Como ajudar?
Juliana Perizzolo, médica psiquiatra e cooperada da Unimed Chapecó
Na psiquiatria, existem os chamados fatores de risco para o suicídio, que estÃo relacionados à propensÃo a tentar ou cometer o ato de tirar a própria vida. Quem explica é a médica psiquiatra e cooperada da Unimed Chapecó, Juliana Perizzolo. “A família deve estar atenta às mudanças de comportamento do paciente e solicitar avaliaçÃo com psiquiatra quando existe alteraçÃo. Geralmente, a pessoa que tenta ou comete suicídio deixa “pistas” de que algo nÃo está bem ou que pode estar em risco, como por exemplo, deixar cartas de despedida ou falar que nada mais importa”, alerta a médica.
A psiquiatra afirma que a abordagem de uma pessoa com risco de suicídio sempre é complexa e exige escuta atenta e percepçÃo delicada da situaçÃo que o paciente possa estar passando. Em geral, segundo ela, há uma percepçÃo distorcida da pessoa que apresenta risco de suicídio, que pensa nÃo ter mais saída para seus problemas, associada a uma rigidez do pensamento. “Isso pode ser assinalado ao paciente de forma a mostrar que seus pensamentos e percepções podem estar alterados em funçÃo de circunstâncias ou de algum transtorno mental, como a depressÃo, e que sempre há possibilidade de tratamento e auxílio”, destaca ao enfatizar que, com o tratamento adequado, existe uma grande possibilidade de mudança do pensamento em direçÃo à percepçÃo de que podem, sim, existir várias saídas para determinadas situações e que basta estar melhor para pode enxergá-las.
Uma dor que nÃo tem fim
“Falar em suicídio sempre remete a dor, sobretudo quando acontece com um ente querido, com alguém próximo a você”. Com essa frase que a família Bortolanza de Palmitos inicia a entrevista para o Jornal Expresso d’Oeste. Moacir e Maria Bortolanza perderam seu filho, Djhoni, há mais de um ano. Segundo Bruna Bortolanza, irmà de Djhoni, o incidente ocorreu proveniente de sua doença: o transtorno bipolar. “Ele dizia várias vezes que seu lugar nÃo era entre nós, preferindo a morte. Nós, família, fizemos o possível e impossível para tentar tirar dele esse pensamento; esse querer, e, embora tenhamos evitado muitas outras vezes, infelizmente, na última nÃo foi possível”, conta.
Moacir e Maria Bortolanza perderam seu filho, Djhoni, há mais de um ano
Bruna relata que no início, a dor do “nÃo pude fazer nada para impedir', é a que mais perturba a família. “Depois, porém, entendemos que tudo o que estava ao nosso alcance, fizemos, o que nos ‘tranquiliza’”, declara a irmÃ, ressaltando que todos passam por momentos delicados, “e que às vezes temos vontade de ‘largar tudo’, e provavelmente seja isso que se passa na cabeça de um suicida”, acredita.
Esses momentos delicados, para Bruna, na maioria das vezes, estÃo ligados a motivos que podem ser buscado superar, preferivelmente com a ajuda de um profissional, para que nÃo chegue ao extremo (suicídio). Aliado a isso, Bruna acrescenta que deve-se descartar comentários e opiniões alheias, que sÃo leigas. “Geralmente dizem que é “frescura” sentir-se mal ou precisar de um psicólogo, por exemplo, mas na verdade ninguém sabe o que se passa dentro da mente de cada um. Vale alertar, que grande parte das pessoas considera verdadeiro aquele ditado de que: “quem fala nÃo faz”, e nosso caso deixa explícito que isso nÃo procede”, reconhece.
“Grande parte das pessoas considera verdadeiro aquele ditado de que: “quem fala nÃo faz”, e nosso caso deixa explícito que isso nÃo procede” – Bruna Bortolanza
Djhoni e Bruna Bortolanza
Bruna deixa um conselho diante de tudo o que aconteceu e da dor que ainda sentem, é que primeiramente: “se você enfrenta qualquer tipo de problema, busque resolvê-lo e nÃo adiá-lo, por menor que seja, para que nÃo tome grandes proporções, além disso, deve haver a participaçÃo da família, que deve atentar-se mais aos seus, a todo e qualquer sinal, para que busquem ajuda o quanto antes, porque o suicídio nÃo tem ‘aviso prévio’, e quando vemos, só resta dor e saudade”, finaliza.
Em sua rede social, Bruna postou uma foto com o irmÃo descrevendo:
Hoje é dia 07 de agosto e completamos um ano sem tua presença física, Djhoni. NÃo houve um dentre esses 365 dias que nÃo tenhamos lembrado e sentido tua falta. Há exatamente um ano atrás recebíamos a triste notícia de que os médicos da terra já nÃo podiam fazer nada a fim de salvar-te, e entÃo decidimos, neste dia, proporcionar vida à outras pessoas através da doaçÃo dos teus órgÃos. Admitimos que nÃo foi uma decisÃo fácil, mas hoje sentimo-nos felizes por saber que partes de ti tenham ajudado outras pessoas. Agradecemos por tudo o que construiu e nos deixou. Embora tenha tido várias dificuldades durante tua passagem por essa encarnaçÃo, sabemos que evoluíste bastante, e hoje só pedimos para que esteja em paz e aguardamos o dia do reencontro. Com amor, de sua família.
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