No fundo de um dos maiores paraísos ecológicos do Brasil, aReserva Biológica Marinha do Arvoredo, entre Florianópolis e Bombinhas, foram encontrados lixo de todas as espécies. De linhas e redes de pesca a panela e até porta de geladeira. Isso tudo foi retirado das águas e costões, nesta quarta-feira, no Clean Up Day, o dia da limpeza, que pela primeira vez é realizada no santuário natural e recolheu cinco metros cúbicos — o que equivale a cinco caixas d'águade mil litros —de materiais que destroem a vida marinha.
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O relógio marcava 9h quando as 10 embarcações da atividade, realizada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), com o apoio do Ministério Público Federal, chegaram na reserva. Participaram barcos e lanchas da Marinha do Brasil, da Polícia Federal e das empresas ligadas à Associação das Escolas e Operadoras de Mergulho do Estado de Santa Catarina (Aeomesc) e do próprio ICMBio. Todos unidos para limpar as águas, onde vivem espécies de peixes coloridos como o frade, a donzelinha, sargentinho e salema, além de corais raros.
Confira o vídeo sobre a limpeza na Reserva do Arvoredo
Parte da equipe limpou os costões, onde foram encontrados até cadeiras e, principalmente, garrafas pets e sacos de lixos. Mergulhadores entraram mar adentro a mais de 20 metros de profundidade para retirar linhas e redes trazidas pelas correntezas ou por embarcações que entram escondidas na área proibida.
— Encontramos até uma rede de 15 metros preso no fundo do mar. Chamamos de rede fantasma, pois fica constantemente matando os peixes do costão, que se enroscam e não conseguem mais sair. A tartaruga verde é outra vítima do lixo, pois acaba comendo sacos plásticos, o que entope o trato digestivo dela e mata —explica o analista ambiental do ICMBio, Leandro Zago da Silva.
Lixo recolhido da reserva
Foto: Charles Guerra/Agência RBS
Para o presidente da Aeomesc, Julio Cesar da Silva, a ação serve para oferecer um momento de educação ambiental aos alunos das escolas de mergulho. Ao contribuir com a natureza, em troca quem caiu no mar teve a chance de conhecer as profundezas da reserva, onde a visitação pública é proibida, salvo exceções como pesquisa e educação ambiental.
— Lá dentro é mais bonito. A quantidade de vida marinha é indescritivelmente maior do que na parte do mar fora da reserva. Pena é ver o lixo — diz o piloto de helicóptero Luiz Carlos Schling Cruz, que mergulha por lazer e contribuiu com o multirão.
Conforme o chefe da reserva Ricardo Castelli, a ideia é realizar o dia da limpeza a cada três meses. Após quatro horas de força tarefa, o lixo recolhido foi encaminhado ao setor de reciclagem da Companhia Melhoramentos da Capital (Comcap).
Porta de geladeira recolhida no Dia da Limpeza
Foto: Charles Guerra/Agência RBS
A região da Ilha do Arvoredo, com 17,6 mil hectares — equivalente a 16 campos de futebol foi oficializado como reserva em março de 1990. Após 22 anos restrito à preservação da vida marinha, ainda tramita no Congresso propostas para fazer da reserva um parque nacional.
Neste ano, parlamentares catarinenses retomaram a ideia de transformar o local em parque em conversas com o Ministério do Meio Ambiente e com o ICMBio. Nada ainda foi decidido.
Enquanto a reserva determina a preservação total dos recursos naturais, com a proibição de visitação — exceto as de caráter educacional e de pesquisa —, o parque nacional permitiria a realização de atividades de recreação, educacionais e de turismo ecológicos. Em ambos os casos, pesca e construções ficam proibidas.
O assunto é polêmica entre instituições e especialistas por olocal conter algas e corais raros, além de abrigar e ser rota de passagem de espécies ameaçadas de extinção. Por outro lado, o parque impulsionaria o turismo de mergulho.
A Rebio Marinha do Arvoredo é um das duas únicas reservar com conservação exclusivamente marinha no país. A outra é a Atol das Rocas, no Rio Grande do Norte.
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