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Estudo identifica substância que pode conter avanço de Parkinson

Última atualização 8 de maio de 2022 - 11:23:45

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP)
identificaram substância capaz de barrar o avanço da doença de Parkinson. A
AG-490, constituída à base da molécula tirfostina, foi testada em camundongos e
impediu 60% da morte celular. Ela inibiu um dos canais de entrada de cálcio nas
células do cérebro, um dos mecanismos pelos quais a doença causa a morte de
neurônios. Não há cura para o Parkinson, apenas controle dos sintomas.

 “Estamos sugerindo que é esse composto que pode um dia,
depois de muita pesquisa, que inclusive estamos continuando, ser usado na
medicina humana”, explica o professor Luiz Roberto Britto, que coordena o
projeto em conjunto com pesquisadores do Instituto de Química da USP e da
Universidade de Toronto, no Canadá. Os resultados foram publicados na revista
Molecular Neurobiology.

 A doença de Parkinson é caracterizada pela morte precoce ou
degeneração das células da região responsável pela produção de dopamina, um
neurotransmissor. A ausência ou diminuição da dopamina afeta o sistema motor,
causando tremores, lentidão de movimentos, rigidez muscular, desequilíbrio,
além de alterações na fala e na escrita. A doença pode provocar também
alterações gastrointestinais, respiratórias e psiquiátricas.

 “A doença é progressiva, os neurônios continuam morrendo,
esse é o grande problema. Morrem no começo 10%, depois 20%, mais um pouco,
aliás o diagnóstico só é feito praticamente quando morrem mais de 60% naquela
região específica do cérebro”, explica Britto. A identificação dessa substância
pode estabilizar a doença em certo nível. “Não seria ainda a cura, mas seria,
pelo menos, impedir que ela avance ao longo dos anos e fique cada vez mais
complicado. O indivíduo acaba morrendo depois por complicações desses quadros.”

 Substância

Britto explica que a AG-490 é uma substância sintética já
conhecida da bioquímica. A inspiração para o trabalho veio de um modelo
aplicado no Canadá, que mostrou que a substância teve efeito protetor em AVC,
também em estudos com animais. Ele acrescenta que não são conhecidos ao certo
os mecanismos que causam a doença, mas há alguns que favorecem a morte de
neurônios. “Acúmulo de radicais livres, inflamação no sistema nervoso, erros em
algumas proteínas e excesso de entrada de cálcio nas células”, cita.

 O estudo, portanto, começou a investigar esse canal de
entrada de cálcio que se chama TRPM2. Pode-se concluir, com a pesquisa, que
quando o canal é bloqueado, a degeneração de neurônios, especificamente nas
regiões onde eles são mortos pela doença, diminuiu bastante. “A ideia é que,
talvez, se bloquearmos esses canais com a substância, ou outras que apareçam,
poderemos conseguir, pelo menos, evitar a progressão da doença depois que ela
se instala”, diz o pesquisador. 

As análises seguem e agora um dos primeiros passos é saber
como a substância se comporta com uma aplicação posterior à toxina que induz à
doença. Britto explica que no modelo utilizado, a toxina e o composto foram
aplicados quase simultaneamente. Os pesquisadores querem saber ainda se o
composto administrado dias depois da toxina levará à proteção dos neurônios.

 “Outra coisa que a gente precisa fazer, e já conseguiu os
animais para isso, é usar um modelo de camundongo geneticamente modificado, que
não tem esse canal TRTM2. Esperamos que os animais que não têm, geneticamente,
esses canais para cálcio, sejam teoricamente mais resistentes a esse modelo de
doença de Parkinson”, acrescenta.

 Também será necessário avaliar possíveis efeitos colaterais.
“Esses canais de cálcio estão em muitos lugares do sistema nervoso e fora do
sistema nervoso também. Bloqueando os canais, pode ser que se tenha alguma
repercussão em outros lugares. Precisamos avaliar isso”. As análises seguem com
o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

 

Edição: Graça Adjuto

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