Home No Dia das Mães, mulheres falam sobre adoção monoparental no Brasil

No Dia das Mães, mulheres falam sobre adoção monoparental no Brasil

Última atualização 8 de maio de 2022 - 11:21:01

Antes mesmo de se tornar adulta, a administradora Marinildes
Queiroz, 56 anos, tinha o sonho de adotar uma criança. Depois de ela mesma ter
sido adotada aos 4 anos, a moradora da capital paulista conseguiu, em 2016,
adotar sozinha dois irmãos que, na época, tinham 5 e 7 anos.

 A administradora Marinildes Amorim Queiroz é mãe de Diego
Amorim Queiroz, 11 anos, e Bruno Amorim Queiroz, 13 anos.

O processo começou com uma ida ao fórum, entrevistas com
assistente social e psicólogo e a entrada formal na fila de adoção. Passado um
ano e meio, Marinildes foi chamada para conhecer as crianças e deu continuidade
ao processo, incluindo visitas de aproximação.

 “Na adoção tardia, as crianças, quando são adotadas, nos
primeiros meses, fazem testes. Elas te testam no limite máximo que é para ter
certeza de que ali é um lugar seguro, de que ali é o lugar delas e de que não
vai haver um segundo abandono”, explicou Marinildes.

 Ela alerta que a expectativa de gratidão por parte da
criança não deve ser fator motivador para a adoção. “Se você espera adotar para
que o outro seja grato eternamente porque você deu família, casa, amor,
carinho, esse não é o caminho. Relacionamento é construção, feita de confiança,
segurança, apoio, cuidado, atenção”.

 A servidora pública Sílvia*, 47 anos, após retirar as trompas,
chegou a passar pelo processo de fertilização in vitro, mas não conseguiu
engravidar. Ela sentia que seu companheiro à época fazia questão que o filho
fosse biológico. Diante da situação, a moradora de Brasília se separou e optou
pela adoção monoparental.

 “Fiz terapia e falei: 'Eu quero ser mãe, mas não precisa
sair da minha barriga'. Se eu adotar, vou ser feliz tanto quanto”, disse. “Eles
deixam claro que estão buscando famílias para as crianças e não crianças para
as famílias. E também mostram as estatísticas. As pessoas falam muito ‘Tem
tanta criança aí pra ser adotada' e não é bem assim”, completou. 

Sílvia deu início ao processo de adoção em 2016 e, em junho
de 2021, recebeu a ligação informando que havia uma criança – um menino de
cerca de 2 anos e meio. Após as visitas, ela recebeu a guarda temporária e, em
seguida, a guarda provisória por tempo indeterminado.

 “Ele fala: 'Mamãe não vai trabalhar. Mamãe tem que esperar'.
Ainda fica inseguro. A questão do abandono, embora tenha ido para abrigo bebê,
acho que ainda é muito forte nele. Então eu sempre falo: ‘A mamãe vai sempre
voltar. A mamãe volta’”, contou.

 Avanços

A adoção monoparental – quando um único adulto adota uma
criança ou um adolescente – passou a ser melhor compreendida ao longo do tempo,
conforme avalia o juiz Iberê de Castro Dias, da Corregedoria Geral da Justiça
em assuntos da Infância e Juventude.

 “Não existe nenhuma diferença de regras entre as adoções
mono ou biparentais. Tanto faz a adoção ser realizada por um só homem, por uma
só mulher, por um casal hétero ou por um casal homoafetivo. As regras são
rigorosamente as mesmas, os prazos são rigorosamente os mesmos. Os
procedimentos a serem seguidos são sempre os mesmos”, explicou.

 “Especialmente no Brasil, que tem uma quantidade considerável
de famílias monoparentais biológicas – porque não é raro que os homens se
furtem de suas responsabilidades como pais -, por conta dessa percepção de que
era assim que boa parte das famílias brasileiras era constituída que se passou
a admitir com tranquilidade a adoção monoparental.”

 De acordo com Dias, a sociedade começa a compreender que o
acolhimento de uma criança ou adolescente por uma única pessoa não traz nenhum
inconveniente de antemão para o acolhido. “O que a gente precisa, em qualquer
um dos casos, é entender que, se aquela pessoa ou aquele casal que se apresenta
para adotar tem como atender as necessidades para o desenvolvimento saudável
daquela criança, ela está acolhida.”

 *Nome fictício. A pessoa não quis ser identificada porque o
processo de guarda ainda não está encerrado.

 Edição: Paula Laboissière

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