Na quarta-feira passada o Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) concluiu as investigações da Operação Leite Adulterado III, que investiga 11 empresas suspeitas de envolvimento com fraudes no leite e prendeu 16 pessoas. Foi a terceira grande operação contra adulteração de leite desempenha pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), na região Oeste catarinense e cidades do Rio Grande do Sul. Em agosto o Gaeco já havia deflagrado as Operações “Leite Adulterado I e II”, que indiciou 48 pessoas, e envolveu empresas de Mondaí/SC e Lajeado/RS.
No último dia 20, na operação Leite Adulterado III, mais 16 pessoas foram presas. Os envolvidos são acusados de adulterar o leite com soda cáustica, citrato de sódio e água, no intuito de burlar análises para conseguir comercializar o produto de baixa qualidade. Na terceira operação são investigadas as empresas: Cordilat /SC Foods, de Cordilheira Alta/SC; Master Milk, de Iraí/RS; Laticínios Oeste Lat, de Coronel Freitas/SC; Agro Estrela, de Coronel Freitas/SC, Transportes Irmãos Gris, de Formosa do Sul/SC; Cooperativa Agropecuária e de Leite Milkfor, de Formosa do Sul/SC; GD Transportes, de Formosa do Sul/SC; Transportes Douglas, de Formosa do Sul/SC; Laticínios Santa Terezinha, de Santa Terezinha do Progresso/SC; Laticínios São Bernardino, de São Bernardino/SC e Cooperativa Coopleforsul, de Formosa do Sul/SC.
A investigação criminal apurou, ainda, que as empresas são laticínios e transportadoras que vendiam o leite cru, in natura, para as empresas Danone (Amparo-SP), Szurra (Candoi-PR), Sheffa (Amparo-SP), Bell (Herculãndia-SP), G.O.P. Alimentos do Brasil/Arbralat (Toledo-PR) e Terra Viva/CooperOeste (São Miguel do Oeste-SC). As empresas investigadas também produziam queijos das marcas Cordilat, Boa Vista, São Domingos, Anita e Monte Claro.
O Ministério Público já informou que as empresas compradoras não tem responsabilidade criminal e podem ser citadas como vítimas, já que a adição de produtos químicos tinha por objetivo, justamente, burlar os testes de qualidade.
Na quarta-feira, dia 29, o Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) concluiu as investigações da Operação Leite Adulterado III. Além das 11 empresas investigadas e 16 prisões feitas, foram divulgadas as marcas para as quais as empresas enviavam o produto adulterado. Entre as marcas compradoras estão a Danone, Shefa, Szura, Bel, G.O.P. Alimentos do Brasil/Abralat e a Cooperoeste Terra Viva, de São Miguel do Oeste.
No entanto, segundo o Ministério Público, as empresas compradoras não tem responsabilidade criminal e podem ser citadas como vítimas, já que a adição de produtos químicos tinha por objetivo, justamente, burlar os testes de qualidade realizado pelas empresas que adquiriam o leite adulterado. Na manhã de sexta-feira, dia 31, o presidente da Cooperoeste Terra Viva, Celestino Persch, e o diretor financeiro da cooperativa, Aldo Postal, visitaram a redação do Jornal Gazeta Catarinense para esclarecer o assunto.
Segundo Postal, a Cooperoeste Terra Viva adquire leite de várias empresas e cooperativas, mas o produto passa por um rigoroso controle de qualidade. Conforme ele, o leite adquirido vem com a aprovação do Serviço de Inspeção Federal (SIF), que faz análise do produto. Além disso, cita que a empresa também faz exames laboratoriais e, caso o produto não esteja em conformidade, é descartado. “Teoricamente deveríamos estar protegidos. Mas, como se sabe, essa adulteração era feita justamente com produtos para burlar as análises”, argumenta Postal. “Não compramos leite em uma bodega. Compramos um produto com inspeção federal”, argumenta.
Segundo Aldo Postal, a cooperativa comprava uma pequena quantidade de leite de apenas uma das empresas investigadas na operação, o que representaria menos de 2% da produção. Ele acrescenta que, após saber do ocorrido, a compra do leite da empresa investigada, de Formosa do Sul, foi imediatamente suspensa. A cooperativa também divulgou nota de esclarecimento sobre o caso, na qual esclarece não é alvo de investigação do Ministério Público, informando ainda que apoia as iniciativas contra fraudes no leite.
Nos últimos meses três operações foram realizadas pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), contra fraudes no leite. Apesar do temor existente pelo impacto que poderá ser causado na cadeia leiteira, mediante a desconfiança do consumidor, o presidente do Conselho Estadual do Leite, Adelar Maximiliano Zimmer, entende que as operações são fundamentais para eliminar uma minoria de empresas que não trabalham com honestidade. “Somos favoráveis que se apure e puna com rigor, para que o povo possa confiar naquilo que consome”, afirma.
