Santa Catarina é um estado que dança como nenhum outro no país. Por aqui, organiza-se pelo menos 27 festivais de projeção ao longo do ano. De acordo com Associação dos Profissionais em Dança de Santa Catarina (Aprodança), 70% das cidades catarinenses têm um festival ou uma mostra do setor. Só a Capital terá nove encontros em 2012 e protagonizará uma situação curiosa com dois festivais: Prêmio Desterro e Santa Catarina Dança, semelhantes entre si, acontecendo num intervalo de tempo de 18 dias um do outro.
A maioria destes eventos é organizada por grupos ou associações de dança em parceria com Estado e prefeituras. O formato é muito parecido: modalidades variadas (do ballet às danças de salão), premiação em dinheiro, oficinas, tempo curto para apresentação (de três a sete minutos. A exceção é a Bienal da Dança, em Florianópolis, com esquema de espetáculo, apostando em performance de 30 minutos) e participação de grupos locais e nacionais. A fórmula é cópia de um velho conhecido, que desde 2005 figura no Guiness Book como o maior do mundo: o Festival de Dança de Joinville, que começa nesta quartae completa 30 anos, é o gigante a ser seguido nesta trajetória. Soma seis mil participantes diretos, público superior a 200 mil pessoas e custo de R$ 4,5 milhões.
Os seguidores são bem menores, mas conseguem se pagar a partir da cobrança de inscrição e com a receita de ingresso. Alguns têm patrocínios vias leis de incentivo ou com as fundações culturais do município. Na Capital, em média, os festivais custam entre R$ 150 mil e R$ 200 mil com público de 2,5 mil a 4 mil pessoas para eventos com quatro dias de duração.
Além do Festival de Joinville, Santa Catarina tem outros eventos do gênero dignos de superlativos. O Festival Escolar Dança Catarina, até ano passado chamado Mário de Andrade, é o maior do país destinado a escolas. Consegue chegar em cidades minúsculas, como Quilombo, no Oeste, e tem um modelo único, que pode levá-lo ao Guiness Book também (reivindicação que será feita ainda este ano), com uma divisão em quatro etapas: escolar, municipal, microrregional e regional. Ano passado teve público de 100 mil pessoas e358 escolas participantes. O Baila Floripa, voltado à dança de salão, é outro grandioso. Este ano realizou sua 10º edição. Também leva o selo de único, mas no quesito: reunir todos os estilos de dança de salão.
São tantos festivais em SC que entre os profissionais do meio já se difundiu a brincadeira: “estamos nos graduando em formar o bailarino miojo — aquele especializado em apresentações de três ou cinco minutos”, como são os números em mostras competitivas.
Confira aqui a lista dos principais festivais de SC
— Os festivais são importantes porque os bailarinos precisam ter lugar para se apresentar e para um público diferenciado. O que eu sinto falta em Santa Catarina é de gente pensando em espetáculos de dança, porque acabamos por ficar viciados num mesmo formato — afirma Lisa Jaworski, presidente da Associação dos Profissionais de Dança de Santa Catarina (Aprodança).
Bia Mattar, jurada e curadora de festivais como Bienal de Dança de Florianópolis (primeira edição aconteceu em março) e do Prêmio Desterro é uma defensora do evento:
— Festivais promovem intercãmbio, oficinas com profissionais renomados. Sempre temos bom público. E o artista precisa de palco, não dá para se apresentar só uma vez por ano.
Só com recursos próprios, as professoras de dança Fabíola Neves e Fernanda Marafiotti realizam a Mostra Primeiro Passos e o Encontro Catarinense de Dança. Fabíola afirma que os festivais se pagam por meio das inscrições e dos ingressos.
— Não existe lucro com isso. Fazemos porque gostamos — comenta Fabíola.
Ronaldo Rocha, de Itajaí, observou uma oportunidade de negócio na efervescente cena da dança em SC. Em 2008, criou o primeiro gerenciador de festivais do Brasil. É o www.festivaldedancaoonline.com.br. Organizadores de eventos encontram ali ferramentas como fichas de inscrição. Além de festivais do estado, o site hospeda evento do Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais e do Rio de Janeiro.
Vocação construída
A materialização da dança em festivais e mostras denota a inegável vocação de Santa Catarina para o setor. Mas de onde vem essa ligação? Coreógrafos, pesquisadores, bailarinos e diretores de festivais apontam algumas explicações:
– A consagração do Festival de Dança de Joinville, desde 2005 considerado o maior do mundo, influenciou a realização de festivais e a formação de bailarinos
– A presença no estado da Escola Bolshoi, a única filial fora da Rússia em todo o mundo
– A contribuição artística, de pesquisa e de vitrine para SC em ãmbito nacional e internacional da Cia Cena 11. O grupo catarinense, com 19 anos de história, figura entre os principais do país, percorrendo o Brasil e o mundo com espetáculos costumeiramente agraciados pela crítica.
– A relação dos catarinenses com a dança tem ainda uma origem na colonização, ligada a açorianos, alemães, italianos e ucranianos, povos com tradição em danças folclóricas.
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