O ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot disse nesta quinta-feira (26) que entrou uma vez no Supremo Tribunal Federal (STF) armado com uma pistola com a intenção de matar o ministro Gilmar Mendes, por causa de insinuações que ele fizera sobre sua filha em 2017.
— Não ia ser ameaça, não. Ia ser assassinato mesmo. Ia matar ele (Gilmar) e depois me suicidar — afirmou Janot ao jornal O Estado de S. Paulo.
O ex-procurador narra o episódio no livro de memórias que está lançando neste mês, sem nomear Mendes, mas confirmou sua identidade ao ser questionado pela reportagem na entrevista desta quinta.
— Tenho uma dificuldade enorme de pronunciar o nome desta pessoa — disse.
O motivo seria uma desavença entre os dois durante a análise de um habeas corpus do empresário Eike Batista. Em maio de 2017, como procurador-geral, Janot pediu a suspeição Gilmar Mendes em casos do empresário, que se tornara alvo da Lava-Jato e era defendido pelo escritório de advocacia do qual a mulher do ministro, Guiomar Feitosa Mendes, é sócia.
O ministro do STF reagiu, na época, levantando suspeitas sobre a atuação da filha do procurador, Letícia Ladeira Monteiro de Barros, que é advogada e representara a empreiteira OAS no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Segundo Gilmar, a filha do ex-PGR poderia “ser credora por honorários advocatícios de pessoas jurídicas envolvidas na Lava-Jato”.
— Foi logo depois que eu apresentei a sessão (…) de suspeição dele no caso do Eike. Aí ele inventou uma história que a minha filha advogava na parte penal para uma empresa da Lava-Jato. Minha filha nunca advogou na área penal… e aí eu saí do sério — declarou ao Estadão.
Na entrevista, Janot disse que seu plano era matar Gilmar Mendes antes do início da sessão no plenário do STF.
— Ele estava sozinho. Mas foi a mão de Deus. Foi a mão de Deus. Cheguei a entrar no Supremo. Ele estava na sala, na entrada da sala de sessão. Eu vi, olhei, e aí veio uma “mão” (de Deus) mesmo.
O ex-procurador disse que não entrou no plenário do tribunal armado e que pediu ao vice-procurador-geral da República para o substituir na sessão do Supremo, pois ele estaria se sentindo mal. Janot relatou à reportagem que a relação que tinha com Gilmar não era boa até esse episódio e que, depois, preferiu encerrar o contato.
Em entrevistas à revista Veja e ao jornal O Estado de São Paulo, Janot acrescentou que pretendia se suicidar depois de matar Gilmar Mendes.
Segundo o relato do ex-procurador, que se aposentou em abril deste ano e voltou à advocacia, o episódio ocorreu perto do fim do seu segundo mandato à frente da Procuradoria-Geral da República, que ele chefiou por quatro anos.
Em seu livro de memórias, Nada Menos que Tudo (editora Planeta), escrito com a colaboração dos jornalistas Jailton de Carvalho e Guilherme Evelin, Janot faz um balanço de sua atuação à frente da Operação Lava-Jato e rebate as críticas que recebeu durante sua atribulada gestão.
O Estadão procurou Gilmar Mendes, que não havia se pronunciado até a publicação deste texto.
Revelações em livro
Em entrevista à revista Veja, publicada na noite desta quinta-feira, Janot comenta sobre outros pontos abordados no livro, além de falar sobre figuras públicas como o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, o ex-senador Aécio Neves e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo o ex-procurador-geral, Cunha é “o pior dos criminosos” e estaria por trás de uma invasão à casa dele, em 2015. “Era um recado, uma ameaça. Pelo cheiro, suspeito que foi obra do Eduardo Cunha”, disse.
Sobre Aécio, Janot afirma que o então senador, já investigado por recebimento de propina, o convidou para ser candidato a vice-presidente em sua chapa nas eleições de 2018. “É óbvio que era uma tentativa de cooptação”, afirmou Janot.
Já sobre Lula, o ex-titular da PGR declarou: “Não tenho dúvida de que ele é corrupto”. Segundo Janot, “é impossível que Lula não fosse um dos chefes de todo esse esquema (criminoso)”.
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