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Jovem psicóloga grávida luta na Justiça para obter remédio em falta

Última atualização 13 de junho de 2015 - 18:44:15
Foi há três semanas, durante um exame de rotina do pré-natal, que a psicóloga de SÃo Miguel do Oeste, Barbara Lohmann da Silva, de 26 anos, descobriu que está com toxoplasmose. “A notícia em si já foi um choque, a doença pode trazer vários problemas de saúde ao bebê”, diz Bárbara. Mas ela ainda enfrenta um outro problema: a espiramicina, remédio indicado para tentar evitar a transmissÃo da doença para o filho, está em falta nas farmácias.
Grávida de 28 semanas, Bárbara corre contra o tempo e recorreu nesta semana à Justiça para conseguir o medicamento. Ela conta que está sendo acompanhada por uma obstetra e uma infectologista na cidade de SÃo Miguel do Oeste, no Oeste no estado, e está fazendo um tratamento alternativo com um medicamento genérico.
“Tem estudos que dizem que ele funciona, mas outros falam que nÃo é tÃo eficaz como o outro. Na dúvida, minha médica pediu que eu tomasse para prevenir. Mas só vamos saber até que ponto afetou meu bebê quando ele nascer”, diz a gestante, que nÃo tem sintomas da doença.
Nos casos mais graves, segundo o Ministério da Saúde, um bebê contaminado com toxoplasmose pode apresentar complicações que vÃo de anemia a hidrocefalia, além de problemas no fígado e alterações na visÃo.


TransmissÃo da doença

Bárbara nÃo sabe quando nem como adquiriu a doença. “Ela é transmitida pelas fezes do gato”, explica o infectologista Luís Fernando Aranha Camargo, que trabalha no Hospital Albert Einstein, em SÃo Paulo, e é diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia. “Por isso é importante que a gestante evite o contato, nÃo coma carnes cruas e consuma verduras desinfetadas. Peço até para nÃo comer fora de casa”, diz o médico.
Como o genérico também nÃo está disponível na rede pública, Bárbara contou com a ajuda da mÃe para conseguir comprar 15 caixas do medicamento alternativo, que sÃo suficientes apenas para as quatro primeiras semanas do tratamento – ela terá de tomar até o fim da gravidez.
“Por mês, o custo com o remédio genérico é de quase R$ 600. NÃo tenho condições de comprar para as próximas semanas. Ainda bem que minha mÃe me ajudou desta vez”, conta Bárbara.

Respostas negativas
A gestante afirma que buscou as redes de apoio e recorreu à Secretaria Regional de Saúde para conseguir o remédio gratuitamente, mas a resposta foi negativa. Nesta sexta, ela entregou à Defensoria Pública de SÃo Miguel do Oeste os últimos documentos necessários para a abertura de um processo. “Pelo que entendi a açÃo será contra o Sistema Único de Saúde (SUS). “O poder público precisa pressionar e garantir a produçÃo. Imagina uma criança ter problemas por falta de um medicamento tÃo simples de produzir?”, reforça o infectologista Aranha Camargo.
A assessoria de comunicaçÃo da Secretaria de Desenvolvimento Regional de SÃo Miguel do Oeste confirmou que “foi emitida uma negativa para a gestante com base na lista da Regional, que nÃo contempla esse item”.
De acordo com a gerência de saúde do órgÃo, “nesses casos, que sÃo raros, quem adquire o medicamento é o município para que o processo seja mais rápido, pois entrando na Justiça, será demorado e ela nÃo tem esse tempo”.
Remédio em falta
O superintendente da DivisÃo de Vigilância Epidemiológica do Estado (Dive), Fabio Gaudenzi de Faria, afirma que, em situações como essa, os municípios recorrem ao estado, mas que, no momento, a espiramicina está em falta nas farmácias. “É um problema sério de desabastecimento. Tentamos realizar a compra direta, mas simplesmente nÃo é vendido. A informaçÃo que temos, em relaçÃo ao remédio contra a transmissÃo da toxoplasmose, é de que o fornecimento está sendo restabelecido”, diz o superintendente.

'Fica a angústia'

A obstetra Roxana Knobel, professora da Universidade Federal de Santa Catarina, diz que, mesmo com o uso do medicamento indicado, o risco de transmissÃo da toxoplasmose de mÃe para o filho é incerto. “Quando mais precoce a doença na gravidez, menor a chance de transmissÃo. Mas quando ela acontece, os efeitos costumam ser mais graves”.

Enquanto aguarda os próximos passos na Justiça, Bárbara vai montando o enxoval de Gael com a esperança de que ele nasça com saúde. “Fica aquela angústia de nÃo saber o que vai acontecer. Gostaria muito que esta situaçÃo se resolvesse, pois nÃo desejo a nenhuma futura mÃe o que estou vivendo”, desabafa a psicóloga.

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