SÃO MIGUEL DO OESTE
PorClaudia Weinman
De calça jeans cinza, blusa de lã cor bege com uma listra marrom. Uma bota velha e um boné cinza. Foi assim que a família de Artênio Barbieri, 78 anos, o viu pela última vez desde o seu desaparecimento por volta das 16h30 do dia 09 de junho em frente ao Hospital Regional Terezinha Gaio Basso, em São Miguel do Oeste.
A falta de respostas e pistas que possam levar ao encontro do aposentado tem tirado o sossego principalmente dos irmãos de Artênio que residem no Mato Grosso e que inclusive cancelaram a festa da família quando souberam do desaparecimento do irmão.
A esposa de Artênio, Oneyde Barbieri, 76 anos, reside no bairro Andreatta. Ela acredita que o marido não está mais vivo. De acordo com Oneyde, o aposentado tomava remédios controlados isso porque, há alguns anos Artênio foi acometido por três AVC’s e nos últimos tempos sofria de Alzheimer e dependia de remédios controlados para sobreviver. “Na noite do sumiço dele fazia muito frio e ele saiu com poucas roupas. Se a polícia e os bombeiros tivessem ido para outro lado quem sabe teriam achado ele”, indaga a esposa.
Oneyde suspeita que Artênio pegou carona ou que ‘alguém’ tenha dado um ‘sumiço’ nele. “Ou ele pegou carona, ou alguém pegou e deu um fim nele, me parece que alguém matou ele. Não sei nem como te explicar”, diz ela.
A esposa de Artênio argumenta que no dia 09 de junho ele já havia saído de casa para caminhar mas que retornou. “A gente estava em casa e eu disse para ele ir caminhar e voltar logo para me ajudar porque a gente vendeu a casa onde morava em frente ao terreno e reformamos outra que fica logo atrás. Eu ainda olhei para o meu neto Miguel e falei pra ele cuidar do vÔ que estava catando graveto. Tinha dois pedreiros que estavam fazendo um muro que também não viram ele sair”, relata.
A filha de Artênio, Clarinda Barbieri Severo, 46 anos, também sustenta a hipótese de que o pai não está mais vivo. Segundo ela, Artênio deve ter pedido carona na rua, mas, ele não era ‘acostumado’ a pedir caronas. “De repente alguém chegou e falou que estava indo pra casa e ele disse ‘então me leva’. Não tem explicação ele sair para caminhar e não aparecer mais”, questiona.
De acordo com a filha, o pai não teria nenhum motivo para ter sido assaltado, já que, não possuía dinheiro e nem mesmo os documentos no bolso. “Acho que ninguém teria interesse em sumir com uma pessoa velha que nem dinheiro tinha no bolso”, diz ela.
Clarinda fala ainda sobre comentários que estão sendo feitos por vizinhos e conhecidos. Segundo ela, as pessoas acusam a família de ter desaparecido com Artênio. “Toda a família foi chamada para prestar depoimento por conta dessas fofocas. As pessoas ligam aqui em casa para falar disso, meu marido até brinca que vai dar uma recompensa milionária para quem encontrar o meu sogro”, comenta.
Irmãos reclamam da falta de atenção da família com o idoso
Mesmo com as versões apresentadas pela esposa e filha de Artênio, a irmã que reside no Mato Grosso, Zilda Barbieri, 60 anos, diz que os irmãos do idoso não acreditam que ele possa ter sumido ‘do nada’. Segundo ela, pessoas podem estar envolvidas em um suposto sequestro e, sem citar nomes, ela garante que quem ‘deu um fim’ em Artênio, via ele como um ‘estorvo’ por necessitar de cuidados especiais.
Zilda ainda apresenta uma suspeita diferente da esposa e filha de Artênio. Para ela, o idoso sumiu ainda no sábado, dia 07. “Ele deve ter desaparecido no final de semana. Na verdade o que eu penso é que deram um fim nele. Alguém deu fim, ele não iria sair assim, sem que os vizinhos vissem. Ele mora há 58 anos em São Miguel do Oeste, foi pedreiro a vida toda, alguém iria enxergar e reconhecer ele. Acredito que ‘eles’ carregaram ele de noite, eu tenho certeza absoluta”, afirma.
