Home Congresso paga R$ 628,6 mil de ‘auxílio’ para parlamentares de SC fazerem mudança

Congresso paga R$ 628,6 mil de ‘auxílio’ para parlamentares de SC fazerem mudança

Última atualização 27 de fevereiro de 2023 - 10:04:26

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil/ND – Parlamentares em primeiro mandato dizem que valor “é necessário”

Valor de R$ 39,2 mil é pago no início do mandato inclusive
para políticos que já estavam em Brasília; metade dos parlamentares não
informou se vai utilizar a verba ou devolver aos cofres públicos

Os contracheques dos parlamentares começaram o ano
multiplicados por dois. O pagamento de um segundo salário no valor de R$ 39,2
mil corresponde ao auxílio-mudança, que é acrescentado à remuneração no início
do ano legislativo. O adicional aos 16 deputados federais da atual legislatura
equivale a R$ 628,6 mil.

A cúpula menor, voltada para baixo, abriga o Plenário do
Senado Federal. A cúpula maior, voltada para cima, abriga o Plenário da Câmara
dos Deputados. – Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil/ND

A cúpula menor, voltada para baixo, abriga o Plenário do
Senado Federal. A cúpula maior, voltada para cima, abriga o Plenário da Câmara
dos Deputados. – Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil/ND

Apenas três parlamentares catarinenses informaram que
renunciaram ao benefício, a deputada Caroline de Toni e Jorge Goetten, ambos do
PL, e o deputado Gilson Marques, do Partido Novo. Já no Senado Federal, o
eleito Jorge Seif, do PL, defendeu que o uso é legítimo, mas não confirmou a
utilização.

O pagamento classificado na legislação como “ajuda de custo”
é voltado para as despesas com mudança e é pago a todos os parlamentares,
inclusive aos reeleitos, que já estão estabelecidos em Brasília. Dos 7
reeleitos, cinco não se manifestaram sobre o destino que pretendem dar ao
dinheiro. A lista dos deputados federais em que não houve manifestação é
composta por Fábio Schiochet (União Brasil), Professor Pedro Uczai (PT), Carlos
Chiodini (MDB), Ricardo Guidi (PSD) e Daniel Freitas (PL).

 

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Apenas três parlamentares confirmaram que irão utilizar o
recurso. Rafael Pezenti e Valdir Cobalchini do MDB e Daniela Reinehr, do PL,
indicaram que o valor será utilizado para as despesas com mudança. Os três
estão em primeiro mandato. Os demais deputados que estão em primeiro mandato
não se manifestaram ou afirmaram não saber sobre o valor, com exceção do
deputado Ismael do PSD, que informou o plano de doar o montante para
instituições de caridade.

A possibilidade de extinção do auxílio-mudança já foi
discutida no Congresso Nacional, mas a legislação para cortar a ajuda de custo
não foi aprovada pelos parlamentares que são os próprios beneficiários do
valor. O montante é reajustado todos os anos e assegurado na legislação que
atualiza a remuneração dos congressistas. O pagamento se soma a outros
benefícios que incluem auxílio-moradia e verbas para o gabinete, equipe e
viagens na cota parlamentar.

Parlamentares em primeiro mandato dizem que valor “é
necessário”

Valdir Cobalchini defende que o valor não se justifica no
caso de reeleição, mas é válido para os que estão se mudando para Brasília. “Eu
viajo muito para eventos e relacionamentos com os municípios catarinenses. Nos
primeiros 15 dias é um desafio imenso trabalhar com a verba disponibilizada
pelo Congresso Nacional”, diz.

Daniela Reinehr defende o valor para despesas com a mudança
que incluem mobília e utensílios, pois a deputada não tem e nunca teve
residência no Distrito Federal. “É necessário para se estabelecer e prestar o
melhor atendimento aos catarinenses na Capital Federal”, diz.

