A felicidade está ligada à virtude? Provavelmente
que sim. Mas como compreendemos a virtude hoje? A felicidade que consiste em
viver a virtude, viver de acordo com a natureza, pode ser refletida. No século
XXI, em que estamos vivendo, temos uma ideia meio estranha, nós não estamos
acostumados a unir a ideia de felicidade com a de virtude, a virtude parece ser
uma coisa nos nossos tempos e a felicidade outra, por quê? A maioria de nós
deseja ser feliz e não virtuoso. Para muitos de nós, a exigência de viver uma
vida virtuosa entra em contradição com a busca da felicidade. Virtude nos
lembra, de certa forma, de obrigações morais com outras pessoas, disciplina
para conter os nossos desejos e outros tipos de limites para não falarmos até
de repressões. Quando se fala “a pessoa tem que ser virtuosa” parece que tem
que ter repressão, enquanto a ideia de felicidade nos remete à realização dos
nossos desejos, à liberdade individual vivida em plenitude, ausência de
limites, restrições e repressões.
Para nós o desejo natural da felicidade tem a ver
mais com o desejo da realização. Parece que a felicidade, quando eu digo
“desejo felicidade” significa eu fazer aquilo que eu desejo. Será isso mesmo felicidade? Enquanto a
palavra virtude pressupõe necessariamente boas relações, ou corretas com outras
pessoas, ou viver segundo à natureza. Virtude significa isso, por isso aqui
essa é a distinção. Para nós, a felicidade é uma questão individual, e mais do
que uma busca, é uma obrigação. Só que há algo de estranho também nessa
concepção. Se a felicidade é uma obrigação, no sentido que eu tenho que ser
feliz, ela não é mais um desejo natural de todo o ser humano, pois o que é uma
obrigação não é um desejo. É obrigatório “eu tenho que ser feliz”. Se nos
sentimos quase que compelidos a sermos felizes, ou pelo menos mostrarmos que
estamos felizes, a felicidade passou a ser um peso.
Estamos mais preocupados em mostramos aos outros e
a nós mesmos que somos ou estamos felizes do que em procurar viver uma vida
realmente feliz. Então o que acontece aqui? O mais importante é a aparência, o
que está à superfície da nossa vida, por isso hoje é quase que proibido dizer
estou triste. Parece que não podemos ouvir essa frase. Se a pessoa diz que está
deprimida, então a tristeza aqui é uma questão existencial, como a felicidade e
alegria, enquanto a depressão é uma questão médica, que se resolve com pílulas
com remédios com receitas e assim por diante. Se a felicidade está unida à
virtude, a felicidade também é empenho, é vida correta, é busca do bem, é busca
da verdade, é fazer o melhor de cada dia…
Pense nisso!
Padre
Ezequiel Dal Pozzo
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