Se o basquete ensina que cada segundo é valioso, em solo olímpico qualquer fração de tempo tem peso de ouro. Se nem piscar é permitido, jogar dez minutos no lixo pode ser fatal. Sorte do Brasil que, em Londres, quase todas as lixeiras são recicláveis. Após fazer apenas quatro pontos num primeiro quarto digno de esquecer, a seleção masculina teve de ralar um bocado contra a Grã-Bretanha. Na meia hora restante de bola quicando, uma dose de sofrimento que não estava nos planos. Com o ginásio inteiro torcendo contra, foi duro buscar a reação. Mas ela veio. Com altos e baixos no placar, o time de Rubén Magnano soube controlar a partida no fim e arrancou a segunda vitória nas Olimpíadas: 67 a 62.
– O primeiro quarto foi muito fraco. Em toda a minha história na seleção brasileira, nucna aconteceu de fazermos só quatro pontos em um período. Mas isso não pode tirar a gente do sério. Sei que o público fica irritado, mas nós precisamos ter essa fortaleza mental. Foi um jogo atípico, ninguém estava com aquele pontinho a mais de confiança. Mas acontece, o importante é que vencemos – analisou o armador Marcelinho Huertas, que cometeu duas faltas no quarto inicial e deu lugar a Raulzinho, quando a produção do time caiu.
Ainda assim, Huertas foi um dos melhores brasileiros em quadra, com 13 pontos e oito assistências. Tiago Splitter foi o cestinha, com 21 pontos e seis rebotes. Os maiores pontuadores da Grã-Bretanha foram Pops Mensah-Bonsu e Nate Reinking, com 13, seguidos pelo astro Luol Deng, com 12. O Brasil perdeu a batalha dos rebotes por 41 a 36 e acertou apenas três dos 22 chutes de três que tentou. Ganhou, portanto, na defesa. Roubou dez bolas, contra apenas quatro dos britãnicos, e conseguiu segurar o ataque adversário na reta final.
Invicto, o Brasil volta à quadra na quinta-feira, às 12h45m (de Brasília), para enfrentar a Rússia, que também ainda não perdeu em Londres. O grupo B tem ainda a invicta Espanha, a Austrália e a China. Os quatro primeiros avançam para as quartas de final.
O primeiro quarto, em resumo, foi uma briga feroz de dez minutos entre o Brasil e o aro. Tiago Splitter abriu o placar, Alex acertou uma bandeja no meio do período, e só. O resto foi um festival de pontaria torta. Huertas logo fez duas faltas e, em vez de Larry, Magnano lançou Raulzinho. Não funcionou. Enquanto Clark comandava o ataque britãnico, o Brasil esticava seu jejum ofensivo. Com oito arremessos de três, todos fora do alvo, a equipe verde-amarela fechou o quarto inicial com apenas duas cestas e uma surpreendente desvantagem de 11 a 4.
Reação aos trancos
Como nenhuma greve dura para sempre, a seleção voltou a pontuar no segundo quarto. Com Leandrinho, Splitter e Marquinhos, o placar foi se equilibrando, e a diferença chegou a cair para um ponto. Mas do outro lado, um inglês de descendência ganesa tratava de manter o time à frente: Pops Mensah-Bonsu, que já passou pela NBA e hoje joga na Turquia, anotou nove pontos no primeiro tempo. Foi o bastante para evitar a virada no primeiro tempo. O americano Larry empatou com uma bandeja a 40 segundos do fim e teve a chance de virar, mas errou o chute quase no estouro do cronÔmetro. Na metade da batalha, tudo igual: 27 a 27.
No intervalo, o animador botou o público para cantar. Com as arquibancadas quase lotadas para ver os britãnicos na quadra, a trilha sonora ia de Rolling Stones a Oasis, passando por Village People e Amy Winehouse.
Na volta, soou como música a cesta de Splitter que colocou o Brasil à frente pela primeira vez desde os 4 a 0. O ala-pivÔ Joel Freeland emplacou dois lindos arremessos seguidos, e o equilíbrio se impÔs. Nenhuma equipe conseguia abrir vantagem e, em determinado momento, a pelada do primeiro quarto deu as caras de novo: show de erros. Com alguma dificuldade, a equipe de Magnano conseguiu abrir um pequeno conforto na virada para os dez minutos finais: 48 a 43.
Dan Clark, que tinha brilhado no início do jogo, reapareceu no último quarto com uma cesta espírita de três: a bola bateu no aro, foi lá no alto, e caiu redonda na rede. O lance inspirou os britãnicos, que fizeram mais duas cestas seguidas para virar o jogo. A montanha-russa continuou passeando pela Arena, o Brasil abriu cinco de novo, mas os anfitriões não se entregaram. A quatro minutos do fim, Luol Deng cravou uma de três para fazer 57 a 56.
Marquinhos respondeu da lateral, em frente ao banco brasileiro, e vibrou muito com o chute certeiro de três. O controle do placar era cada vez mais difícil, quando brilhou o talento de Huertas. A um minuto e meio do fim, o armador deu passe espetacular para Nenê, que enterrou e ainda sofreu a falta para abrir sete pontos. Dali em diante, manter a cabeça no lugar para evitar um novo colapso. No retorno às Olimpíadas após 16 anos, o basquete masculino do Brasil sofre, mas ainda não sabe o que é perder.
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