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Santa Catarina completa 30 dias de vacinação com lentidão e falta de doses

Última atualização 18 de fevereiro de 2021 - 16:23:14

Foto: Julio Cavalheiro/Secom


Santa Catarina completa nesta quinta-feira (18) um mês da primeira pessoa vacinada contra a Covid-19 no Estado. Em 30 dias, o aguardado período de vacinação foi marcado por comemorações dos gestores da saúde e autoridades, mas, na prática, a aplicação das doses enfrenta diversos problemas como baixo número de imunizantes, de mão de obra e de velocidade. 

Desde o início, órgãos e entidades estão empenhados em mapear e resolver os problemas das prefeituras para acelerar o processo. Até agora, apenas 59% das doses recebidas pelo Estado já foram aplicadas, ou pouco mais de 176 mil do total de 298 mil unidades recebidas. Entre as doses efetivamente distribuídas às prefeituras, o percentual sobe para 83%. Somente 32 mil catarinenses receberam as duas doses. 

A morosidade na aplicação provocou alerta na Assembleia Legislativa de SC (Alesc), que convocou o secretário de Estado da Saúde, André Motta Ribeiro, para dar explicações, e também no Ministério Público de SC (MPSC), que expediu recomendações especiais aos municípios. 

“São compreensíveis as limitações decorrentes da insuficiência de doses disponíveis, o que impossibilita ampliar de forma mais significativa a cobertura vacinal, mas é absolutamente inadmissível que haja demora na aplicação das doses recebidas, que são reconhecidamente poucas”, diz o documento do MPSC. 

Segundo autoridades do setor, além da falta de doses, somam-se diversos outros problemas. Nesta semana, a Federação Catarinense de Municípios (Fecam) lançou um questionário para as prefeituras indicarem os principais entraves. Segundo o presidente da entidade, Clenilton Pereira (PSDB), um dos problemas é a falta de profissionais qualificados para vacinar, o que poderia ser minimizado com ajuda mútua entre as prefeituras. 

Para o presidente do Conselho de Secretariais Municipais de Saúde de SC (Cosems/SC), Manuel Del Olmo, o problema da falta de profissionais tem um agravante. Pequenas cidades não teriam condições de pagar por tantas horas extras aos técnicos que estão em atuação, o que dificulta a ampliação do atendimento. Essas cidades, diz, receberam menos recursos do governo federal porque não tem hospital próprio. 

“Para muitos municípios, tem sido uma sobrecarga. Quando se fala de problema de mão de obra é isso: falta de gente capacitada, falta de condições financeiras para bancar, programas de horas extras, noite adentro”, diz. “Há muito mais problemas do que simplesmente sair vacinando gente a torto e a direito. Se houvesse muita dose à disposição, haveria uma velocidade muito maior […] Esse problema de ter que escolher quem vacinar deixa a coisa morosa”, acrescenta.  

Outro problema apontado é a troca de gestores com as eleições de 2020. Segundo Del Olmo, as novas equipes “estão muito dispostas”, mas a substituição de secretários e técnicos devido à troca de prefeitos prejudicou o planejamento. A falta de comunicação é mais um entrave: algumas cidades reservaram a segunda dose da Coronavac para aplicação futura, mas o Estado já havia feito essa reserva. 

O superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado da Saúde (SES), Eduardo Macário, vai na mesma linha. Segundo ele, o baixo número de doses disponíveis faz com que o processo seja mais lento. “A gente não consegue fazer um dia D de vacinação. Em outros momentos, o Estado vacinaria 300, 400 mil pessoas em um único dia”, afirmou. 

Além disso, acrescenta, alguns municípios não conseguiram encontrar toda a população indígena prevista como prioritária nas terras indígenas. Ele atribui a dificuldade à própria cultura dos povos, mas diz que as equipes estão em trânsito para aplicação de todas as doses destinadas a esse público.

“É uma população muito circulante. Principalmente durante o verão ela sai das suas aldeias, das áreas indígenas e vão principalmente para o litoral para comercialização de artesanato. É uma característica própria dessa população. Então as equipes de vacinação chegavam e tinha uma população de 500, por exemplo, mas só encontrava 200, porque as demais estavam em trânsito”, explica. 

Outro problema é o controle. Com a suspeita de fura-filas na vacinação, o MPSC exigiu que as prefeituras coletassem os dados dos vacinados, como nome, endereço, documentos oficiais, o que é apontado como mais um motivo para o atraso. Além disso, o receio de errar a ordem de prioridade é mais um fator de desaceleração. 

Apesar disso, o Estado espera imunizar cerca de 2,8 milhões de pessoas até o final de 2021. Isso seria suficiente para cobrir todo o novo grupo prioritário, desde profissionais de saúde até caminhoneiros e professores, passando por pessoas com comorbidades, presos, pessoas em situação de rua e idosos acima de 60 anos. 

Uma nova remessa de doses da Coronavac está prevista para a próxima semana. 

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