O deputado Padre Pedro Baldissera (PT), que preside o Fórum para Preservação do Aquífero Guarani e das Águas Superficiais, reafirmou na semana passada a preocupação com a possibilidade de exploração do gás de xisto no Brasil, mesmo sem análises mais aprofundadas por parte de especialistas.
Segundo o parlamentar, em vários países, entre eles a França, existem medidas impedindo a prospecção – forma de avaliar um terreno para determinar se nele podem ser encontradas jazidas minerais, petrolíferas ou gás – em razão da possibilidade de comprometer as fontes de água. “Realizamos um levantamento com pesquisadores da rede Aquífero Guarani / Serra Geral e, nos moldes atuais, existe sim risco à água. A questão é até que ponto podemos permitir comprometer a vida de populações inteiras em nome de uma alternativa energética questionável”, afirmou.
Para o parlamenta, a decisão precisa ter embasamento científico. “O exemplo do que está ocorrendo em São Paulo é uma mostra de como o debate da água deve figurar entre os principais em nosso País”, destacou. O doutor em geociências pela Universidade de São Paulo (USP), Luiz Fernando Scheibe, hoje aposentado pela UFSC, explica que o Brasil não tem estudos que garantam a segurança na exploração do gás de xisto, sem afetar o meio ambiente, principalmente o lençol freático e os aquíferos. A tecnologia para extração do gás utiliza um processo invasivo, que causa rachaduras nas rochas a partir de água em alta pressão, areia e substãncias químicas.
Um poço de gás de xisto usa cerca de 15 milhões de litros de água. Metade disso retorna, contaminada por produtos, à superfície. “A questão não é tanto o gás em si, já que é um gás praticamente igual ao gás natural que a gente usa, mas o tipo de exploração. São quantidades imensas de água. E essa água, quando volta à superfície, está poluída”, argumenta Scheibe. O professor alerta para o fato de que o gás está abaixo das reservas de água. “Temos gás suficiente para nossas necessidades e podemos utilizar o princípio da precaução”, pondera.
Pesquisas buscam, agora, substituir a tecnologia de injeção de água, em poucos anos, e incorporar outra de menor risco de contaminação das fontes de água potável. “Vamos dar tempo a estas pesquisas. Nossa experiência com a utilização de exemplos vindos dos Estados Unidos em relação a questões ambientais é desastrosa. Não vejo porque colocar em risco nossa maior riqueza, que é a água, a partir de um modelo questionável, predatório e baseado unicamente no lucro, como é o da economia americana”, avalia Padre Pedro.
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