Mondaí completa 95 anos de colonização
Última atualização 29 de maio de 2017 - 14:22:31
Há 95 anos, estava sendo fundado um território denominado Porto Feliz, mais especificamente no dia 20 de maio de 1922, que marca o início da colonizaçÃo do extremo oeste de Santa Catarina. Nesse dia, Hermann Faulhaber, na qualidade de diretor da Empresa Chapecó-Peperi Ltda., pisou nas terras da nova colônia para determinar o local de sua sede. Partiu de Nonoai na pequena lancha de Camillo Picoli. Seguiu Rio Uruguai abaixo – que até o momento se caracterizava como uma das raras vias de passagem pelo imenso sertÃo extremo-oestino – acompanhado por seus homens de confiança, Jacob Schüler e Friedrich Forbrig, de New-Württemberg (hoje Pananbi), assim como o agrimensor Victor Alberto Webering e o comerciante Francisco Martins, de Palmeira das Missões.
Na foz do primeiro ribeirÃo, abaixo do Rio das Antas, havia, no alto do barranco, um rancho abandonado, possivelmente refúgio de balseiros. Logo em frente, na margem riograndense, vivia um único morador, Ernesto Scherer. Exímio caçador que já havia percorrido as matas de ambas as margens do Rio Uruguai, podia assim, fornecer informações preciosas.
Após dois dias de minuciosas verificações, o diretor Faulhaber juntamente com o agrimensor Webering, delimitaram as mediações da futura povoaçÃo. Ficou estabelecido que Porto Feliz se localizaria desde a desembocadura do Rio das Antas no Rio Uruguai até a desembocadura do RibeirÃo Laju e, seguindo pela margem do rio, em direçÃo ao sul, até a foz do riacho que deságua no Rio Uruguai, diante da ilha do PÃo de Açúcar. Jacob Schüler, mestre carpinteiro que acompanhava o diretor Faulhaber ficou incumbido de construir a primeira edificaçÃo para ser usada como sede da administraçÃo e barracÃo do imigrante. Uma pequena elevaçÃo rio abaixo, foi escolhida como local.
Para evitar futuras desavenças e aproveitar todos os recursos para o sucesso do empreendimento, Faulhaber propôs ao temido Zeca Vacariano que, juntamente com seus capangas, construíssem as estradas dentro do perímetro da colônia. Como pagamento, receberia dois lotes de terra junto a sua moradia. Demonstrando muita satisfaçÃo a proposta foi aceita. Além de dominar os negócios com madeira na regiÃo, sobre Zeca Vacariano contavam-se muitas histórias, inclusive responsabilizando-o pelo assalto e morte do agente e pessoas encarregadas do trem pagador que trazia o dinheiro dos trabalhadores da estrada de ferro SÃo Paulo – Rio Grande.
Visando o transporte fluvial a Porto Feliz, o diretor Faulhaber comprou do madeireiro Sezada em Nonoai, madeiras de construçÃo, as quais deveriam ser transportadas até Porto Feliz pelo Rio Uruguai. Em Palmeira das Missões, fechou-se um contrato com o Engenheiro Webering, para mediçÃo e demarcaçÃo de 200 a 300 lotes coloniais ao redor da planejada sede. O Engenheiro também foi convidado a fazer parte da Empresa Colonizadora, sendo que possuía grande experiência em empreendimentos dessa escala, pois, havia trabalhando por longa data com o colonizador Dr. Frederico Westphalen, no município que leva seu nome.
AS FAMÍLIASPIONEIRAS
A Empresa Colonizadora, após a construçÃo das principais edificações, viu que se tornava necessária a presença de um administrador responsável pelo desenvolvimento dos trabalhos, direçÃo dos negócios, mediçÃo de terras, construçÃo de casas e estradas e um sistema de transportes na colônia. Dessa forma, ainda em 1922, o agrimensor Ricardo Brüggemann chegava a Porto Feliz com sua esposa Emma e seus filhos, Emmi, Ricardo, Walter e Erich. Vieram de carroça desde Zanata (RegiÃo de Seberi – RS) até o rio da Várzea, de onde vieram de barco, trazendo consigo gêneros de primeira necessidade para os seis primeiros meses. A chegada dessa família juntando-se aos carpinteiros que faziam as primeiras edificações deu um grande impulso à colonizaçÃo de Porto Feliz. Inúmeras famílias chegaram com o desejo de colonizar essa terra e de prosperarem junto com ela. Várias foram às dificuldades, mas pequenas perto do sonho desses bravos homens e mulheres que fizeram de Porto Feliz o berço da colonizaçÃo do estremo oeste catarinense.
