Na manhã desta sexta-feira (9), o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM) esteve em Florianópolis para participar de um evento do Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina (CRM-SC). Por uma hora, falou sobre as perspectivas da saúde no Brasil, criticou o modelo de formação de novos profissionais, e propagou os programas criados pela pasta. Além disso, disse que o aumento do repasse de custeio vai corrigir a falta de atendimento nas cidades e que em seis meses sua gestão fez muito mais do que o PT em 16 anos.
Segundo ele, a partir de outubro o Ministério deve iniciar uma campanha nacional de vacinação para diversas doenças. O ministro reconhece que o país sofre com a baixa cobertura vacinal, mas disse que o governo federal está pedindo reforço na fabricação do produto para atender a demanda.
Ele aposta nos programas Saúde na Hora e Médicos pelo Brasil, lançados por ele, para combater a falta de atendimento nas cidades brasileiras, principalmente em locais com baixo desenvolvimento, e também à lacuna deixada pela saída de profissionais do programa Mais Médicos.
Mandetta também criticou o modelo de formação de novos profissionais. Segundo ele, as vagas em cursos de Medicina dobraram nos últimos anos, mas as mensalidades permaneceram no mesmo patamar; 70% das unidades de ensino são particulares e muitos cursos surgiram em outros países, na fronteira com o Brasil, para atender a demanda nacional. Além disso, o Fies contribuiu para o alto endividamento dos recém-formados
Na abertura do evento, o presidente do CRM-SC, Marcelo Neves Linhares, disse que Mandetta tem o pensamento alinhado com os médicos e tem o apoio das entidades médicas. Em julho, em entrevista à Rede Catarinense de Notícias, Linhares havia se posicionado a favor dos novos critérios do governo federal para o Mais Médicos.
Santa Catarina e outros estados não conseguiram atingir algumas metas de vacinação. O que pode ser feito para mudar este quadro?
Mandetta – A gente vem alertando desde que cheguei ao Ministério da Saúde que a cobertura vacinal do Brasil perigosamente havia mostrado sinais de quedas expressivas a ponto de nós chegarmos a apenas 80% da população, e alguns locais com menos de 60%, menos de 50%. Cidades ainda com registro muito baixo de vacinação. Isto posto, nos fez logo em janeiro colocar à toda a população, não uma campanha de vacinação, mas um movimento a favor da vacinação. A diferença é que campanha tem data para começar e data para terminar, e o movimento não. É contínuo e pertence à sociedade. São Paulo foi alertada em fevereiro, foi alertada em março, de que sua vacinação de sarampo era baixo. Nós tivemos inúmeros navios que vieram com europeus e pararam na costa brasileira no Carnaval com pessoas com sarampo. Nós tivemos que entrar nos navios e vacinar 9 mil turistas. A gente já alertava que após o Carnaval poderiam ter casos. Como o sarampo é altamente contagioso, demonstra muito rapidamente que as demais vacinas também devem estar muito baixas. O que a gente recomenda é que as unidades de saúde se organizem, porque quando as pessoas tem uma sensação de alarme vão todas de uma vez só para o posto. Vacina não é uma coisa que está na prateleira. Estamos pedindo reforço nas fábricas para poder abastecer de vacina. Não fizeram antes, agora querem fazer todos ao mesmo tempo. Com calma, as secretarias de saúde vão ser abastecidas, mas em outubro, aí sim, vamos uma grande campanha de multivacinação.
A febre amarela na região Sul do Brasil preocupa? Qual o planejamento para combatê-la?
Mandetta – A febre amarela que nós temos é a febre amarela silvestre. Você começa a observar os macacos sendo contaminados. Mas a vantagem da febre amarela é de que basta uma única vacina que dura para a vida toda. Ela deixa uma memória muito boa imunológica. O Paraná não teve [casos] porque teve um excelente bloqueio. A mesma coisa deve ser feita em Santa Catarina.
O Estado já tem cerca de 27% das vagas do Mais Médicos desocupadas. Entre a transição de um programa e outro, como fica o Estado?
Mandetta – O que a gente fez foi primeiro lançar um programa chamado Saúde na Hora, que é tipicamente para as cidades com maior IDH, cidades médias, cidades grandes. A cidade que mais aderiu, com maior volume de unidades, é Florianópolis… é você triplicar o valor do custeio. O maior custeio era R$ 40 mil, foi para R$ 116 mil para que elas possam trabalhar das 7h da manhã até as 22 horas. Inclusive flexibilizando o vínculo de horário dos médicos que era 40h para 20h, e facilitar os horários de cobertura. A gente está monitorando. E os programas federais vão para as cidades mais pobres, mais esquecidas, do semiárido, do Jequitinhonha, das regiões ribeirinhas. Lógico que se tivermos locais com IDH baixo, com carência, com impossibilidade de alocação de recursos humanos, não importa se é Santa Catarina ou se é São Paulo, [vai receber]. O Programa que lançamos na semana passada, Médicos pelo Brasil, utiliza os critérios da OCDE, do IBGE, que classifica os diferentes ambientes. Não existe nenhum critério político, e sim critério técnico. Santa Catarina é um estado que tem total condição de, com os recursos que nós estamos colocando a mais na atenção básica, tem condições de atrair profissionais.
Qual o futuro dos médicos cubanos com a chegada do Médicos pelo Brasil?
Mandetta – Cuba rompeu e eles receberam nesta semana o visto permanente. Agora precisa ter todo um trabalho de revalidação de diploma como qualquer médico formado no exterior precisa ter para exercer no Brasil.
Existem vários rumores sobre o SUS, como mudanças radicais. O que o Ministério tem planejado sobre o SUS?
Mandetta – O que a gente escuta de asneira… Nosso sistema de saúde é previsto na Constituição, ele é uma cláusula pétrea. Está escrito que saúde é um direito de todos e um dever do Estado. Se quiserem mudar, tem que mudar convocando nova Constituição. As pessoas que torcem contra o Brasil precisam acordar. Está chato já o mimimi. A eleição acabou. Daqui a quatro anos vai ter outra. Agora vamos trabalhar, todo mundo tem que ser a favor do Brasil. O SUS nunca esteve tão forte. Nós nunca tivemos na história do SUS uma Secretaria Nacional de Atenção Primária. Nunca nenhum governo apostou na atenção primária como prioridade e abriu uma Secretaria Nacional de Atenção Primária. Nunca houve aumento de quase 150% do custeio da atenção primária, como foi feito nesse programa Saúde na Hora. Nós lançamos o Médicos pelo Brasil com concurso público, mérito, classificação, especialização em médicos de saúde da família e comunidade. São 18 mil vagas, sendo 14 mil vagas para cidades pobres do Brasil na maior política de equidade da história do SUS. Criamos a maior campanha de vacinação. O ano que vem vamos trabalhar regionalização e média complexidade e terminaremos o ciclo de governo na alta complexidade. E encontramos um sistema de saúde que de 30 anos de vida, ficou 16 anos da mão do PT e nunca saiu de blábláblá. Em seis meses nós já fizemos bem mais.
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