Em nenhum outro estado do Brasil as lojas venderam tantas armas, na proporção com a população, como este ano em Santa Catarina. Os números do setor são tão altos que o ano passado superou 2002, quando vigorava lei anterior ao Estatuto do Desarmamento, bem menos restritiva.
Por que o catarinense é recordista de compra de armas no país?
Você tem armas em casa?
Mais que uma estatística, o crescimento na comercialização de pistolas, revólveres e espingardas mostra uma mudança de comportamento provocada pelo aumento na sensação de insegurança, que tem a elevação dos índices de criminalidade como causa.
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Entrevista: Aumento de compra de armas por civis é reflexo da fragilidade do Estado em garantir proteção, diz especialista
O primeiro item a sustentar este raciocínio é que a expansão nas vendas ocorre mesmo com uma legislação mais rigorosa, que proíbe civis saírem às ruas armados e exige uma série de cursos, ressalta o presidente da Comissão de Segurança, Criminalidade e de Violência Pública da OAB-SC, Henrique Gualberto Bruggemann. Mas desde 2002, os indicadores e a percepção de segurança de Santa Catarina mudaram bastante. Naquela época não havia Ônibus incendiado por ordem de presos e o número de homicídios era menor. Em 2002, foram 381 assassinatos, enquanto no ano passado ocorreram 737 – alta de 93,4%. O comportamento humano também explica em parte o aumento de 42,8% nas vendas de revólveres, pistolas e espingardas neste período.
Segundo o sociólogo Guaracy Mingard, a primeira opção de quem se sente ameaçado é comprar um arma. Este sentimento de insegurança, no entanto, não está ligado somente às estatísticas. Tem mais relação com as informações sobre violência consumidas pelas pessoas.
O criminalista e professor da Univali, Sandro Sell, declara que existe uma arquitetura do medo, na qual é vendida a ideia de que você pode resolver esse problema individualmente. Tal mensagem é muito para a classe média. Para ela, como o Estado está falido, o jeito é você próprio voltar a assumir a defesa de sua vida e de seu patrimÔnio.
Além disso, o aumento no comércio de armas experimentado agora contrasta com o comportamento verificado na metade da década passada. As vendas do setor caíram por influência do Estatuto do Desarmamento, em vigor desde dezembro de 2003, época em que os catarinenses compraram 2,8 mil armas.
No caminho inverso
Henrique Gualberto Bruggemann lembra que a implantação da nova lei foi cercada pela forte campanha de defesa da entrega de armas de fogo. Em 2004, houve brutal redução no comércio, que fechou o ano com 321 armas comercializadas em SC. Mas o desarmamento sofreu um revés em 2005, quando 64% da população decidiram em plebiscito não aceitar o dispositivo que proibia a venda de armas e munições no país. A partir deste ponto, as propagandas a favor do desarmamento diminuíram e o aumento nas vendas foi contínuo até a explosão ocorrida de 2008 para 2009. Neste intervalo, o número comercializado em SC mais que dobrou – de 719 para 1,5 mil.
Bruggemann acredita que a alta na comercialização de armas vai se manter por mais alguns anos. No ano passado, foram 3,9 mil vendas, resultado superior ao de 2002. Ele ressalta que o momento atual é completamente diferente. Em meados da década passada a opinião pública discutia não vender mais armas. Agora o assunto mais debatido na segurança pública é a redução da maioridade penal. Para o especialista, o crescimento se sustenta mais alguns anos e o setor se estabiliza.
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