Você se imagina, várias vezes, que está no cinema, na sorveteria ou em qualquer lugar bem longe do escritório? Diagnóstico: seu trabalho deve estar muito tedioso. Você não é a única a odiar seu emprego. Quase metade das pessoas entrevistadas pela Right Management, consultoria de recursos humanos, está insatisfeita com o trabalho: 5 700 profissionais responderam “não” ao serem perguntados se eram felizes com a atividade atual. Pois é. Mas não precisa bater na porta de outra empresa ou ir para outra área. Reverter o quadro sem pedir demissão é mais esperto. “Ficar na mesma empresaé melhor por causa do vínculo, que é o que faz você crescer e ser promovida”, diz a consultora Elaine Saad. Mudar de endereço aumenta o tempo para construir vínculo na nova organização. E o pior: os problemas podem voltar. Os motivos que fazem você chorar nas noites de domingo geralmente são os mesmos que poderiam deixá-la tão entusiasmada quanto ter o salário do Bill Gates. Ou até mais. Dinheiro até traz felicidade, mas não tão duradoura quanto a gerada pelos fatores a seguir:
O chefe
Quase sempre ele é o causador dos problemas. “O chefe imediato é responsável por até 75% dos pedidos de demissão”, diz Elaine. As queixas são as mais variadas: ele “Não ouve minhas ideias”, “Não valoriza meu trabalho”, “Pede coisas impossíveis”, “Nunca explica o que quer”, “Esquece que eu sou só uma”… Se você costuma repetir algum desses mantras, saiba que apenas reclamar não adianta. Em vez disso, fale. Sim, só assim pode mudar algo. “Não dá para demitir o chefe, mas dá para ensiná-lo a trabalhar com você”, diz a consultora de RH Stella Angerami. Seja clara e objetiva, sem esquecer a hierarquia. Da próxima vez que ele despejar em sua mesa uma pilha de tarefas urgentes, mas impossíveis de ser realizadas em um dia, diga: “Preciso saber quais são as prioridades para me organizar, porque não vou conseguir fazer tudo hoje”. Acredite, dá certo.
O orgulho
“Para ter felicidade profissional, você precisa enxergar um significado para o seu trabalho e ver que é valioso e útil para si e para os outros”, diz o professor Anderson Sant'Anna. Quem não vê sentido para o seu suor de todo dia dificilmente se mantém satisfeito com o que faz. A saída é entender melhor os processos da empresa e identificar como as tarefas que executa se encaixam no contexto. Você pode ter que conversar com os colegas e com o chefe. Para fazer bem a sua parte, é preciso entender de que forma você contribui.
O reconhecimento
Todo mundo quer saber se o que faz está agradando. Vai bater desãnimo se a dedicação for total e a empresa nunca der sinais de que você é importante – seja aumentando suas responsabilidades, seja escalando você para uma viagem ou para um curso. “Quando não há retorno, a sensação é de dar muito sem receber nada”, diz Elaine. “Mas só ouvir parabéns basta.” Se nunca escutou algo parecido, diga para seu chefe: “Gostaria de ter uma avaliação do meu trabalho, dos meus pontos fortes e do que posso melhorar”. Se não quiser algo tão formal, sonde caso a caso: “E aquele relatório que fiz, será que posso usá-lo como modelo?” Repita a operação sempre que necessário. Quanto ao curso ou à viagem, pague para ver: candidate-se e ouça a resposta.
Os desafios
Não há quem resista a passar anos fazendo a mesma coisa. A gente precisa de desafios para testar capacidades e para desenvolver novas aptidões. “Quem não os tem pode cair na síndrome da estagnação”, diz o consultor Gutemberg B. de Macedo. De novo: se está faltando esse ingrediente, você precisa se mexer. “Você pode se candidatar para assumir um projeto mais complexo dentro da própria empresa”, diz Macedo. A dica é ficar sempre de olho nas oportunidades. Se a companhia ganhou um novo cliente de uma área que você domina, dê ideias e mostre que entende do mercado.
As perspectivas
“Ainda que você goste do que faz e da empresa em que está, se quando olha para a frente pensa que vai morrer no mesmo lugar, vai se sentir insatisfeita”, afirma Elaine. Aqui não tem segredo: se você acha que já passou da hora de ser promovida, encontre o momento para conversar sobre o assunto com o chefe. De novo, seja objetiva: “Não é só dizer 'Quero crescer', mas 'Tenho condições de crescer e de assumir isso e aquilo'”, diz Elaine. Antes, porém, a especialista aconselha fazer uma avaliação realista sobre as suas capacidades e estocar munição para a conversa. Será preciso explicar e dar exemplos bem práticos de por que você se sente preparada para subir – e, se o chefe não parecer pensar o mesmo, convencê-lo disso.
O equilíbrio
Se você trabalha demais e tem sido impossível encontrar as amigas, deve estar infeliz e estressada com as horas que passa fora de casa. “A verdade é que a maioria não usa o tempo da melhor forma”, diz Macedo. A solução está na organização. O ideal é estabelecer metas e prioridades diariamente: identifique as atividades urgentes e as que são importantes mas podem esperar e dirija toda a sua energia para realizar o que interessa. Se isso virar rotina, vai sobrar espaço na agenda para pegar um cineminha, namorar, fazer academia. Macedo só faz um alerta: “Tem sempre um chefe que telefona a qualquer hora e você se sente na obrigação de atender”. Nesse caso, dar um basta é função toda sua.
Os colegas
“Relacionar-se é outro fator para a felicidade no trabalho”, observa Sant'Anna. Claro, você não precisa viajar para a praia com o pessoal do escritório, mas, se está desenturmada, saiba que dá para tornar o ambiente agradável. “Manter uma convivência amistosa é o primeiro passo”, diz Stella. Além disso, tente achar pontos em comum com alguns colegas. Assim, terá companhia para almoçar e tomar um café durante a tarde – aos poucos, o ambiente parecerá mais acolhedor. O problema acontece quando você não tem o perfil da empresa. Aí, sim, mudar é a melhor escolha.
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