ESTADO
– Dezembro é o mês de conscientizaçÃo contra a Aids, e Santa Catarina colocou
como meta: erradicar a transmissÃo da Aids de mÃe para filho(a), investir em
informaçÃo, prevençÃo e, a partir da consciência com relaçÃo à testagem, o
início imediato do tratamento, a fim de reduzir a carga viral e a possibilidade
de transmissÃo.
SC
ocupa o terceiro lugar no ranking nacional em mortalidade em funçÃo da doença,
estando entre os estados com aumento significativo de infecções por HIV.
De
acordo com o Boletim Epidemiológico HIV-Aids 2014 (ano base 2013), o Brasil
registrou 39.501 novos casos da doença. Desses, 2.055 foram detectados em Santa
Catarina.
Naquele
ano, a taxa de detecçÃo do país foi de 20,4 novos casos para cada grupo de 100
mil habitantes, enquanto Santa Catarina apresentou 32,2 casos por 100 mil
pessoas. Em relaçÃo ao número de óbitos, foram registradas 12.431 mortes no
Brasil. Em Santa Catarina foram 575. O coeficiente de mortalidade do Brasil, em
2013, foi de 5,7. Em Santa Catarina, 7,5.
O
Ministério de Saúde alerta que para cada caso de HIV confirmado, há
possibilidade de mais quatro estarem com a doença e nÃo saberem. Essa doença
infectocontagiosa causada pelo vírus HIV (Human Immuno deficiency Virus) leva à
perda progressiva da imunidade.
Para
prevenir, todos ou quase todos sabem que a camisinha é a melhor forma de
prevençÃo, mas mesmo assim 45% da populaçÃo sexualmente ativa do país nÃo usou
preservativo nas relações sexuais casuais nos últimos 12 meses. Esses dados sÃo
da Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas na PopulaçÃo Brasileira
(PCAP).
Ele é HIV
positivo e ela nÃo, eles sÃo pais
A
reportagem do Jornal Expresso d’Oeste entrevistou um portador de HIV de Caibi
que perdeu a esposa pela Aids. Na época ela era gestante e portava o vírus. Um
caso de diagnostico tardio, que acabou com uma vida, mas gerou uma outra. Para
preservar a integridade das fontes, os nomes nÃo serÃo divulgados. Essa
história envolve a luta pela vida, preconceitos, medo, insegurança e o duelo diário
para ser aceito pela sociedade.
Jorge
(nome fictício) é portador da Aids, a filha também, ela foi contaminada pela “transmissÃo
vertical”, de mÃe para filho(a). O pai tenta resgatar a história, que, por algum
tempo tenta esquecer. Os primeiros sintomas surgiram durante a gestaçÃo, quando
a esposa começou a perder peso, enquanto o bebê tinha ganhado. A filha do casal
nasceu, mas a mulher nÃo saiu mais da cama. Ela foi submetida a exames, que
diagnosticaram que era portadora do HIV. A perda constante da imunidade deixou
a paciente durante dois anos acamada, até que a doença a venceu.
A
recém nascida (HIV positivo) foi levada para a unidade de tratamento intensivo
(UTI), por lá ficou 40 dias. Jorge parou de trabalhar para cuidar da filha em
Chapecó. “Perdi minha esposa, fiquei cuidando da minha filha durante dois anos
sozinho”, conta. Ele nÃo sabe explicar como pegou o HIV, e hoje com o tratamento
leva uma vida normal, mas a base de medicamentos.
Já
a filha, quase nÃo resistiu ao tratamento, mas hoje, também vive uma vida
praticamente normal regrada pelo coquetel antirretrovirais. “É complicado, a
cada 12 horas, ela precisa tomar o medicamento, é um tratamento muito forte e
constantemente pergunta o motivo dos remédios, mas ela nÃo sabe o que ela tem”,
conta.
O
homem atualmente é empregado e casado com outra mulher. Camila (nome fictício)
deixou os estudos, foi contra a vontade dos pais para ficar com Jorge. Essa
história de novela superou arbitrariedade dos familiares e da sociedade.
“Muitos me dizem pra mim largar dele, pois ele iria fazer a mesma coisa que a
primeira esposa”, afirma Camila. Hoje o relacionamento com os pais de Camila é
de harmonia, pois eles aceitaram a relaçÃo do casal.
