PARAÍSO
O professor de Paraíso, Alcione Schneider, acusado de abusar sexualmente de sete alunas em 2011 e, posteriormente, ser absolvido das acusações, concedeu entrevista exclusiva à reportagem do Gazeta Catarinense nesta semana. Acompanhado da filha e da mãe, o professor de 48 anos, que voltou a dar aulas há cerca de um mês, diz que lutará por justiça, pois alega ter sido vítima de uma “armação mesquinha e caluniosa”. Schneider foi inocentado no dia 3 de julho, pela decisão da juíza da Comarca de São Miguel do Oeste, Juliana dos Santos Heerdt, que seguiu recomendação do Ministério Público, que também emitiu posicionamento pela absolvição, por falta de provas.
A definição do caso ocorreu após as supostas vítimas, em juízo, negarem as acusações relatadas anteriormente e, algumas delas, afirmarem terem sido orientas por uma terceira pessoa, maior de idade, a fazer tais acusações contra o professor. Schneider diz esperar que uma investigação seja aberta para a apuração do caso. “Não sei de onde partiu isso. Queremos que seja apurado e os culpados que respondam perante a lei”, comenta. Questionado se tem alguma desavença com a pessoa citada pelas crianças no depoimento, Schneider diz conhecer apenas de vista e que não tem nenhum atrito com ela.
O professor acrescenta que espera limpar sua reputação e seguir com a vida, mesmo que ainda enfrente problemas devido ao ocorrido. “Há alguns meses, estava dançando com uma pessoa em um matinê e ela me questionou sobre o caso do professor estuprador de Paraíso. Como é que a gente se sente com isso? Tive que desconversar e dizer que não eram acusações verdadeiras”, relata.
Reflexos negativos na família e nos filhos
Conforme Alcione, apesar de ter recebido apoio de muitas pessoas durante o caso, ele teve que enfrentar várias complicações devido as acusações. Segundo ele, a mãe, Aurea Schneider, passou noites sem dormir e teve problemas de hipertensão, abalada em ver o filho preso, acusado de tal crime. “Entreguei nas mão de Deus. Porque o diabo faz a panela, mas não a tampa. Ele sempre falava que era inocente. Eu passei um período bem difícil. Tenho 78 anos, sou mãe de 11 filhos e cuidei meu marido doente por 19 anos, sendo que cinco desses anos, com ele sendo tratado como uma criança. Mas, em nenhum momento passei por algo assim, tão difícil. Sempre pensei que Deus nos dá uma cruz que podemos carregar, mas essa cruz eu não aceito. Isso não pode acontecer. Moro há 60 anos aqui no Paraíso, criei todos meus filhos aqui e ninguém nunca fez mal para ninguém”, afirma.
A filha de Alcione, Josiane Schneider, revela que sempre acreditou no pai e, emocionada, relata que jamais imaginou em ter que ir visitá-lo na cadeia. “O que mais foi difícil foi visitar ele na cadeia. Saber que era inocente e estava lá, preso”, comenta. Ela acrescenta que além de ser filha de Alcione, também foi aluna do professor e nunca presenciou um comportamento errado do pai, seja em casa ou na escola. “Por isso eu tinha certeza que ele era inocente”, afirma.
Josiane relata que os fatos ocorreram no período em que concluía a graduação e que o caso prejudicou seu desempenho nos estudos. “Não conseguia me concentrar, só pensava nisso tudo. Acabei indo muito mal no meu TCC e, por sorte, deixaram eu refazê-lo”, revela. No núcleo de amigos, Josiane diz que não teve problemas. “Não tive porque todos eles conhecem meu pai e sabem que ele não seria capaz de fazer algo assim”, defende.
Alcione Schneider relata que o filho Jeisson, hoje de 14 anos, também sofreu com o caso, quando um cidadão o ofendeu moralmente. “Mesmo que eu tivesse feito algo, meu filho não poderia ser responsabilizado por isso”, argumenta. De acordo com o professor, durante o processo, só não passou fome porque foi ajudado pela família, já que foi afastado do cargo de professor e não recebia salários.
O fato também repercutiu negativamente na vida dos irmãos, já que entre os 11 filhos de dona Aurea, há outros três irmãos professores. “Queira ou não, as pessoas e a sociedade fazem essa ligação, pois eles também são professores. Se eu tivesse feito algo assim, é natural que as pessoas pensam que os irmão também pudessem fazer”, argumenta.
EXPERIÊNCIA NEGATIVA NA CADEIA
Após ser detido, Alcione passou um mês preso na Unidade Prisional Avançada de São Miguel do Oeste. Devido à graduação superior, ficou preso com detentos em final de pena e os de bom comportamento. Mesmo assim, segundo ele, isso não lhe livrou de momentos de pãnico, já que parentes de detentos de outra ala o alertavam que se fosse para o outro setor sofreria com a violência. “Falavam que lá eles iriam me picar todinho, que iriam me matar, que não ia sobrar nada de mim”, revela.
Segundo Alcione, enquanto esteve na cadeia pensou por diversas vezes em tirar a vida e afirma que só não o fez porque, dessa forma, assumiria a culpa. “Só não me suicidei porque que sei que se tivesse me matado, todas essas inverdades se tornariam verdades”, comenta.
De acordo com o professor, o caso ocorreu em um momento em que estava fragilizado, pois enfrentava um quadro profundo de depressão. Ele acredita que se a família não tivesse ficado ao seu lado, não teria suportado. “Um dos momentos mais emocionantes da minha vida foi quando meus filhos foram me visitar na prisão, mesmo que eu tenha pedido para que não fossem, pois não queria que me vissem lá”, revela. “Minha Família nunca duvidou da minha inocência. Somos em 11 irmãos, nunca ninguém teve problemas com a justiça. Nunca ninguém duvidou de minha inocência”, acrescenta.
Alcione afirma que no município também recebeu apoio de todos os professores. “Tenho 26 anos de magistério. Fiz da escola minha vida e nunca teve nada contra mim”, complementa.
INVESTIGAÇÃO
Na decisão, a juíza Juliana dos Santos Heerdt notifica que os autos do processo sejam remetidos à 1ª Promotoria de Justiça da Comarca para apuração de eventual crime/ato infracional de denunciação caluniosa. Em contato com a Promotoria na quarta-feira à tarde, foi informado à reportagem que a promotora Larissa Takashima ainda não havia recebido nenhuma informação e que, assim que receber, o caso tramitará em segredo de justiça, não sendo possível prestar informações.
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