A irmã de Artênio diz ainda que a família não vai sossegar até não encontrar o idoso. “Eu sei que vivo ele não está mais, mas eu quero saber a verdade, aonde levaram ele e o que fizeram com ele. A gente sempre via na TV como era triste não encontrar uma pessoa desaparecida e agora aconteceu com nós, que somos em 15 irmãos”, comenta.
Zilda ainda relata que costuma ligar para a cunhada Oneyde toda a semana para saber notícias do irmão. “Minha cunhada até foi para Francisco Beltrão passar uns dias com o filho dela para espairecer. O genro Levi também ficou uma semana na argentina rezando para o Artênio aparecer”, indaga ela.
Polícia diz que investigação não evolui por falta de apoio da família
O delegado responsável pela delegacia de proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso (Dpcami), José Airton Stang, relata que a polícia tem enfrentado alguns obstáculos para encontrar provas do que possa ter acontecido com Artênio em decorrência da falta de apoio da família diante das investigações.
Segundo ele, a família apenas registrou o fato do desaparecimento do idoso no dia 10 de junho, e que o inquérito só pÔde ser aberto no dia 17, quando a polícia teve acesso ao caso. “Quando a polícia é comunicada imediatamente se torna mais fácil reconstituirmos a cena que antecede o desaparecimento e até mesmo fica mais fácil localizarmos ou identificarmos algum suspeito”, defende.
Stang diz que os materiais concretos que a polícia tem até o momento são os depoimentos de oito pessoas da família e uma imagem capturada pela cãmera de segurança em frente ao hospital regional Terezinha Gaio Basso. Segundo ele, a esposa e filha de Artênio reconheceram o idoso que aparece caminhando por volta das 16h30 em frente ao hospital. Na imagem Artênio para e conversa com uma pessoa que não foi identificada e desaparece logo em seguida. O delegado diz que não há imagens nas laterais que poderiam identificar se Artênio seguiu o caminho pela direita ou pela esquerda ou até mesmo se alguém o capturou naquela localidade.
O delegado contraria a família e defende a tese de que Artênio esteja vivo, porém, questiona a falta de apoio da família nas investigações. “A polícia não está conformada com a falta de interesse da família em localizá-lo. Ou de pelo menos procurar a polícia buscando informações ou mesmo, trazendo informações”, reclama.
Stang enfatiza que dois pedreiros de nacionalidade Argentina estavam trabalhando na construção de um muro na casa de Artênio e serão ouvidos nos próximos dias. No entanto, Clarinda, filha de Artênio, defende que os dois são amigos da família e conhecidos do marido dela, Levi. Segundo ela, os pedreiros estariam desempregados quando a família os contratou para fazer um muro, já que, Artênio costumava ‘fugir’ de casa. Ela defende ainda que o marido, aposentado do exército, viaja muito, principalmente para a Argentina, e que também está buscando respostas para o desaparecimento de Artêmio.
Clarinda ainda fala sobre um boato feito por vizinhos de que a ‘alguém’ teria jogado Artênio dentro de um poço localizado no terreno onde ele vivia. “Se ele estiver vivo ele não está aqui na região. Os bombeiros fizeram busca, o exército, utilizou cães farejadores e nada foi encontrado. O investigador de Florianópolis também nos disse que em Santa Catarina ele não está, a não ser que ele tenha caído em algum lugar muito escondido”, finaliza.
A reportagem do Jornal Gazeta Catarinenese conversou com outro irmão de Arênio que reside também no Mato Grosso e que preferiu não ter o nome divulgado. Ele disse apenas que a família está a um passo de descobrir o principal suspeito pelo desaparecimento de Artênio. O delegado Stang garante que a polícia segue com as investigações e que qualquer informação que possa contribuir com a resolução do caso pode ser repassada a Dpcami.
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