Um possível surto de
sarampo, como o que ocorreu em todo o Brasil em 2019, preocupa infectologistas
e epidemiologistas. Dois novos casos confirmados em São Paulo e as baixas taxas
nacionais de cobertura vacinal registradas nos dois últimos anos acendem
alerta.
Apesar de ainda não ter
registrado casos de sarampo neste ano, segundo dados desta segunda-feira (18),
Santa Catarina teve em 2020 e 2021 as taxas de cobertura vacinal mais baixas
dos últimos anos, conforme a Dive/SC (Diretoria de Vigilância Epidemiológica de
Santa Catarina).
Vacinação do sarampo segue baixa em
sc
O temor é que, com a
retomada das atividades após o arrefecimento da pandemia, a doença volte a se
proliferar como no ano de 2019. Na época o Brasil registrou 18.203 casos
confirmados e 15 mortes, segundo o Ministério da Saúde. Por conta disso, o país
perdeu o certificado de erradicação da doença, que fora concedido em 2016 pela
Opas (Organização Pan-Americana de Saúde).
Entre 2016 e 2021,
foram os dois últimos anos que Santa Catarina registrou a cobertura vacinal
mais baixa da tríplice viral, vacina que protege contra sarampo, caxumba e
rubéola. Em 2021, apenas 82% do público alvo foi imunizado, e em 2020 a
campanha atingiu 86%. Entre 2016 e 2019, as taxas oscilaram entre 92% e 96%.
Vacinação segue baixa em 2022
Até o último dia 13 de
abril, apenas 9,8% da população apta para se vacinar contra o sarampo em Santa
Catarina compareceu aos postos de saúde. A atual campanha de vacinação imuniza
trabalhadores da saúde.
A imunização é a única
forma de conter a doença. Dados do DataSUS (Departamento de Informática do
Sistema Único de Saúde) demonstram que, em todo o Brasil, pouco mais de 49% da
população tinha as duas doses do imunizante contra o sarampo em 2022. O número
considerado ideal é 90% da população.
Doença adormecida
O sarampo voltou a ser
um problema sério no Estado em 2019. Desde 1997, quando foram registrados 491
casos entre catarinenses, nunca se teve tantas infecções em um único ano.
Foram 304 casos em 2019
e 105 casos em 2020. Nos quatro anos anteriores não foram notificados casos da
doença. Somando os casos registrados entre os anos de 98 e 2018, são apenas 92
casos em Santa Catarina.
No ano de 2021 não teve
registros de sarampo no Estado. Mas isso não significa que a doença foi
erradicada. Especialistas consideram que, na verdade, a doença ficou
“adormecida” durante o período de pandemia principalmente por conta das medidas
de distanciamento social.
Ao Portal R7, Juarez
Cunha, presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), afirma que a
situação passou a falsa ideia de que o surto de sarampo estava resolvido.
“Os números diminuíram
em decorrência das medidas não farmacológicas adotadas para a Covid-19, porque
o sarampo também se transmite de forma respiratória, mas nós continuamos com um
surto no país. Ainda tínhamos casos em São Paulo e Amapá, mesmo durante a
pandemia. A tendência é que esse quadro aumente agora”, alerta o pediatra.
Infectado transmite a doença para
até 18 pessoas não vacinadas
A grande preocupação no
cenário de baixa vacinação acontece devido à alta taxa de transmissibilidade da
doença. Em uma população suscetível, cada caso confirmado pode transmitir a
infecção para, no mínimo, 12 pessoas e, no máximo, 18.
“Ela é considerada uma
das doenças mais transmissíveis. Então, em um ambiente em que estiver alguém
com sarampo junto de não vacinados ou que não tiveram sarampo, a tendência é
essa pessoa infectar todos que estão ali. Ela tem uma transmissibilidade de até
18 vezes”, ressalta o presidente da SBIm.
A complacência é apontada
como o principal fator para a baixa cobertura vacinal. “A ideia que as pessoas
têm de que [para] doenças que elas não conhecem, nunca viram, não é preciso se
vacinar leva a esses índices baixos”, lamenta o médico.
Porém, é importante
lembrar que o sarampo segue sendo umas principais causas de morte de crianças
nos países menos desenvolvidos, apesar de existir uma vacina segura desde 1963.
“Pode ter consequências
muito graves, pode levar à morte, à internação hospitalar, pode deixar sequelas
– e temos uma vacina segura, eficaz e gratuita”, incentiva o especialista.
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