O Estado de Santa Catarina foi condenado a pagar uma indenização de R$ 300 mil para uma mulher de 34 anos que foi contaminada pelo vírus HIV após uma cirurgia, em 2009.
A decisão do Tribunal de Justiça foi unãnime, mas cabe recurso. Este é um entre os quatro casos de contaminação por transfusão de sangue registrados no Brasil entre 2007 e 2011, segundo dados do Ministério da Saúde.
Luciane (nome fictício) tinha 31 anos quando foi contaminada pelo vírus – a cirurgia foi feita em uma clínica privada, mas as bolsas de sangue que ela recebeu foram fornecidas pelo Hemocentro de Santa Catarina (Hemosc), unidade vinculada à Secretaria de Estado da Saúde catarinense.
Casada e mãe de dois filhos, Luciane teve de se submeter à cirurgia para retirar um cisto que rompeu, provocando uma severa hemorragia interna. A hemorragia foi grave porque Luciane tomava uma droga anticoagulante diariamente por conta de uma trombose venosa profunda, que ela tratava havia dez anos no próprio Hemosc.
Transfusão
Durante a cirurgia, no entanto, Luciane perdeu muito sangue e recebeu três transfusões. Ela ganhou alta seis dias depois. Já em casa, teve uma febre repentina de quase 40 graus, o que a fez voltar à clínica, onde foi internada de novo.
– Fizeram vários exames e perceberam que a quantidade de leucócitos (células que fazem a defesa do organismo) estava baixa demais. Suspeitaram até que era leucemia -conta a moça.
A leucemia foi descartada e mais uma série de exames foi feita até que veio a confirmação: Luciane estava contaminada pelo vírus da aids.
– Falaram que tinham repetido o meu exame de sangue duas vezes e que eu estava contaminada pelo HIV. Na hora, fiquei surpresa e olhei direto para o meu marido. A gente pensa besteira, né? Ele teve de ser submetido a um exame de sangue para comprovar que não tinha o vírus.
A contaminação aconteceu durante a chamada “janela imunológica” do vírus – fase em que a pessoa contaminada já transmite a doença, mas o agente não é identificado no sangue. A partir de então, a vida do casal mudou completamente. Ela teve de se afastar do emprego, pois trabalha na área da saúde, e ainda espera conseguir uma aposentadoria por invalidez, já que não pode mais exercer a função. Também iniciou o tratamento com antirretrovirais – toma quatro comprimidos por dia.
– Quando vou buscá-los, peço que seja numa sala reservada. Ainda não consigo simplesmente pegar os remédios no balcão da farmácia, na frente de todos.
O marido perdeu o emprego e toma antidepressivos para controlar a depressão e a ansiedade provocadas pela doença da mulher.Luciane não contou sobre o problema para ninguém da família, com exceção dos pais e do marido.
– Nem meus irmãos sabem. Meus filhos nem sonham com isso, eles são pequenos e não entenderiam. Também não falei para amigos nem vizinhos porque a gente sabe que o preconceito ainda é grande – diz.
Apesar de ter conseguido a segunda vitória na Justiça, Luciane ainda não recebeu o dinheiro da indenização. Ela diz que sente revolta quando pensa no que aconteceu.
– É como se tivessem colocado uma bomba relógio em mim, que pode explodir a qualquer momento. Não quero ficar rica. Quero apenas Justiça.
A Procuradoria de Justiça do Estado de Santa Catarina não respondeu se vai ou não recorrer da decisão, alegando que o processo corre em segredo de Justiça. O governo também não respondeu se houve mais contaminações, nem quais medidas foram tomadas para evitar que isso acontecesse de novo. Informou apenas que em 2012 foram feitas 143.683 mil transfusões.
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