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Restos mortais encontrados em Buenos Aires são de mulher catarinense

Última atualização 23 de dezembro de 2012 - 23:41:01

Exames de DNA confirmaram que os restos mortais encontrados sob o assoalho de um apartamento no centro de Buenos Aires são da catarinense Edy Therezinha Pereira da Silva – que hoje estaria com 58 anos. Ela morava ali com o segundo marido, o argentino Manoel Jorge Gonçalvez, aposentado que conheceu em Balneário Camboriú no início dos anos 1990. Edy era procurada pela família desde 15 de janeiro de 1998, dia do último telefonema ao Brasil. O apartamento na Avenida Corrientes não pertence mais à família de Gonçalvez. Em abril, durante uma reforma, pedreiros encontraram a ossada. Estava sob o piso de um dos quartos, enrolada em um lençol, ao lado do documento de identidade de Edy. Na época, os dois filhos da catarinense foram até Buenos Aires para o exame de DNA – seis meses depois, o resultado deu positivo. A polícia argentina não fala sobre o assunto. Segundo reportagem do Fantástico, na TV Globo, a maioria dos vizinhos morreu ou não mora mais no prédio. O que se fala é que o marido a mantinha presa dentro de casa e que Edy encontrava a liberdade ao piano – na Argentina, a história ficou conhecida como “O Caso da Pianista”. Na época do desaparecimento, Gonçalvez depÔs. Hoje, ninguém sabe o seu paradeiro. O filho dele, Fernando, relatou à polícia que ele teria morrido de uma pneumonia em 2001 e enterrado em uma vala comum, sem possibilidade de reconhecimento do corpo. Surge, então, um novo mistério: Gonçalves está mesmo morto ou tenta se esconder da polícia? Suspeita de golpe e burocracia A Polícia Federal brasileira acompanha o caso. Ildo Gasparetto, representante da PF na Argentina, explicou que mantém contato com as polícias, promotores e juízes. Ele teve acesso a apenas uma parte do processo, que correu em segredo de Justiça, mas pela qual já se consegue fazer uma análise do crime. Em 1994, dois anos depois de conhecer o Manuel Gonçalves, Edy assinou uma procuração que dava plenos poderes ao marido. Nesse mesmo ano, o filho do argentino vendeu um apartamento em Balneário Camboriú para a catarinense. Um mês após o desaparecimento de Edy, em fevereiro de 1998, Gonçalves voltou a SC, vendeu o apartamento e zerou as contas bancárias da mulher. – Há evidências de que Gonçalvez planejava um golpe – diz Gasparetto. Emi Manini, 81 anos, uma tia de Edy que mora em Joinville, conta que a sobrinha era herdeira de um executivo de Itajaí e tinha uma vida confortável. Dividia o tempo entre aulas e viagens. Apesar de já estar confirmado que os restos mortais são mesmo da catarinense, ainda não há previsão para a liberação à família. A PF informa que o processo burocrático nesses casos é lento. Segundo o filho mais velho de Edy, eles esperam um documento oficial do consulado brasileiro na Argentina para a emissão do atestado de óbito. Para o transporte até o Brasil, a ossada de Edy deverá ser cremada em Buenos Aires. Magreza nas fotos Depois do desaparecimento da mãe, o filho mais velho de Edy recorria às fotografias e cartas enviadas por ela da Argentina, e o último retrato passou a chamar mais a atenção. Ela estava muito mais magra e o filho se perguntava se a mãe estaria doente ou passando por algum problema no casamento. A relação dele com o padrasto não era das mais amigáveis. Encontravam-se nas férias, quando a mãe voltava de Buenos Aires para o verão no litoral catarinense. – Ele era muito grande e falava com uma entonação que às vezes eu não entendia. Tinha de receio dele – contou. O filho de Edy aceitou falar ao Fantástico com a exigência de que não fosse revelada a sua identidade, nem ao menos a cidade onde mora. Disse que conversou com a mãe pela última vez no dia 15 de janeiro de 1998. Havia telefonado para contar sobre a aprovação no vestibular e combinar uma viagem para conhecer Buenos Aires. Emi Manini Tia da catarinense “Acho que nunca teremos resposta” Depois de perder os pais em um acidente de trãnsito na BR-101, aos 22 anos, a catarinense Edy Therezinha Pereira da Silva adotou como mãe Emi Manini – a tia que mora em Joinville, no Norte do Estado. Emi tem 81 anos e passou os últimos 14 em busca de notícias. Ela lembra da sobrinha como uma moça vaidosa, que não saía do quarto sem estar maquiada, que gostava de viajar e tocava piano como poucos. Mesmo diante de um mistério, tia Emi não espera por mais respostas. Seu último desejo é conseguir depositar os restos mortais da sobrinha no mesmo cemitério onde estão os pais de Edy. Para a família, esse será o desfecho do caso. Diário Catarinense – Como a senhora soube que a sua sobrinha estava morta? Emi Manini – Foi a polícia quem me ligou. Era quase meia-noite. Dei um grito, passei mal, pensei até que fosse morrer. Foram 14 anos de buscas. Nunca me conformei com o desaparecimento. Durante todo esse tempo eu percorri o mundo. Disseram que ela estava no Rio de Janeiro, e eu fui; em Porto Alegre, e eu também fui; voltei à Argentina várias vezes. Emagreci 21 quilos, fui parar no hospital. Sempre pensei que conseguiria encontrar a minha sobrinha viva. Passava noites em claro pensando se ela estava passando fome, frio, internada em um hospício. Cheguei a achar que ela pudesse ter perdido a memória. DC – Como era a relação da sua sobrinha com o marido argentino dela? Emi – Eles pareciam muito felizes, gostavam de viajar, de se divertir. Na nossa frente, pelo menos, ele tratava a Edy muito bem. Eu nunca percebi nada estranho. Falava por telefone quase que todos os dias com ela e a Edy nunca comentou que estivesse acontecendo alguma coisa errada no casamento. Depois que ela desapareceu, ele chegou a me visitar em Joinville. Para mim, a morte da minha sobrinha será sempre um mistério. Não quero acreditar que ele a tenha matado e também não posso afirmar nada. Se fizer isso poderei estar cometendo uma grande injustiça. Acho que nunca teremos resposta. DC – Quais eram as explicações de Manuel Jorge Gonçalvez sobre o desaparecimento de Edy? Emi – Ele disse que a Edy tinha ido embora de casa só com a roupa do corpo. Mas esperava que ela voltasse. Ele dizia ainda que ela tinha de voltar porque era a paixão da vida dele. Não sabia explicar o que tinha acontecido. DC – A senhora continuará em busca de respostas sobre a morte da sua sobrinha? Emi – Nossa vida nunca mais será a mesma depois dessa confirmação feita pela polícia. Não teremos festa de Natal nem de Ano-Novo. Estamos todos muito abalados. A única coisa que eu quero agora é poder sepultar a minha sobrinha no mesmo cemitério onde estão os pais dela, aqui em Joinville. E isso eu sei que vou conseguir. A partir desse dia o caso, para a minha família, estará encerrado.

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