Home Preços de carnes, frango e suínos já recuam no atacado com embargo da China às exportações brasileiras

Preços de carnes, frango e suínos já recuam no atacado com embargo da China às exportações brasileiras

Última atualização 20 de outubro de 2021 - 21:02:29

O embargo chinês às importações de carne brasileira, que já
dura 45 dias, reduziu o preço do boi vivo e o alívio poderá chegar ao
consumidor final, preveem analistas, com o aumento da oferta no mercado
interno.

O preço da arroba do boi gordo terminou a semana passada em
R$ 266,80, menor valor do ano, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em
Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP.

A queda já aparece nos índices de inflação no atacado. O
Índice Geral de Preços da Fundação Getulio Vargas (IGP) mostra queda de 4,11% no
preço no boi vivo na primeira prévia de outubro, com dados coletados até último
dia 10.

Nesta terça-feira, a arroba do boi fechou em R$  272,55, 2,1% mais que o piso alcançado na
semana passada, mas a tendência é de queda no mês, segundo analistas.

O recuo na carne bovina influencia outras proteínas no
atacado. Segundo dados do Cepea/USP, o quilo do frango congelado caiu 3% em 30
dias em São Paulo. A retração da carne suína foi de 3,6% na última semana.

Analistas afirmam que essas quedas devem chegar ao
consumidor final se o embargo se mantiver por mais tempo.

A previsão inicial do governo brasileiro e dos produtores de
carne era de uma suspensão das exportações por 15 dias, mas a China está
demorando a rever sua decisão.

Devido à demora, o Ministério da Agricultura determinou a
suspensão da produção de carne bovina para o país asiático. O embargo ocorreu
após o governo brasileiro notificar dois casos atípicos do mal da vaca louca,
doença que atinge os bovinos.

Demora até o preço baixar no supermercado

É praxe esse tipo de notificação e, como se tratavam de
casos atípicos (ou seja, que ocorre em um animal de forma isolada, causada pelo
envelhecimento, e não por consumo de ração inadequada), a previsão era de que a
suspensão das compras chinesas, o que também é rotina neste tipo de situação,
demorasse pouco tempo.

— Por enquanto, o embargo aumentaria a oferta doméstica e
favoreceria a queda de preços aqui no Brasil. Acho que chega sim ao consumidor,
mas é mais lento. Se ao produtor a gente já vê bovino vivo com queda de 4%, é
um sinal que esse efeito vai caminhar ao longo da cadeia produtiva, e isso vai
chegar sim ao consumidor. Vai demorar um pouco, mas chega — explica o
economista André Braz, da Fundação Getulio Vargas (FGV-Ibre).

O preço no varejo ainda não caiu, mas as altas estão
perdendo fôlego. Segundo os dados da FGV, as carnes bovinas subiram 0,25% no
IPC-10, que mede os preços ao consumidor até o dia 10 de outubro.

A desaceleração aparece na comparação com o levantamento
anterior, de setembro, no qual a alta foi de 0,36%. 

Mas, mesmo que a queda do preço nas fazendas chegue até as
gôndolas dos supermercados e açougues, o consumidor ainda vai sentir a carne
cara. Os preços acumulam alta de nada menos do que 24% nos últimos 12 meses.

Thiago Bernardino de Carvalho, pesquisador de pecuária do
Cepea, lembra que, além do aumento de custos para os produtores com a
armazenagem da carne que seria exportada para a China, o embargo ocorre em um
momento em que o próprio mercado interno está enfraquecido devido aos preços
altos:

— Um mercado doméstico todo combalido, enfraquecido, por
causa do desemprego, de renda e olhando uma carne de frango muito barata. Do
outro lado, pensando na produção, temos o gado de confinamento saindo com um
custo muito alto.

Segundo Fernando Iglesias, consultor do setor Carnes da
Safras&Mercado, quanto mais tempo passa, pior se torna o cenário. Os
frigoríficos estão com suas câmaras frias lotadas e manter este estoque parado
representa um custo elevado.

— Caso essa carne que deveria ir para a China fosse
disponibilizada integralmente no mercado doméstico, seriam mais de 100 mil
toneladas. Os preços desabariam em toda a cadeia pecuária, movimento que tende
a contaminar as proteínas concorrentes. Os preços para o consumidor final
seriam mais acessíveis, entretanto haveria dano de longo prazo, considerando os
prejuízos da indústria frigorífica e dos pecuaristas — ressalta o especialista.

Uma primeira versão dessa matéria dizia que o menor valor da
arroba do boi havia sido atingido nesta terça-feira. A materia foi atualizada
às 15h38

 

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