Nascer com a missão de combater um Rolls-Royce é dureza. Foi essa a sina do Daimler DS420, limusine britãnica produzida pela marca que pertence ao pessoal da Jaguar. A Daimler se enquadrava na categoria de carros elegantes que investiam no custo-benefício. Em geral, fazia versões pomposas dos Jaguares com acabamentos mais suntuosos, alguns cromados a mais e nova grade frontal. Mas o DS420 seguia outra tradição. Enquanto a geração de 1968 fazia barulho, o modelo chegou ao mundo como uma limusine para os tradicionalistas. Um abrigo confortável contra o conturbado ambiente exterior. A sua pinta de carro de estadista ficava claro no seu estilo. A parte frontal até tinha um jeitão de Jaguar da época, algo facilmente explicado pelo uso da plataforma do top de linha Jaguar 420G. Mas a semelhança parava aí. A carroceria feita pela Vanden Plas de Londres era típica das limusines e chamava atenção pela queda suave da traseira. A base foi esticada em 51 centímetros, tudo para acomodar os passageiros traseiros em um verdadeiro sofá com mais de 1,80 metro de largura. Havia tanto espaço para as pernas que o fabricante mandava embutir duas pequenas banquetas para secretárias e mordomos. Na hora de andar forte, o chofer podia contar com o conhecido 4.2 seis cilindros em linha imortalizado pelo esportivo Jaguar XK. Eram 245 cv, poder de fogo suficiente para levar o corpanzil de mais de duas toneladas aos 180 km/h. A realeza britãnica havia relegado os Daimler em favor dos Rolls-Royces nos anos 50, mas logo voltou atrás quando viu o DS420. A rainha mãe e sua trupe tiveram vários destes, tal como primeiros ministros. Sem falar nos serviços de aluguel de carros, havia uma frota em Londres que podia ser alugada por qualquer um chefe de estado em visita ou alto executivo, todos com suportes para bandeiras nos para-lamas dianteiros. A sua vocação formal levou o Daimler DS420 a se tornar uma visão comum em cortejos fúnebres. Basta rever qualquer vídeo do funeral da Lady Diana em 1997 para logo ver um dos sóbrios modelos. A produção artesanal passou para a fábrica da Jaguar em Conventry em 1978 e foi encerrada apenas em 1992, quando o DS era o único carro do grupo que ainda era impulsionado com o seis em linha. O durador Daimler sobreviveu ao encolhimento da sua marca graças ao custo-benefício: custava a metade de um Rolls-Royce Phantom VI.
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