O relaxamento de medidas protetivas contra a covid-19, como
o uso de máscaras em locais fechados de forma irrestrita, é prematuro, revela
boletim do Observatório Covid-19, divulgado hoje (11), no Rio de Janeiro, pela
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Os pesquisadores afirmam que as próximas
semanas serão fundamentais para entender a dinâmica de transmissão da doença e
que ainda não é possível avaliar o efeito das festas e viagens no período do
carnaval.
“Flexibilizar medidas como o distanciamento físico
(controlado pelo uso do passaporte vacinal) ou o abandono do uso de máscaras de
forma irrestrita colabora para um possível aumento, e não nos protege de uma
nova onda”, afirma o boletim. “Atualmente, o ideal é voltarmos ao
padrão do início da pandemia, quando recomendávamos fortemente o uso de
máscaras, higienização de mãos e evitar as aglomerações”, destaca.
O texto afirma, ainda, que as medidas de mitigação tomadas
até então para controlar a pandemia ocorreram de forma tardia, quando as ondas
de contágio já haviam se instalado, e não de forma proativa, para impedir que
se formassem.
“Isto significa dizer que o custo humano para chegarmos
ao patamar atual foi a perda de 650 mil pessoas, desnecessariamente. Dito isso,
reforçamos que o relaxamento prematuro das medidas protetivas, assim como não
investir na motivação da população sobre a vacinação, significa abandonar a
história de tantas vidas perdidas”, destacam os pesquisadores.
“Portanto, é importante garantir que as medidas de relaxamento sejam
adotadas em tempo oportuno, sob risco de retrocesso nos ganhos obtidos no
arrefecimento da pandemia”.
O potencial de transmissibilidade da variante Ômicron, que
tem uma capacidade muito maior de escapar dos anticorpos produzidos por
infecções ou duas doses das vacinas, ressaltou a importância da dose de reforço
para todos os adultos, enfatiza a Fiocruz.
“Durante a onda da Ômicron, os países que têm maiores
parcelas da população com dose de reforço apresentaram uma redução substancial
das hospitalizações em relação aos casos confirmados de covid-19. No Brasil, a
dose de reforço já foi aplicada em 31,2% da população. O esquema em duas doses
se encontra em um patamar de 73%. É fundamental, portanto, avançar na cobertura
vacinal com as três doses para a população elegível até o momento (adultos
acima de 18 anos)”, acrescenta o boletim.
Os pesquisadores citam, também, um estudo recente que sugere
que o uso de máscaras deve ser mantido por duas a dez semanas após a meta de
cobertura vacinal ser atingida, entre 70% e 90%. Com o surgimento da variante
Ômicron e sua maior capacidade de escape dos anticorpos, o boletim afirma que
as máscaras ficaram ainda mais importantes.
“A vacinação por si só não é suficiente para controlar
a pandemia e prevenir mortes e sofrimento, é fundamental que se mantenha um
conjunto de medidas combinadas até que o patamar adequado de cobertura vacinal
da população alvo seja alcançado”, acrescenta a publicação.
Casos e óbitos
O cenário atual é de descida nas curvas de casos e óbitos
após o pico da variante Ômicron no Brasil. A Fiocruz alerta, porém, que a
redução da incidência após o pico sempre ocorre de forma mais lenta que a
subida da curva.
O boletim informa, também, que os dados registrados entre 20
de fevereiro e 5 de março mostram uma queda de 48% nos novos casos e de 33% na
média móvel de mortes, na comparação com a quinzena anterior. Mesmo assim,
ainda são registradas, em média, 570 vítimas de covid-19 no país por dia.
Além da queda nos casos, a Fiocruz mostra que também há uma
ligeira redução no índice de positividade dos testes RT-PCR para covid-19.
Devido a isso, a expectativa é que as próximas semanas mantenham a redução dos
indicadores que mais preocupam a população e os serviços de saúde: a
mortalidade e a internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por covid-19.
Os leitos de unidade de terapia intensiva para pacientes com
a doença estão fora da zona de alerta em todas as unidades da federação, exceto
Santa Catarina. Isso significa que nenhum outro estado há mais de 60% das vagas
ocupadas com pacientes graves. Já no Sistema Único de Saúde catarinense, o
percentual está em 79%.
Quarta dose
O boletim ressalta que metade dos óbitos ocorre atualmente
em pessoas com no mínimo 78 anos, o que indica sua maior vulnerabilidade às
formas graves e fatais da covid-19. Diante disso, os pesquisadores defendem a
necessidade de aplicação de uma quarta dose neste grupo, seis meses após a
aplicação da dose de reforço.
Além disso, a Fiocruz aponta um crescimento na proporção de
crianças com covid-19 em relação ao total de infectados. “A maior
vulnerabilidade das crianças, provocada principalmente pela baixa adesão deste
grupo à vacinação, compromete igualmente o grupo que se encontra no extremo
oposto da pirâmide etária”, dizem os pesquisadores.
O boletim da Fiocruz levantou que 12 estados apresentam mais
de 80% da população vacinada com a primeira dose, 15 têm mais de 70% da
população com segunda dose e, em 11 estados, a vacinação de terceira dose está
acima de 30%.
O Piauí é o estado com a vacinação mais avançada em primeira
dose com 91%. Já na segunda e na terceira doses, o estado de São Paulo
apresenta os maiores percentuais: 82% e 45%.
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