Em meio a uma lavoura de soja desponta o prédio do curso de Engenharia de Alimentos da Udesc, em Pinhalzinho. A proximidade com o campo até seria boa, para estar próximo das matérias-primas, não fossem os transtornos que os alunos enfrentam para estudar na unidade.
O prédio inaugurado em 2005 está com mofo tanto na parte externa, quanto na parte interna. A pintura está descascando. As paredes e até o teto apresentam rachaduras e, quando chove, tem professor dando aula com as goteiras pingando na cabeça. Além disso, na semana passada houve até queda de energia, o que obrigou alguns alunos a concluírem provas com o auxílio de uma lanterna.
_O nosso prédio é esquecido pelo governo, que nos deixa estudar num prédio sem a mínima estrutura necessária – reclamou por e-mail a estudante Shalu Posanske Corrêa.
Outro problema é o acesso e o isolamento do curso, que fica a três quilÔmetros do centro da cidade. Para quem mora numa cidade maior pode até parecer pouco. Mas para uma cidade de 16 mil habitantes, que não tem Ônibus coletivo, é muito. Os alunos tiveram que contratar transporte.
Inicialmente não tinha nem cantina para os alunos fazerem lanche, o que foi resolvido recentemente. Além disso não há um trevo de acesso ao campus na BR 282, o que tem provocado acidentes e até mortes, segundo os alunos.
Os problemas da Udesc em Pinhalzinho geraram até uma reunião entre alunos e coordenação de curso, na quinta-feira passada. Muitos alunos também reclamam dos problemas de infraestrutura mas evitam comentar por temer que seja cancelado uma das principais reivindicações deles, que é a instalação de usinas, que são mini-indústrias, para as aulas práticas.
Todos os alunos ouvidos ressaltam que a parte teórica do curso é muito boa e que os professores são de qualidade. Inclusive há casos de alunos que foram direto da graduação para o doutorado, na Universidade de São Paulo, e vários alunos que passaram no mestrado, na Universidade Federal de Santa Catarina. Isso mesmo com uma infraestrutura que deixa a desejar.
A má qualidade do prédio da Udesc em Pinhalzinho gerou até uma Ação Civil Pública, proposta pelo Ministério Público, em 2009. A Promotoria de Justiça de Pinhalzinho sustenta que fez uma perícia que constatou a não aplicação de R$ 53,8 mil dos R$ 817 mil pagos pelos governos municipal e estadual.
Onze pessoas, entre proprietários da construtora responsável, administradores da época e responsáveis pela fiscalização, estão sob suspeita. Houve até bloqueio judicial de bens. O prazo de defesa já encerrou e o processo deve ser julgado no próximo ano.
Udesc reconhece problema
O chefe do Departamento de Engenharia de Alimentos da Udesc, Gilmar de Almeida Gomes, reconheceu que a unidade apresenta problemas desde a sua instalação, mas que o curso vem tendo bom desempenho mesmo com essas dificuldades.
Ele informou na próxima quarta-feira será assinado um contrato de locação de um prédio e equipamentos para a montagem da usinas. Estão previstas usinas de suco, leite, carne e cereais. Há também um projeto de construção de mais um prédio próprio, com 4,6 mil metros quadrados, para a instalação das usinas e laboratórios, orçado em R$ 5 milhões. Ele disse que a burocracia muitas vezes atrasa algumas ações, mas que ela é necessária para o controle do dinheiro público.
A diretora do Centro de Educação Superior do Oeste, Renata Mendonça Rodrigues, disse que Udesc enfrentou neste ano um problema financeiro, mas que está em processo de licitação a reforma do prédio. Além disso, por estar em ação judicial, a reforma precisa de autorização judicial. Há também a previsão de criação de um laboratório de análise de leite, credenciado pelo Ministério da Agricultura, para atender a região.
Renata reconheceu que o campus de Pinhalzinho é isolado mas que há espaço para a ampliação de prédios e cursos, o que deve ser feito. Ela espera iniciar o novo prédio das usinas para as aulas práticas e o laboratório de leite até 2016. A área é de 3,5 hectares, o equivalente a quatro campos de futebol.
De acordo com a assessoria de imprensa do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, o acesso ao campus de Pinhalzinho, na BR 282, está previsto no pacote de obras de R$ 700 milhões do projeto Crema II, que vai restaurar 1,2 mil quilÔmetros em Santa Catarina, fazer 33 quilÔmetros de terceiras faixas e implantar 33 interseções, uma delas a da Udesc, em Pinhalzinho. A obra já foi licitada e a ordem de serviço deve ser assinada até o dia 20 de dezembro.
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