Camila
é HIV negativo, ou seja, nÃo tem o vírus. O casal já tem um filho, e nÃo foi por
meio de inseminaçÃo artificial. Como a mÃe nÃo é portadora, nem o filho foi
contaminado. “Quando a doutora ficou sabendo que o meu marido era portador do
HIV ela se desesperou. Ela perguntou pra mim se eu tinha, eu disse que nÃo. Ela
duvidou e disse que nÃo tinha essa possibilidade. Foram feitos exames que
mostraram que eu nÃo tinha HIV”, conta Camila.
A
infectologista Priscila Rodrigues Garrido Bratkowski explica que o risco de
transmissÃo do HIV em uma relaçÃo sexual varia de 0,1% a 10%, dependendo de
fatores relacionados ao vírus, relacionados ao tipo de relaçÃo sexual (anal,
vaginal, oral) e relacionados ao portador do vírus.
Com
a evoluçÃo do tratamento, o vírus fica latente no corpo, o que diminui a
possibilidade de contaminaçÃo. Porém, a profissional acrescenta que a principal
forma de transmissÃo do HIV é por meio da relaçÃo sexual. “Portanto o uso de
preservativos é fundamental para evitar a transmissÃo”, recomenda.
“FALTA INFORMAÇÃO”
Jorge
relata que a filha teve alguns problemas na escola, alguns pais nÃo queriam que
os filhos ficassem na mesma sala de aula que ela. No entanto, a Secretaria de EducaçÃo
do município nÃo cedeu à pressÃo dos outros pais, mantendo-a no mesmo ambiente
que os outros alunos.
No
trabalho, o homem conta que foi muito bem recebido pelos colegas, mas nÃo
recebe mais convites para as partidas de futebol. Na rua, Jorge tenta evitar, e
sai de casa apenas de carro, pois ele percebe o olhar de julgamento por onde
anda. “Eu nÃo sei sair a pé pela cidade, as pessoas te apontam de dedo. Às
vezes a gente estampa no rosto algo que nÃo é nosso sentimento real, eu tento
nÃo baixar a cabeça, mas por dentro isso está me corroendo. O que me faz seguir
em frente sÃo os meus filhos e a minha esposa”, revela.
Camila
há cinco anos nÃo consegue emprego em Caibi. “Falta informaçÃo, as pessoas só
olham o lado ruim e nÃo veem o lado bom, nós vivemos uma vida normal”, alega. Para
ela, Aids nunca foi problema. “As pessoas falavam e eu nÃo dava bola, nunca dei
importância. Eu tinha medo, mas com ele eu nÃo tive, nÃo tem explicaçÃo. É
simplesmente amor”, frisa.
Priscila
comenta que ainda existe muito preconceito. Os pacientes sofrem com comentários
da comunidade ou da própria família. Relatam inclusive demissÃo do emprego, o
que é ilegal. “Tudo isso acontece por falta de informaçÃo com relaçÃo às formas
de transmissÃo da doença”, declara.
Dados
Regionais
Os
dados a seguir foram divulgados pelo Hospital Dia de Chapecó. O hospital faz o
acompanhamento dos casos de Chapecó e de mais 36 municípios da regiÃo. Os
números sÃo desde 1984. A reportagem também consultou o Serviço de Atendimento
Especializado em HIV/Aids de SÃo Miguel do Oeste, que atende 21 municípios do
Extremo Oeste Catarinense. De acordo com a enfermeira responsável, Juliana
Pinheiros, o SAE acompanha 180 pacientes. Em 2013 foram 12 novos casos, 2014 18
novos casos e em 2015 40 novos casos. Ela deve a esse aumento ao acesso
facilitado do teste rápido, que em poucos minutos diagnostica o HIV.
TOTAL GERAL HIV/AIDS EM ACOMPANHAMENTO: |
910 |
TOTAL GERAL DE TRANSFERÊNCIAS: |
323 |
TOTAL GERAL DE ABANDONOS: |
138 |
TOTAL GERAL DE ÓBITOS: |
294 |
TOTAL GERAL ÓBITOS USUÁRIOS SOROPOSITIVOS POR |
27 |
TOTAL GERAL DE REGISTROS HIV/AIDS NO HOSPITAL DIA: |
1692 |
TOTAL GERAL USUÁRIOS ACOMPANHAMENTO HOSPITAL DIA: |
1724 |
TOTAL DE ACOMPANHAMENTO NO SAE DE SÃO MIGUEL DO |
180 |
TOTAL DE ÓBITOS NO SAE DE SÃO MIGUEL DO OESTE |
5/ano |
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