SÃO MIGUEL DO OESTE
Enquanto centenas de pessoas estão na pista dançando, a DJ Juliana Baldi, de 23 anos de idade, trabalha muito para garantir a diversão do público. A carreira de DJ iniciou quando ela começou a trabalhar na Rádio Ipanema FM 94.9, do Grupo Bandeirantes, em Porto Alegre (RS). “As pessoas queriam que eu tocasse nas festas as músicas que rodava no rádio e foi aí que tudo começou. Com o tempo fui ganhando reconhecimento e comecei a produzir festas e gerenciar outros DJ’s”, conta Juliana, que é de São Miguel do Oeste e ainda tem toda a família aqui.
Hoje Juliana trabalha como produtora de três festas no Caberet!, uma tradicional casa noturna em Porto Alegre. “Sou DJ residente do Clube 688 e também toco em festas particulares, para eventos e coquetéis de várias marcas do segmento imobiliário e da moda”, diz Juliana. Mas as apresentações da jovem não ficam restritas apenas à capital gaúcha. Ela já tocou em Caxias do Sul (RS), Gramado (RS), Novo Hamburgo (RS), São Paulo e abriu shows para Mallu Magalhães, B’52, Meca Festival e CSS. Os Estados Unidos também conheceu o talento da jovem, quando ela tocou em Lafayette, cidade próxima a Chicago, e foi correspondente de um dos blogs mais acessados de música, o blog Popload, do jornalista Lúcio Ribeiro.
Para conquistar reconhecimento na profissão, Juliana precisou adquirir conhecimento musical de vários estilos. “Você pode tocar apenas um tipo de música, mas o que lhe diferenciará dos outros é o conhecimento. O carisma também é muito importante, afinal o DJ é responsável pelo clima da festa ou do evento”, pontua Juliana, que tem o estilo focado no Rock/IndieRock e mesmo assim sempre leva junto na mochila CDs de outros estilos, como o Funk 70, Black Music, Hip-Hop e Pop.
A mídia utilizada também contribui para conquistar a empatia e a interação com o público. “Há outra performance quando se toca com um CD, pois se consegue mais desenvoltura e interação com o público. Já o computador deixa o evento mais sério, sem falar na preocupação que o profissional deve ter para não molhar ou estragar o equipamento”, salienta Juliana, que utiliza uma controladora Macbook Pro, depois de tocar por muito tempo só com CDs e fones. No Brasil, a cultura do vinil continua sendo muito apreciada pelos mais famosos DJ’s do País, como Zegon utilizam este tipo de mídia.
Segundo Juliana, hoje o grande desafio é absorver o maior número de discos e bandas. Para conseguir a empatia do público vale também investir nas redes sociais. “Estou sempre conectada, uso muito o Facebook e o Twitter. As pessoas sempre pedem alguma dica e interagem com as postagens de festas”, frisa Juliana.
Entretanto, quem pensa que a vida deste profissional é só diversão está enganado. Quando os finais de semana agitados dão lugar a segunda-feira, o trabalho e a dedicação continuam. “Todos os dias escolho músicas e repasso ao público. O que muda é o ambiente de trabalho. Durante o dia trabalho no estúdio de rádio e à noite nas festas. Mesmo assim não me vejo atuando em outra área que não envolva a música e todo o universo que gira em torno dela”, constata a jovem.
Juliana ainda quer ser reconhecida como comunicadora e jornalista. Prestes a se formar em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica (PUC), a jovem apresenta de segunda a sexta-feira os programas “Lado N” e “Ipanema Rock Show”, das 14 às 17h. Grande parte dos artistas que passam por Porto Alegre são entrevistados no programa. Assim Juliana já entrevistou Raimundos, Marcelo Camelo, Criolo, Tulipa Ruiz, além de Miami Horror, Vampire Weekend, Larry Tee, Nick McCarthy e Vicent Moon. “Já viajei três vezes para os Estados Unidos para cobrir grandes festivais de música, entre eles Lollapalooza, em Chicago, e Coachella, na Califórnia”, finaliza Juliana.
Paixão pela música mantém DJ na profissão há mais de duas décadas
Arno Almiron da Costa é DJ há 26 anos. Nestas mais de duas décadas de profissão já tocou em vários lugares do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e em São Paulo. “Sempre fui muito ligado à música desde criança. Isso fez com que optasse por esta profissão”, enfatiza Arno, que reside em São Miguel do Oeste. O estilo que Arno mais gosta e curte de tocar é o House, mas ele conta que cada festa exige uma atenção diferenciada. “Na hora de preparar o repertório é preciso ter ‘feeling’ e respeitar o estilo da festa e do público, além de ter coragem para apresentar músicas novas que ainda não estão na mídia”, ressalta.
Em cada festa são tocadas de 100 a 200 músicas. “Tudo depende do que eu faço com elas. Posso simplesmente tocá-las ou compor ‘samples’ (extrair trechos) para fazer uma música completamente nova”, elucida. Arno se espelha em grandes DJ’s tradicionais, como Carl Cox, Little Louie Vega, Eric Morilo, Meme Mansur, Iraí Campos e Ricardo Fanzeres.