Segundo Zimmer, à medida que são descobertas, vão sendo tiradas fora da linha de produção as empresas que não trabalham em desconformidade. “O que, em simples, vem a favorecer, porque não se faz produto de qualidade com matéria-prima ruim”, argumenta. Adelar acrescenta que além de acabar com a adulteração, é preciso buscar também mais qualidade para o produto. “A qualidade do leite não é um diferencial, é uma exigência. Temos que preservar a qualidade, porque leite é um dos poucos produtos que não se lava, não se melhora. Ele nunca será melhor do que o instante em que ele sai da vaca”, comenta.
Para Zimmer, há um crescimento do setor leiteiro no Brasil, que em agosto bateu recorde de produção, com 175 milhões de litros no País. “Há um crescimento e, em nível de Brasil, estamos necessitando encontrar um mercado de exportação. E para conseguir isso, volto a frisar, a qualidade não é um diferencial, é uma obrigação”, afirma.
Conforme o presidente do Conseleite, neste sentido o Conselho está criando em parceria com Paraná e Rio Grande do Sul, a aliança Lacto Brasil Sul, que visa unificar os tributos nos três estados do Sul e criar uma bandeira característica de qualidade. “Isso para que conseguimos entrar no mercado exportador e colocar esse leite excedente, porque já está sobrando leite no Brasil”, comenta.
PREÇO DO PRODUTO
Conforme Zimmer, o preço sugerido pelo Conseleite, teve queda de quatro centavos em outubro para novembro e a tendência é de nova baixa de novembro para dezembro. Ele aponta que o preço estabelecido pelo Conseleite para o mês de novembro ficou em R$ 0,99 para o melhor preço, R$ 0,86 para o preço padrão e de R$ 0,78 para o menor preço.
De acordo com o presidente do Conseleite, em virtude do Verão, há a tendência normal de queda do preço pago ao produtor. Apesar da queda no preço recebido, Adelar entende que o produtor não tem enfrentado grandes dificuldades, já que o custo de produção se manteve baixo, pois o milho e outros grãos tiveram redução no preço.
“Todos somos culpados”, diz produtor sobre momento da cadeia leiteira
Para o produtor de leite, Rubens Grando, de linha Sete, Guaraciaba, a culpa pela atual crise da qualidade do leite é de toda a cadeia leiteira, desde o produtor, que não produz um produto de qualidade, parte da indústria envolvida em constantes casos de adulteração, a fiscalização que não fiscaliza direito e o poder público, que não dá a atenção devida ao setor. “Nesse País se fala muito e se faz pouco. Um exemplo foi a demora na entrada das normativas de qualidade. Ouvi político dizendo em rádio que a a normativa iria eliminar muita gente da atividade. Se eliminar alguém que não produz com qualidade, tem que ser eliminado mesmo. Ele produz um produto para ele e para os outros, tem que ter responsabilidade”, comenta.
Na visão de Grando, que trabalha há 40 anos na atividade, deveria haver mais qualificação do produtor de leite, com formação técnica para quem queira trabalhar na área. Segundo ele, não é preciso equipamentos modernos para ter um leite de qualidade, mas sim capricho. “Pode até tirar com a mão. O que não pode fazer parte da ordenha é gato e cachorro, a pessoa tem que ter higiene pessoal, o equipamento tem que estar limpo, a teta da vaca tem que estar limpa, com um bom tratamento anterior e pós ordenha”, argumenta.
Para o produtor, a fiscalização que tem descoberto as fraudes atualmente é importante, mas já deveria ter ocorrido há 20 anos e defende ainda uma fiscalização mais rigorosa nos rebanhos. “Agora que só se fala em leite, por que não se aproveita o momento para começar a ver a questão sanitária do nosso rebanho? Qual a porcentagem do nosso rebanho é portadora de brucelose e tuberculose e o que está sendo feito para isso?”, questiona.
Grando acredita na entrada de uma crise no setor, pois, com constantes casos de adulteração, o consumidor está receoso em adquirir o produto. “O consumidor está com dúvida para comprar e precisa ser trazido de volta. Para isso, precisamos de um produto de qualidade. Não há outra forma”, comenta. Ele acrescenta que é necessária mais atenção para um dos setores que mais emprega. “Guaraciaba, por exemplo, em 2013 foi o segundo maior produtor de leite do estado, com 200 mil litros de leite dia e tem aproximadamente 900 produtores. É uma atividade importante e 30% dessas famílias podem ter de parar com a atividade”, alerta.
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