Home "Todos atrás de mim morreram", lembra motorista que sobreviveu ao acidente na BR-376

"Todos atrás de mim morreram", lembra motorista que sobreviveu ao acidente na BR-376

Última atualização 11 de novembro de 2012 - 16:39:51

O hábito de sempre olhar pelo espelho retrovisor enquanto dirige salvou a vida do chefe de vendas Carlos Roberto Geisel, 41 anos, que mora em Curitiba. Ele diz ter certeza disso, ainda que não saiba o que o levou a fazer jus ao costume em uma fila na BR-376, na quinta-feira. Ele foi um dos sobrevivemntes doacidente que matou sete pessoas entre Santa Catarina eParaná.

— Quero acreditar que foi Deus. Mas não sei se foi a minha experiência em viajar —, conta Carlos, que faz o trajeto Curitiba-Blumenau a cada 15 dias e conhece os perigos da região do km 674.

Foi pelo retrovisor que Carlos viu, descendo a serra em alta velocidade, o caminhão que causou o acidente que matou sete pessoas. A cena foi suficiente para que ele se precavesse, engatando a primeira marcha e apertando o acelerador.

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— Vi o caminhão descendo e pensei: 'se ele continuar, subo no gramado'. Não deu tempo. Até hoje, não sei o que bateu na minha traseira —, diz. Carlos arrancou, mas o Gol foi atingido — ele imagina pela carroceria da Mitsubishi, o primeiro veículo em que o caminhão bateu.

O carro capotou até se equilibrar sobre a porta do motorista. Ao se soltar do cinto, Carlos se viu cercado de fogo e sem escape fácil. Subiu no volante e fez um esforço de que nem sabia ser capaz para abrir a porta do carona. Ao cair no canteiro que separa as pistas, viu corpos no chão e queimando _ pessoas que estavam atrás dele na fila. Aí se deu conta da gravidade do acidente.

— Foi o mais parecido com uma guerra que eu poderia ver na vida.

Não ouviu pedidos de ajuda, o que o faz pensar que as vítimas morreram na hora. O instinto foi correr para longe, temendo que mais carros surgissem. Depois, ficou ao lado do Gol, para evitar saques. Quis tirar os documentos do carro, mas foi impedido por socorristas. Quando o fogo foi contido, recolheu celular, documentos e a mala.

Telefonou a cobrar para a família e pediu para que a mulher, grávida de sete meses, não fosse informada enquanto ele não chegasse em casa. Enquanto esperava que o Gol fosse recolhido, Carlos conta que conversou brevemente com o caminhoneiro, preso em flagrante.

— Não falava coisa com coisa, estava transtornado. Só depois me disseram quem era —, disse.

Avalia que o homem poderia ter evitado tantas mortes, mas não o incrimina.

— Não podemos julgar sem saber. Imprudência no trãnsito mata mesmo. E me coloco no lugar de quem perdeu entes queridos. Ninguém merece morrer daquela forma.

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