Pagamento é classificado como “imoral” e “absurdo” por
deputados que abriram mão da quantia

Caroline de Toni e Gilson Marques que foram reeleitos
informaram que renunciaram a quantia antes mesmo do valor ser repassado. “É o
correto uso do dinheiro público e o respeito com o contribuinte”, diz Caroline
de Toni. O pagamento é criticado pelos parlamentares. “O auxílio-mudança é um
dos privilégios mais absurdos”, diz Gilson Marques. Em primeiro mandato, o
pagamento de Jorge Goetten ainda não entrou na folha de pagamento, mas ele já
confirma que enviou ofício para renunciar ao valor.

Silenciosos, políticos não informam o que vão fazer com o
dinheiro

Dos 17 parlamentares, nove não se manifestaram sobre o
destino que darão ao pagamento. Até o fechamento, a reportagem não conseguiu a
resposta dos deputados Geovania de Sá (Cidadania), Fábio Schiochet (União
Brasil), Carlos Chiodini (MDB), Ricardo Guidi (PSD), Daniel Freitas e Julia
Zanatta do PL e Professor Pedro Uczai e Ana Paula Lima do PT. Em contato por
telefone, as equipes dos congressistas informaram que também não conseguiram a
resposta dos parlamentares.

Já Zé Trovão atendeu a reportagem, mas informou não saber do
pagamento e que iria buscar informações. A equipe do senador Jorge Seif também
não respondeu sobre o uso até o fechamento.

Parlamentares recebem apartamento funcional mobiliado

Apesar da ajuda de custo se tratar de um auxílio para a
mudança, os parlamentares têm direito ao apartamento funcional que é mobiliado.
Em primeiro mandato, o deputado Zé Trovão, do PL, diz que o ambiente é
espaçoso. “Esse (apartamento) que estou peguei de outro deputado. É gigante.
Cabe uma família com 10 pessoas”. O parlamentar diz que o espaço é completo.
“Tem sofá, mesa, cama, tudo. A gente recebe o apartamento com o básico que eu
acho que é mais do que necessário”.

Por outro lado, o deputado alerta que mesmo tendo o
apartamento mobiliado à disposição, há outras despesas. “Até eu receber o
apartamento, de novembro até hoje, foram muitos custos que não tive de onde
tirar”, diz. O parlamentar diz que vai se informar sobre o uso do
auxílio-mudança. “Se for para o reembolso dessas despesas que tive, eu utilizarei,
mas ainda nem entrou o meu primeiro salário”, diz o deputado que tomou posse em
fevereiro e deve receber o primeiro contracheque em março.

Parlamentar irá fazer “doação” com dinheiro público

O deputado Ismael do PSD disse que pretende fazer doação do
valor. Conforme o deputado, renunciar faz o dinheiro voltar aos cofres da
Câmara para outras despesas da Casa Legislativa. Por entender que esse dinheiro
é público, o deputado decidiu aceitar os recursos para doá-los a três
instituições catarinenses.”Serão nove mil reais para cada uma delas, e poderão
aplicar de formas muito mais importantes e para o bem social”, diz.

O pagamento está previsto no Decreto Legislativo 172,
publicado no Diário Oficial em dezembro do ano passado. A legislação fixa a
remuneração de R$ 39.293,32 a ser paga a partir do dia 1° de janeiro de 2023 e
estabelece no inciso primeiro que “é devida aos membros do Congresso Nacional,
no início e no final do mandato, ajuda de custo equivalente ao valor do
subsídio”.

Verbas que os parlamentares têm direito:

Remuneração R$ 39.2 mil

Apartamento funcional mobiliado – Os apartamentos foram
construídos na década de 1970. Apesar de terem estrutura padronizada, possuem
variados tipos de conservação e mobília.

Auxílio-moradia – para os parlamentares que não utilizam o
apartamento funcional há a verba mensal disponível de até R$ 6.6 mil.

Cota parlamentar – os valores passam por atualização. No
último ano, a cota podia chegar a até R$ 480 mil no ano.

Verba para pessoal  –
os gabinetes podem ter até 25 secretários. 
São R$ 118,3 mil por mês para a contratação de pessoal

Verba livre para carro, avião, diária, alimentos e viagem
(dentro da cota parlamentar)

Verba livre para equipe (dentro da verba de gabinete)

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