Nas eleições deste ano,
21.496.709 dos brasileiros que foram às urnas deixaram de votar em um candidato
a senador. Segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a quantidade de
votos nulos e em branco para o Senado foi a maior em relação aos demais cargos
eletivos que estavam em disputa.
O dado registrado em 2022
corrobora uma tendência histórica. Tradicionalmente, as votações para senador
sempre registram mais votos em branco ou nulos, sobretudo nos anos em que é
necessário votar em dois candidatos. Em 2018, última vez que isso aconteceu, o
TSE contabilizou 63.012.277 votos em branco ou nulos para senador.
Na avaliação de especialistas, um
dos motivos para que isso aconteça é a pouca proximidade entre o eleitorado e
os candidatos ao Senado. O cientista político Leandro Gabiati explica que
políticos que disputam outros cargos, sobretudo para deputado, governador ou
presidente, são mais presentes durante a campanha e conseguem maior
identificação com a população, que vê nessas pessoas chances mais concretas de
que políticas públicas importantes sejam realizadas.
Não à toa, a votação para senador
neste ano foi a única que teve mais de 20 milhões de votos em branco ou nulos.
De acordo com o TSE, 5.452.653
eleitores votaram em branco ou nulo para presidente; 14.709.525, para
governador; 12.986.522, para deputado federal; e 13.372.445, para deputado
estadual ou distrital.
“O senador acaba sendo sempre a
última escolha que o eleitor faz. Ele decide para presidente, para governador,
deputado federal e estadual ou distrital, mas deixa de definir um senador por
não haver tanto apelo político ao cargo. Geralmente, a maioria dos candidatos
vai para a rua, se mobiliza e se articula, mas o senador tem outro tipo de
perfil político. Não tem tanta movimentação e, com isso, acaba tendo menos
relevância dentro da escolha do eleitor”, analisa o cientista político.
Candidatos famosos e eleição
diluída
Na opinião de Gabiati, devido ao
fato de o cargo de senador ser disputado principalmente por pessoas com longa
trajetória na política e que já ocuparam outras posições de importância, é
natural que abram mão do corpo a corpo e apostem apenas no próprio nome para
fazer campanha.
“Sempre temos candidatos que
foram ministros de Estado, governadores e até presidente da República. Então,
isso talvez afaste esse tipo de candidato do eleitorado”, diz. Para o
especialista, contudo, mesmo os candidatos com fama deveriam reforçar os laços
com os eleitores. “Certamente, aqueles políticos que optem por uma campanha
mais presente, com mais atos na rua ao lado de potenciais eleitores, podem
ajudar a diminuir a votação de brancos e nulos para o Senado.”
O cientista político Valdir Pucci
acrescenta que o formato das eleições gerais faz com que os candidatos ao
Senado acabem esquecidos pelo eleitor. “Isso é fruto do sistema eleitoral que
temos no Brasil, que coloca em uma mesma eleição diversos cargos em disputa,
desde presidente da República até deputado estadual. Isso faz com que a
observação do eleitor se dilua ao longo da eleição e os candidatos ao Senado
fiquem à margem do processo”, opina.
Pucci pontua, também, que o
trabalho do senador não é muito claro para o eleitorado. “Muitos brasileiros
veem os senadores como um deputado de luxo, que tem oito anos de mandato, e não
como um político com funções específicas do Senado Federal. E ainda há o
agravante de que o senador representa o seu estado ou unidade da Federação, e
não o povo diretamente”, frisa.
“A importância do senador,
portanto, deveria ser melhor demonstrada à sociedade durante a campanha.
Havendo essa mudança e uma melhor percepção da sociedade sobre o Senado,
teríamos uma participação maior na votação, mais parecida com a de outros
cargos eletivos”, completa.
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