. “Tudo depende do tempo também, nos últimos anos ele tem prejudicado um pouco, mas estou muito satisfeito”.
Há quem diga que a biotecnologia originou as superpragas mais resistentes a herbicidas e inseticidas, ou seja, pragas superdotadas capazes de resistir aos avanços da tecnologia.
Borsuk desmente essa hipótese, pois uma mutaçÃo leva milhares de anos para acontecer na natureza. No caso específico dos transgênicos, o que ocorre é que uma praga que é resiste é capaz de multiplicar-se, criando outras capazes de terem a mesma resistência. “NÃo é transgenia que cria as superpragas, e sim o uso inadequado da tecnologia”, afirma.
Por isso que as empresas na hora da venda aconselham os produtores a plantar ao redor da plantaçÃo a área de refúgio, que é o milho nÃo transgênico. Segundo o professor, essa ideia é para garantir uma maior diversidade de pragas, uma frequência de pragas sensíveis aos mecanismos da transgenia e a regularidade das lagartas tolerantes seja baixa. “É uma forma de prolongar a vida útil da tecnologia”.
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Abelha, um agente imprescindível para perpetuaçÃo das espécies vegetais, elas sÃo responsáveis por 90% da polinizaçÃo de plantas no planeta terra. A sua mortalidade, ou a sua extinçÃo acarretaria em um desequilíbrio ambiental, que poderia levar ao desaparecimento da raça humana.
Para investigar esse campo e abrir portas para novos estudos na área, a engenheira agrônoma, professora do curso de Agronomia e doutoranda pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Lucilene Abreu estuda o efeito do pólen do milho transgênico no desenvolvimento de abelhas Apis mellifera, ou abelha com ferrÃo. Nos quatro anos de estudo, Lucilene constatou que o pólen de milho transgênico interfere no desenvolvimento de abelhas.
Ela analisou a variável do ciclo das abelhas, utilizando duas variedades de milho transgênico e uma variedade convencional. A partir daí alimentou na colmeia as larvas para ver se interferia ou nÃo no desenvolvimento. Segundo Lucilene houve uma diminuiçÃo de larvas na colmeia. “O ciclo de desenvolvimento de uma abelha dura 21 dias, a fase de ovo dura três dias e a de larva seis dias, nessa fase você via a remoçÃo de larvas da colmeia e a rainha fazendo novamente postura, consequentemente atrasando o ciclo das abelhas”.
A doutoranda admite que ficou surpresa com o resultado, pois todas as literaturas que leu sobre o assunto diziam que o pólen de milho transgênico nÃo interferia no processo larval. “Isso é um dado novo, nÃo tenho notícia de outras pesquisas que sejam feitas em colmeias e estejam acontecendo com pólen de transgênicos, e o que é feito em laboratório nada significa”.
Os estudos apontaram outra anormalidade envolvendo o comportamento higiênico das abelhas. “As abelhas quando encontram algo diferente dentro da colmeia, retiram de imediato. Pode ser algum ser morto, um ácaro ou qualquer coisa que nÃo seja larva, ela retira daquele espaço”, explica Lucilene. Ela constatou nessa observaçÃo que as abelhas apresentaram alteraçÃo no comportamento higiênico, ou seja, alguma coisa aconteceu que deixou a abelha meio “zonza”, deixando de fazer a limpeza do favo. Quando essa limpeza nÃo acontece, toda a rotina dentro da colmeia é alterada.
De acordo com a professora, nesse processo, a rainha nÃo consegue fazer postura, havendo um desequilíbrio dentro da colmeia, e para o meio científico isso é grave, pois nÃo há a produçÃo de novas larvas dentro da célula.
No entanto, ao questionar o agricultor Meazza, que possui sete colmeias em sua propriedade, ele conta que nÃo teve nenhuma alteraçÃo nos 10 anos que cultiva os transgênicos. A professora acredita que o produtor nunca tenha percebido isso, pois apicultores da regiÃo estÃo relatando uma grande mortalidade de abelhas nas colmeias. “Por ter as colmeias apenas para subsistência, acredito que esse agricultor nÃo tenha percebido esse fator”, afirma.
Quando questionada sobre o quÃo prejudicial é essa constataçÃo, ela afirma que já é sabido que se as abelhas desaparecerem, a humanidade vai se extinguir. Ela acrescenta que a tendência é a perda de muitos materiais vegetais, e se isso se concretizar a humanidade está com risco de extinçÃo também, pois nÃo teríamos com o que se alimentar.Após esse estudo e das leituras que acumulou, a engenheira agrônoma contesta algumas das propostas dos transgênicos.
Sobre a diminuiçÃo do uso de agrotóxico, Lucilene destaca o aumento do uso desse produto nas últimas safras brasileiras. Já sobre o aumento da produtividade, ela também afirma que essa hipótese nÃo se confirmou. “Ela nÃo confirmou a primeira proposta que ela veio, que era essa diminuiçÃo de agrotóxico. Isso você encontra em qualquer literatura que você levantar. Ela também veio sanar um gargalo agronômico de aumentar a produtividade, nÃo é isso que estamos vendo ano após ano”.
Eis uma questÃo que ainda é uma incógnita para o mundo cientifico. O caso Séralini ganhou espaço na mídia nos últimos anos, após a equipe do cientista constatar que o milho transgênico da Monsanto causou câncer em ratos, contrapondo todos os outros estudos que até entÃo diziam que a biotecnologia era segura. Após ser publicado em uma revista cientifica, o artigo saiu do ar por apresentar erros.
