Home Primeiro ambulatório para pessoas trans em SC completa um mês de atendimento na Lagoa da Conceição

Primeiro ambulatório para pessoas trans em SC completa um mês de atendimento na Lagoa da Conceição

Última atualização 27 de agosto de 2015 - 10:45:05
Enquanto a expectativa de vida do brasileiro aproxima-se dos 75 anos, pessoas trans (transgênero, transexuais e travestis) nÃo costumam ultrapassar o 35º aniversário. O principal motivo é a violência: conforme relatório da ONG internacional Transgender Europe, entre janeiro de 2008 e abril de 2013 o Brasil registrou 486 mortes de transexuais. SÃo quase 100 assassinatos por ano, estatística que torna o país um dos mais transfóbicos do mundo.

Além da violência impulsionada pelo preconceito, essa populaçÃo também tem dor de barriga, unha encravada ou diabetes. Para atendê-la em Florianópolis, foi criado no início de agosto um ambulatório voltado às pessoas que nÃo se identificam com o gênero (masculino ou feminino) atribuído no momento do nascimento. O atendimento é feito por quatro médicos da Residência em Medicina da Família e Comunidade todas as segundas-feiras, das 18h às 22h, no Centro de Saúde da Lagoa.

— Transexuais e travestis por vezes deixam de ter atençÃo primária em saúde por vergonha, medo ou preconceito. É uma inequidade, porque elas também têm direitos. Aqui é um espaço de acolhimento, onde as pessoas sÃo chamadas pelo nome que escolheram — explica o médico Thiago Campos, um dos responsáveis que buscou inspiraçÃo no Uruguai para propor o projeto na Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis.

Pesquisas indicam que exista um transgênero feminino para cada 20 mil pessoas (homem para mulher) e um transgênero masculino (mulher para homem) para cada 50 mil pessoas no mundo. Para a pesquisadora do Núcleo Modos de Vida, Família e Relações de Gênero (Margens) da Universidade Federal de Santa Catarina, Maria Juracy Toneli, o acolhimento a esse público é essencial.

— Esse público já enfrenta segregaçÃo diariamente e ser atendido em um espaço junto de outras pessoas é bastante significativo — analisa.
Possibilidade de expansÃo

Já foram quatro noites de serviços prestados para aproximadamente 30 pessoas. A meta é expandir o serviço para outros bairros da Capital.

— Precisamos saber de onde as pessoas estÃo vindo para qualificar a equipe da rede municipal e passar a atender em outros lugares. Enquanto médicos da família que somos, enxergamos os pacientes como pessoas — avalia o médico Thiago Cherem.

É o sétimo ambulatório nesse formato no Brasil, sendo o segundo da regiÃo Sul. A iniciativa é inédita pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Santa Catarina. Existem articulações com o governo do Estado para ampliar o atendimento a outros municípios.
Além da hormonoterapia

Christian Mariano, 43, faz parte do público-alvo do novo ambulatório na Lagoa. Ele nasceu menina, mas há três anos descobriu-se homem e iniciou tratamento hormonal [hormonoterapia] para a transformaçÃo física. Na última segunda-feira, veio fazer acompanhamento médico no Centro de Saúde da Lagoa.

— Poder ter atençÃo à hormonoterapia para homens trans e cuidar de outros assuntos é o diferencial desse espaço, que é livre de julgamentos. Já passei por situações de preconceito e aqui sou chamada pelo nome que escolhi, o que pode ser pouca coisa, mas faz muita diferença — garante Christian, que também tratou de problemas dermatológicos e deu início à investigaçÃo de um cisto durante a consulta.

Vindo diretamente do Pará, Elder Inácio, 22, chegou animado para iniciar o tratamento hormonal em Florianópolis há poucos meses. Ele diz que o espaço é o início para tudo.

— NÃo quero ficar assim do jeito que sou. O dia que eu puder retirar meus seios vou tirar uma foto sem camisa. Estou feliz que essas portas estejam se abrindo para isso — comemora.

Segundo o Ministério da Saúde, o acompanhamento ao tratamento hormonal, que garante a transformaçÃo física, é imprescindível para evitar o aparecimento de trombose e câncer.

O que diz a lei

Portaria nº 2.803, de 19 de novembro de 2013, do Ministério da Saúde: Redefine e amplia o Processo Transexualizador no Sistema Único de Saúde (SUS). É prevista capacitaçÃo e sensibilizaçÃo dos profissionais de saúde para lidar, de forma humanizada, com transexuais e travestis tanto na atençÃo básica sem discriminaçÃo, quanto na especializada. Também assegura o direito de a pessoa ser tratada pelo nome social, além de aprimorar a conduta do atendimento oferecido pelo SUS a esse público específico.

Plano Municipal de Políticas Públicas e Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros, de 26 de dezembro de 2012, da Prefeitura de Florianópolis: Promover a transversalidade na proposiçÃo e implementaçÃo das políticas públicas municipais. Propõe o combate à homofobia por meio de ações integradas entre as áreas de segurança, educaçÃo, assistência social e saúde.

Serviço

O quê: Ambulatório para pessoas travestis, transexuais, transgênero
Onde: Centro de Saúde da Lagoa — Rua JoÃo Pacheco da Costa, 255, Lagoa da ConceiçÃo, Florianópolis
Quando: Todas as segundas-feiras, das 18h às 22h
Quanto: gratuito pelo Sistema Único de Saúde (SUS), exceto a maioria dos hormônios utilizados em tratamento
Como: agendamento de consultas feito via AssociaçÃo em Defesa dos Direitos Humanos com Enfoque na Sexualidade (ADEH) pelo telefone (48) 3371-0317 ou no próprio local
Contato: ambulatorio.mfc.trans@gmail.com ou (48) 3232-0639, 3233-6990, 3234-4322.

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