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Chão Contestado e a morte cabocla

Última atualização 18 de setembro de 2015 - 15:09:51
Os comunistas voltaram para as ruas neste final de semana. Sim. Formaram um cenário de mais de 10 mil pessoas caminhando pelas terras de Timbó GrandeSC durante a 23ª ediçÃo da Romaria da Terra e da Água. Grande parte dos romeirosas sÃo conhecidosas como: Vagabundosas, baderneirosas, rebeldes e sim, as putas nÃo poderiam faltar é claro. Essa multidÃo de gente carregava dizeres em memória a esta frase: “Redutos de resistência, esperança e encantamento da vida”. Dei destaque para o “encantamento”, e até pensei que seria interessante disseminar o seu significado em nosso município, onde, como na maioria da regiÃo, o ideal de “encantamento” está ligado aos heróis estrangeiros.
Timbó grande, onde o povo de do oeste e Extremo-oeste fez contato no domingo, dia 13, concentrou um dos maiores massacres da luta pela terra, que foi o Genocídio do Contestado. Sentir o chÃo de sangue, olhar para o rio que guarda na sua profundidade a memória de tantos corpos jogados como se fossem nada nos faz acreditar ainda mais na necessidade de movimentar. O espaço marcado como sendo o último Reduto Santo do Contestado também traz em seu contexto a história dos inúmeros caboclos e caboclas mortos a fogo de canhÃo, outros tantos, incendiados dentro das igrejas e casas, sem piedade alguma.
A história do Contestado, a qual citei algumas vezes por aqui, segue tÃo viva em nós que é impossível nÃo replicá-la. Como podem nossas escolas serem tÃo vazias desse processo? Como podem nossos meios de comunicaçÃo nÃo falarem sobre isso, quando ainda vivem em nossos arredores os caboclosas, que passam fome, que tem sede de liberdade, que pensam na sua dignidade corrompida pelo poder do desenvolvimento? Santa Catarina, local que cresceu, como tantos outros lugares, a base da morte indígena e cabocla, hoje ainda é predominantemente comandada pelos empresários e capachos de guerra. Nosso chÃo “esconde” gritos…Quando sentimos Taquaruçu, primeiro reduto, também ouvimos esses gritos, que nÃo se calam…A sensibilidade nos faz encontrá-los a cada passo na terra violentada.
Quando paramos para pensar o que foi e o que o Contestado nos representa, brota também a esperança de que esse sistema que oprime tanto a gente nÃo será duradouro. A esperança também nos surge quando ouvimos de líderes inseridos dentro de um contexto conservador da própria igreja, falar da necessidade de nos posicionarmos na contramÃo da história e reforçarmos os trabalhos de base e a formaçÃo de consciência do povo. Essa boa nova nos provoca e marca sim posiçÃo em SÃo Miguel do Oeste assim como, tem marcado posicionamento político libertador em outros espaços.
Maria Rosa, Chica Pelega, SÃo JoÃo Maria, mártires do Contestado, seguem vivos também nas falas dos jovens que participaram da romaria. Enquanto uma grande parcela da igreja condena a juventude por nÃo frequentar o culto todos os domingos do mês, momentos como a romaria nos fazem pensar no papel político que a juventude possui, de ser igreja onde nem mesmo os ditos mais “fiéis” conseguem ser. Certamente Jesus Cristo nÃo reuniu o povo rezando individualmente. Ele precisou pisar no chÃo dos condenados para entÃo trabalhar a sua consciência num pensamento de libertaçÃo. É para isso que nos desafiamos e quando citamos Chica Pelega, Maria Rosa, estamos falando de duas jovens que agiram em defesa de suas gentes.
Embrenhados no mato, lutando com facÃo de pau contra canhões e exército preparado para matar, esses caboclosas sÃo resistência para nós. Pensar no encantamento do Contestado é também refletir sobre qual fé estamos vivenciando hoje. Se “entre nós está e nÃo o conhecemos, entre nós está e nós o desprezamos”, terço nenhum salvará o homem das imundícies que pratica, desde a condenaçÃo dos povos a negaçÃo da sua história. Portanto, seguimos em marcha, denunciando o projeto de morte. Oeste de Fatode hoje, segue vestindo-se de esperança pelo que viu e sentiu neste último final de semana. Até breve!

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