Na pesquisa, Séralini constatou que os ratos apresentaram câncer, duas e três vezes mais que o grupo de controle e um índice de mortalidade duas a três vezes maiores em fêmeas. Esse dado deixou a comunidade cientifica desconfortável, pois a maioria dos cientistas até entÃo respaldava a segurança alimentar dos transgênicos.
“Curiosamente depois de um tempo o corpo editorial da revista, que recém tinha contratado um ex-funcionário da Monsanto acaba por retirar o artigo. Eles fizeram uma retrataçÃo dizendo que o trabalho foi mal conduzido, a amostragem era inadequada, enfim, que havia várias incorreções na pesquisa”, acrescenta o professor de Ciências Biológicas e mestre em genética e biologia molecular, Marcos Vinicius Perini.
No Brasil, a ComissÃo Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) responsável pelo controle da comercializaçÃo e produçÃo de transgênicos no país, também comentou que a pesquisa do Séralini nÃo foi bem conduzida. “O tempo passou, e Séralini ficou no esquecimento, e as pesquisas posteriores mostraram que houve uma atitude suspeita por parte da comunidade científica com relaçÃo a retirada do artigo da revista, sem ao menos os dados deste cientista serem melhores avaliados, por estudos mais completos”.
No entanto, a comunidade europeia ficou preocupada com os dados obtidos e por segurança continua com os estudos de Séralini. Segundo o professor, eles devem ser concluídos nos próximos anos. “Eles devem trabalhar o estudo com um número maior de roedores, com um controle maior de variáveis, ou seja, uma pesquisa com mais critérios para que os resultados sejam conclusivos”.
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Quem acha que aplicaçÃo da transgenia se resume apenas na produçÃo vegetal, está muito enganado. Na área farmacêutica, sua aplicaçÃo vem sendo feita desde a década de 80 com a produçÃo da insulina. Vital para o corpo humano, ela é um bem para os diabéticos que nÃo produzem mais essa substância no corpo.
Fabricada a partir de bactérias transgênicas, o método utilizado introduziu o gene humano da insulina dentro do genoma da bactéria, para que a partir disso, a mesma fosse estimulada a produzir o hormônio. “Nesse sentido, foi uma experiência da transgenia muito válida, que até hoje é utilizada, e nÃo tem aquela polêmica que conhecemos envolvendo a agro transgenia”, comenta Perini.
Além da insulina, a área farmacêutica produziu hormônios do crescimento. Ela serve para crianças que sofrem de distúrbios de crescimento na infância. O hormônio de crescimento, obtido de bactérias transgênica, e pode ser administrado via intramuscular, fazendo com que os ossos da criança cresçam durante o sono.
Hemoderivados também sÃo produzidas através de genes humanos transferidos para a bactéria ou outros organismos geneticamente modificados. SÃo medicamentos derivados do sangue, mais especificamente do plasma contido no fluído, e servem para o tratamento de doenças graves do sangue, como a hemofilia.
Perini ressalta outra evoluçÃo da área farmacêutica com relaçÃo aos transplantes. Segundo ele, um dos problemas que ocorre quando o órgÃo de uma pessoa é colocado em outro é a rejeiçÃo. “Cada um tem a sua constituiçÃo genética e produz as suas proteínas, coisa que o corpo reconhece, por isso das rejeições”.
Para evitar esse tipo de problema está se pensando nos xenotransplantes, ou seja, transplante de órgÃos entre diferentes espécies e a produçÃo de órgÃos in vitro. “Futuramente será possível criar órgÃos em laboratórios com características genéticas do receptor”,
Nessa área pode-se falar também das vacinas de RNA resultantes da biotecnologia e da engenharia genética. “As aplicações sÃo vastas na área da saúde, cada vez avançamos mais na utilizaçÃo de produtos vindo da biotecnologia”, destaca.
O professor ressalta que o Brasil peca, quando liberou a comercializaçÃo do eucalipto transgênico, pois a árvore tem maior interferência na cadeia ecológica. Principalmente, quando se fala das abelhas e da produçÃo do mel.
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Qualidade versus quantidade, orgânicos versus transgênicos, extremos presentes em um debate que tem pouca participaçÃo da populaçÃo, ou quase nenhuma. O professor de Genética, Marcos Perini vê a necessidade de desmistificar a ideia que produtos transgênicos sÃo maus. “É um conhecimento científico válido que gerou anos de estudo”.
Ele acredita que é necessário separar o que é mito e o que é verdade, por isso da educaçÃo cientifica da populaçÃo brasileira, deixando-a a par dos estudos que estÃo sendo realizados. Para que a partir daí, a sociedade participe do debate e perceba o que é bom e ruim para ela. “Dizer que os transgênicos sÃo ruins nÃo é válido, mas dizer que é a soluçÃo, também é um mito”, afirma.
A discussÃo ainda está no campo acadêmico e das empresas, e para Perini é preciso retirar esse debate desses locais e transportá-los para as prefeituras, câmaras de vereadores e escolas. “Assim a participaçÃo será efetiva, pois a sociedade precisa consumir com mais segurança e acompanhar a legislaçÃo com mais cuidado”.
Todos os especialistas e produtores rurais entrevistados nessa reportagem acreditam que os transgênicos sÃo um caminho sem volta, principalmente pelo enraizamento e consolidaçÃo no Agronegócio Brasileiro. Mas realmente é um caminho sem volta? Essa resposta virá com o avanço dos estudos na área.
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