O secretário de Estado da Saúde, André Motta Ribeiro, está preocupado com a aceleração da Covid em Santa Catarina. Segundo ele, a dificuldade das pessoas em seguir as regras de distanciamento está acarretando em um novo aumento de casos, que eventualmente, refletirão no crescimento dos óbitos.
Outra preocupação de Ribeiro é com a estrutura hospitalar. Para o secretário, o Estado precisa manter todos os leitos de UTI até o fim do ano e, para 2021, pelo menos metade das novas unidades de terapia intensiva que foram habilitadas.
Em entrevista à Rede Catarinense de Notícias, Ribeiro comentou sobre o novo momento da pandemia em Santa Catarina, avaliou as ações adotadas até aqui, e defendeu a manutenção de critérios técnicos na tomada de decisão sobre a pandemia.
Sua permanência é dada como difícil, mas ainda não houve uma conversa entre os dois. O encontro está marcado para esta sexta-feira (6), quando discutirão o futuro da Secretaria de Estado de Saúde (SES). Daniela afirmou que dará um “direcionamento diferente” à pasta.
Rede Catarinense de Notícias – Tivemos um setembro com números controlados e uma explosão de casos em outubro. Somado a isso, tivemos uma redução na média de óbitos. Como o senhor avalia esse novo momento da pandemia?
André Motta Ribeiro – Na verdade, eu tenho alertado que nós precisávamos estar muito atentos, porque a possibilidade do retorno do aumento nos casos era muito grande, até porque estamos no meio da pandemia. Não saímos da pandemia. E aqui no nosso Estado, no Brasil como um todo, nós temos uma característica diferente da Europa, onde teve uma onda muito clara, a primeira onda, os casos quase zeraram, e aí sim começou a segunda onda. Nós não. Estacionamos num patamar alto e por conta de tudo que está acontecendo, da dificuldade das pessoas entenderem a necessidade de cumprir os regramentos, de distanciamento, uso de máscara, de não se aglomerar, esses casos voltaram a aumentar. Agora também começam a aparecer os casos mais graves, com as UTIs começando a ficar de novo com sua ocupação aumentada. Tudo é um desenho de uma história natural de uma doença infectocontagiosa, que apesar de todo esforço dos gestores, ainda existe uma certa dificuldade das pessoas entenderem os motivos que nós estamos orientando.
RCN – Em agosto, tivemos um crescimento na média de óbitos relacionada com o avanço da doença e atualmente não observamos isso. Esse aumento no número de óbitos ainda vai chegar?
Ribeiro – Eu espero que a gente mantenha num patamar menor, mas isto é apenas uma esperança. Nós temos algumas coisas para considerar. Primeiro que toda a rede de saúde acabou entendendo melhor como o vírus se comporta. Estamos mais eficientes no diagnóstico precoce e no tratamento desse doente, o que diminui a gravidade dos casos. Percebemos também que o aumento dos casos está acontecendo principalmente na faixa de 30 a 40 anos, que acabam não tendo um agravo mais sério, mas essas pessoas contaminam os mais frágeis. E por conta disso, os óbitos acabam demorando para aparecer, mas me parece que, infelizmente, esses óbitos virão. Podemos estar mais preparados, atendendo melhor os doentes, mas os doentes mais frágeis, os idosos, doentes crônicos, assim que houver circulação de novo do vírus nessa camada da sociedade, nós vamos ter óbitos de novo. Essa é a expectativa, e tudo que estamos fazendo é pra evitar que isso aconteça. Mas esse é um fenômeno que também está acontecendo na Europa. Aumentaram os casos, mas os óbitos demoraram para aparecer. Mas os óbitos vão aparecer.
RCN – Atualmente temos pouco mais de 1,4 mil leitos SUS no Estado. Que perspectiva o senhor tem para manter estes leitos a médio e longo prazo? A gente vai ter redução de leitos ou essa estrutura permanece até ano que vem?