Durante as duas décadas de carreira, Arno tocou boa parte do tempo com vinil, depois passou para os players de CD e hoje toca com MP3, utilizando tanto players como controladoras plugadas em Macbook Pro. “O equipamento é apenas uma extensão da capacidade do profissional, nada adianta ter o melhor equipamento se não souber manuseá-lo. É preciso ter sensibilidade, técnica e humildade”, reforça Arno.
No universo da música é difícil definir o tipo que as pessoas mais curtem. Segundo Arno, a música perdeu a identidade e muitas se tornaram comerciais com um apelo sem sentido, simplesmente para serem vendidas e não para as pessoas se identificarem. “Cada Estado tem uma preferência específica, contudo, com advento das redes sociais, as distãncias se encurtaram e determinados estilos atingiram fronteiras que até muito tempo atrás era difíceis de serem alcançadas”, avalia.
A remuneração de um DJ varia muito conforme a data e o lugar em que o evento será realizado. O cachê de Arno por festa varia entre R$ 500 a R$ 1 mil. Arno diz que é possível se manter com esta profissão, mas mesmo assim concilia o trabalho de DJ com o de comunicador na rádio Top 104 FM. “Adoro trabalhar em rádio, pois são duas profissões que se complementam”, observa. Os desafios no mercado são muitos e a concorrência é um deles. “Existem os trocadores de música que prostituem o mercado. Eles tocam por R$ 50,00 ou R$ 100,00, às vezes até por bebida ou por ingressos em festas”, lamenta. É preciso também ter jogo de cintura para saber lidar com pessoas que pedem ritmos que não condizem com a festa.
Logo no início da carreira Arno teve que mostrar à família que valia a pena investir na profissão. “Quando comecei, a profissão era um pouco marginalizada, mas com o tempo fui ganhando mais dinheiro do que se estivesse exercendo outras profissões”, conta Arno, que acredita que todo trabalho feito com responsabilidade e amor tem resultados positivos. Em duas décadas de profissão, Arno também teve que se acostumara passar dias e noites acordado, inclusive para ficar ao lado da família. “Mesmo com estes desafios, a música me completa e acredito que hoje as pessoas sabem que uma boa festa depende de um bom DJ”, finaliza Arno.
Primeiros DJ eram todos radialistas
Os primeiros DJ’s das pistas de dança eram radialistas que selecionavam músicas para tocar em seus programas, nos anos 70. Atualmente muitos são tidos até mesmo como celebridades, mas antes eram conhecidos como “os rapazes do som” e depois passaram a ser chamados de “Disc-Jockey”. Com o tempo, eles foram ganhando espaço nas festas que antes eram animadas por conjuntos musicais e com isso ganharam a fama de animar as festas mais badaladas.
Com a popularização dos Disc-Jockei’s sentiu-se a necessidade de aperfeiçoar as técnicas de remixagem e apostar na seleção de músicas. A profissão foi bastante influenciada pela cultura norte-americana, inclusive pelo filme “Embalos de Sábado à Noite”. Nos estilos internacionais, os profissionais encontraram diversos estilos para animar as pistas de danças, entre eles o Techno, Euro Dance e Electro House.
Uma das primeiras mídias utilizadas foi o gramofone, no qual eram executadas sequências musicais. Logo depois, chegou ao mercado a tecnologia do Lon Play, com o famoso “bolachão” ou disco de vinil. A partir da década de 90, o CD ganhou força e importantes fabricadores de equipamentos começaram a investir neste mercado. Assim, muitos equipamentos que eram grandes e pesados passaram a caber em uma mala pequena e portátil.
Com o pontapé inicial dos radialistas, mais pessoas aderiram à atividade, apesar do alto custo da aparelhagem. Hoje a profissão é uma das mais cobiçadas pelos jovens. Entretanto, para ser um DJ é preciso amar música e estar disposto a buscar incansavelmente novos sons. Neste mercado, há os DJ’s produtores, os quais são proprietários de estúdios e gravadores, os DJ’s de festas particulares, o de baladas e os que têm empresa com estrutura audiovisual para eventos.
REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO
O primeiro passo para a regulamentação da profissão foi dado em 2011, quando o Senado aprovou o projeto de lei que tratava sobre o assunto. O projeto propÔs que a atividade fosse incluída na lei número 6.533, que trata da regulamentação das profissões de artistas e técnicos em espetáculos e diversões. O texto criou ainda uma reserva de mercado, tornando obrigatória a participação de 70% de profissionais brasileiros em eventos promovidos no País com atrações estrangeiras.
O projeto de regulamentação também visa exigir que o profissional obtenha o registro na superintendência regional do Trabalho e Emprego, com validade em todo o País. Muitos profissionais esperam que com a regulamentação da profissão celebridades que não tenham nenhuma técnica e entendimento em música deixem de ocupar espaço no mercado de trabalho.
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