COLUNA PRESTES
Em 20 de janeiro de 1925 chegou ao conhecimento dos habitantes de Porto Feliz que o exército da Coluna Prestes estaria se aproximando desta regiÃo. O medo e a incerteza do futuro e das intenções daqueles brasileiros revolucionários levaram à criaçÃo de um comitê de defesa. Comitê que negociou a passagem da coluna Prestes pela entÃo colônia Porto Feliz. A retaguarda do exército de Prestes deixou Porto feliz nas noites de 01 e 02 de fevereiro de 1925, deixando graves consequências para a colônia. A imundície deixada pelas tropas, o grande número de cadáveres em estado de decomposiçÃo, contaminando o ar, a água e a má e deficiente alimentaçÃo da populaçÃo deram à colônia um duro golpe: uma epidemia de Tifo.
Essa epidemia ocasionou muitos óbitos, fazendo com que muitos exploradores que aqui chegaram cheios de esperança, retornassem às suas cidades de origem ou procurassem outras regiões para fixar residência, ocasionando um retrocesso no desenvolvimento da colônia. Entretanto a notícia de que aqui estava iniciando uma nova colônia, trouxe outros imigrantes, principalmente de origem alemà e italiana, oriundos de cidades do Rio Grande do Sul. Vieram movidos pela vontade e esperança de encontrar um futuro melhor e também pelo espírito aventureiro tÃo característico de nossos pioneiros. Aportaram aqui e criaram raízes e um novo município que hoje é exemplo de crescimento econômico com valorizaçÃo de seus cidadÃos.
História de Mondaí relatada em diários
Mondaí está completado 95 anos de colonizaçÃo, e para contar um pouco desta história, a reportagem do Jornal Expresso d’Oeste conversou com Gisela Dreger, 76 anos, natural de Mondaí, que tem a história do município registrada em diário. O diário foi escrito pelo seu avô Karl Ramminger e pelo pai Paul Ramminger. A família Ramminger foi uma das pioneiras em Mondaí e fundadora de várias entidades como: museu, escola e igreja.
Gisela lembra das histórias que seus antepassados contavam, das dificuldades, desafios e a busca por possibilidades quando vieram para Mondaí, antes denominada Porto Feliz. “Meu avô veio para comprar terra aqui. Ele nÃo tinha ideia de nada, mas tinha muita fé em Deus. Chegaram a passar fome, pois nÃo tinham conhecimento de plantio de alimentos, chegaram a plantar a mandioca com a raiz. No início tinha somente um ‘pique’ até a casa do meu avô, que ficava localizada na Barra Escondida (hoje interior de Mondaí). Já a minha avó contava que entrou em desespero várias vezes, principalmente quando passava pelo ‘pique’, onde sentada em cima de uma árvore cortada e chorava, pensando no futuro dos filhos”, conta.
Devido a confiança que Karl tinha em Deus, Gisela lembra de um relato de seu avô: “um dia quando eles nÃo tinham comida, apareceu um bando de papagaio e pousaram em uma árvore, quando conseguiram derrubar os papagaios e fritaram eles para colocar na banha, daí tinham comida por um bom tempo”. Esses relatos, segundo Gisela, consta em um diário escrito pelo seu avô.
Gisela conta que seu avô era missionário. Na época, ele aprendeu basicamente todas as profissões. Karl atendia como dentista, médico e parteiro. “Ele deu assistência em dentista e medicina com produtos naturais. E ele foi o primeiro socorro dos imigrantes, na época”, revela. Além disso, Karl era pastor onde assumiu o pastorado. “Já sua filha mais velha começou a dar aula, onde foi fundado um grupo de estudantes. Ela foi a primeira professora em Mondaí, e hoje a escola Elizabeth Ramminger, leva o nome dela”, conta.
Ao folear o diário de seu avô, Gisela menciona que ele relatava melindrosamente tudo, porém tudo na língua alemÃ. “Neste diário tem tudo o que fazia, os sofrimentos, as coisas que nÃo davam certo, por onde passaram, o que aconteceu, até se chovia ou fazia sol, tudo está registrado”, comenta ela, foleando delicadamente o diário.
Um ano mais velha que Mondaí
Mondaí completa 95 anos, já a mondaienseLydiaLehrbach, tem 96 anos e conta que ainda recorda que no mês de abril de 1930, quando chegou em Mondaí, tinha 09 anos. Ela veio da Roménia com seus pais e três irmÃos, em uma viagem de três semanas de navio. Quando chegou em Mondaí, na época Porto Feliz, foi recebida na casa do Imigrante. “Eram tempos difíceis e nós, crianças,queríamos voltar para nossa casa. Meu pai falava que tinha vindo para cá pois ouviu falar que era um país com muitas possibilidades”, declara.