Ribeiro – Temos quatro pilares importantes nesse momento do enfrentamento. Um desses pilares é a manutenção da estrutura de terapia intensiva em SC. Eu tenho dito que nós precisamos manter até 31 de dezembro de 2020 todos os leitos ativos. O Ministério [da Saúde] não entende assim, tanto que em 30 de setembro revogou a portaria de emergência e calamidade em saúde, e por conta disso nós estamos tendo dificuldades na habilitação de leitos. Mas o Estado de SC tem uma proximidade muito grande com o Ministério e estamos solicitando habilitações de custeio até o fim do ano. Paralelamente a isso, SC está propondo que o Estado e os municípios que estão recebendo recursos da portaria 1666, que é pra custeio Covid, que passem esse custeio para os hospitais a fim de que não se perca nenhum leito de UTI. Isso porque bem provavelmente iremos utilizar todos esses leitos.
RCN – E a partir do ano que vem correríamos um risco de não ter todos os leitos disponíveis?
Ribeiro – O enfrentamento da crise é um enfrentamento dinâmico. A gente aprende todo dia, todas as semanas, nós e também o Ministério da Saúde. De qualquer forma SC já se manifestou para manter no minimo 50% dos leitos extras colocados nesse ano para 2021. Significa que dos 760 leitos novos que eu coloquei, estou solicitando que sejam novamente habilitados no mínimo 400 leitos no Estado, para que a gente possa fazer o enfrentamento no ano que vem atendendo outras necessidades, como a fila cirúrgica, a necessidade de regionalizar o acesso as pessoas, melhorar os serviços hospitalares, e para isso a UTI é fundamental.
RCN – Alguns agentes políticos apresentam certo revisionismo no combate à pandemia, questionando ações que o governo e as prefeituras adotaram. Como o senhor vê esse revisionismo? Isso prejudica o combate?
Ribeiro – Nós temos duas questões importantes. Primeiro é esse enfrentamento dinâmico. Eu mesmo solicitei há mais de 40 dias para que a Vigilância Epidemiológica e o Coes [Centro de Operações de Emergência em Saúde] revisem todas as portarias que foram emitidas, decretos, desde março até hoje. Porque é uma doença que está em outro momento. Nós aprendemos com a doença. Então é natural que as coisas sejam recalibradas, reajustadas, sempre dentro de uma questão técnica, para proteção das pessoas. E a proteção das pessoas vai desde a saúde pública até outros agravos, como necessidades emocionais, financeiras, que também são questões de saúde pública. Então a SES, por determinação do secretário, já está fazendo ajustes nas portarias, mas, nós não concordamos com outro tipo de abordagem que não seja uma abordagem técnica e que traga segurança para população.
RCN – A governadora interina, desde que assumiu, tem comentado sobre mudanças, e a saúde poderia estar entre elas. O senhor conversou com Daniela sobre o futuro da SES? O senhor permanece no governo?
Ribeiro – Mais ou menos 10 ou nove dias atrás, eu fui o primeiro secretário de Estado a encaminhar à governadora interina o relatório de todas as ações na pasta, todo o planejamento e enfrentamento Covid passado, presente e futuro. Também coloquei o cargo à disposição como os outros secretários, porque é atribuição do governador escolher seu secretários, afinal de contas, é um cargo de confiança. Também me coloquei à disposição para continuar exatamente o que eu estou fazendo: trabalhando em prol da segurança e saúde da sociedade catarinense. Infelizmente eu ainda não tive a oportunidade de sentar com a governadora para entender o que de fato ela precisa.
RCN – Não houve nenhuma confirmação, nem para ficar, nem para sair?
Ribeiro – Nós não sentamos para conversar a respeito de absolutamente nada. Então continuei trabalhando como sempre trabalhei, focado na solução para o que temos aí. A SES é extremamente complexa e ela não pode prescindir do trabalho do seu secretário, seja ele quem for.
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