Lydia menciona que seu pai sabia que seus descendentes teriam uma vida melhor no futuro próximo e assim seinstalaram em Mondaí. “Eu cresci, me casei, criei meus filhos aqui em Mondaí. E nesses 87 anos acompanhei o crescimento e desenvolvimento deste lindo município que adotei como minha terra e digo com muito orgulho sou uma mondaiense”, enfatiza.
Mondaí após 95 anos
Mondaí vive um momento muito especial. SÃo 95 anos de colonizaçÃo, carregadas de histórias de uma populaçÃo marcada pelo espírito coletivo. Mondaí é um município perseverante, que vem se desbravando pela força, sabedoria, fé e garra de seus antecessores e da populaçÃo que hoje permanece e reconstrói sua família neste mesmo local.
Hoje Mondaí se tornou um município forte, tanto economicamente como culturalmente. O prefeito, Valdir Rubert ressalta que Mondaí tem seu ideal de desenvolvimento baseado na industrializaçÃo e numa agricultura em franca expansÃo. Segundo ele, a economia local surge com novas vocações e ideias de criatividade.“Para continuar avançando é preciso valorizar os pequenos negócios e escolher políticas adequadas a promoçÃo do desenvolvimento de todos os setores”, declara.
Ele comenta, que hoje vivenciamos uma crise econômica e política no País, porém, toda crise tem sempre uma dimensÃo de oportunidades, este pode ser o momento adequado para uma avaliaçÃo mais profunda das potencialidades. “Épreciso planejar para que continuemos crescendo e avançando no desenvolvimento”, menciona.
Neste sábado, dia 20, é um dia especial. O prefeito menciona que completar 95 anos de colonizaçÃo, é um marco na história do município. “Fazer parte desta história, para nós enquanto prefeito, é uma alegria imensa que desejo compartilhar com todos. E dizer que nÃo mediremos esforços para que nosso município cresça e se desenvolva da forma que todos munícipes esperam”, afirma.
Já o vice-prefeito AlzirSlavieroenfatiza que a vontade de trabalhar para o povo e ver o município de Mondaí crescer traz o sentimento de dever cumprido. “NÃo vamos fazer uma gestÃo de obras faraônicas, mas sim, uma gestÃo que valoriza as pessoas do nosso município”, declara. Ele menciona que hoje quem está de parabéns sÃo os munícipes. “Quero parabenizar todos os colonizadores de Mondaí que aqui vieram e desenvolveram o município, e hoje pode-se dizer que Mondaí é um espelho para regiÃo”, finaliza.
A PROGRAMAÇÃO
A programaçÃo contempla atrações culturais, festival da cançÃo e desfile com as etnias do município. A programaçÃo iniciou, no dia 15 com visitaçÃo ao Museu Municipal Pastor Karl Ramminger. Este museu é um dos mais completos e interessantes do Extremo-Oeste do Estado de Santa Catarina. As visitas se estenderam até o dia 18, com a participaçÃo de alunos da Rede Municipal de Ensino, populaçÃo além de intercâmbio com os outros municípios.
Os visitantes foram orientados pelo responsável do museu Hugo Gemmere demais integrantes da equipe do departamento de Cultura de Mondaí que detalharam a história do município e do museu. Foram apresentados filmes no auditório da Casa da Cultura, história do município e a colonizaçÃo da regiÃo.
De acordo com o monitor do museu, foi um total de 998 pessoas, que passaram pelo museu, durante os dias de visitas. Número muito satisfatório, pois, segundo ele tudo foi organizado com muita dedicaçÃo e esforço para receber a populaçÃo.
Já nos dias 17 e 18, foi organizada a noite de serenata, inspirados no Banda da Lua, que foi o primeiro grupo de serestas da cidade. Um grupo de músicos e simpatizantes se reuniram e visitaram algumas residências de colonizadores e famílias que conheceram e viveram os tempos das serestas mondaienses.
Para hoje, dia 19, está programado o Festival da CançÃo Estudantil. A atividade acontece no Centro de Evento às 19h30. Logo após a final acontece show com a dupla mondaienseLizandro e Gabriel
No sábado, dia do aniversário de Mondaí, será o último dia de comemoraçÃo. Na parte da tarde acontece um desfile com a participaçÃo de grupos formados pelas escolas da Rede Municipal e Estadual de Ensino e entidades, carros alegóricos. Também contará com a participaçÃo da banda marcial Cristo Redentor Alpestre Rio Grande do Sul que faz parte do projeto Musicalidade do Sul segunda ediçÃo uma banda formada por 40 pessoas
Logo após o desfile, no coreto da praça central,iniciarÃo as apresentações com os alunos do departamento de Cultura, corais e convidados. Após a solenidade, terá um show nativista com Rui Rocha e Cláudio Patias, além de shows com atrações locais.
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