Sepé Tiarajú Vive, Vitor Kaingang Vive! Façamos resistência aos povos!
Última atualização 19 de fevereiro de 2016 - 11:12:52
“*Há 260 anos, nessa terra que Ñanderu nos revelou, jorrava o sangue do grande líder e guerreiro Sepé Tiarajú e de mais 1500 lutadores de nós, povos massacrados pelos exércitos de Espanha e Portugal”. Rememorando a resistência dos povos indígenas, de 05 a 08 de fevereiro, aconteceu o 10º encontro Sepé Tiarajú, na cidade de SÃo Gabriel (RS), espaço de resistência, memória e massacre.
“*Estivemos presentes mais de 600 lutadores/as entre lideranças, rezadores, mulheres, homens, jovens e crianças do povo Mbya e Avá no Brasil e Argentina, do povo Kaiowa e Ñandeva do Mato Grosso do Sul e do povo Kaingang.Nesse 10º Encontro, fizemos a memória de como nosso povo foi tratado pelas potências imperiais de Espanha e Portugal. Reavivamos a memória do dia 07 de fevereiro de 1756, quando os exércitos de Portugal e Espanha assassinaram, em uma emboscada, Sepé Tiarajú na Sanga da Bica desta mesma cidade. Três dias depois, assassinaram mais de 1500 Guarani que defendiam o território dos interesses econômicos e políticos dos invasores europeus. Ao massacrar nosso povo, os nÃo indígenas, consideraram que tinham eliminado nossa resistência, mas hoje sobre estas mesmas terras, resistimos e lutamos contra os mesmos projetos coloniais, que em nome do lucro e da cobiça perpetuam o genocídio e destroem nossas terras sagradas”.
Foi dia também de denúncias. De falar sobre a omissÃo do Governo Federal quanto a demarcaçÃo das terras indígenas, momento de apontar mais uma vez para o Congresso Nacional brasileiro e dizer que nÃo nos esquecemos de todas as atrocidades cometidas contra os povos. Dia de questionar também o poder Judiciário e de contestar inclusive a FundaçÃo Nacional do Índio (Funai) “*que através de seu presidente, JoÃo Pedro Gonçalves, anunciou publicamente que nÃo existe genocídio contra os povos indígenas; que o órgÃo indigenista funciona bem; e, que nÃo existe nenhuma falta de vontade política para resolver a questÃo indígena no Brasil. Estas mentiras nos feriram profundamente”.
Aos leitoresas da coluna Oeste de Fato, coloco estes trechos descritos na carta escrita ao final do encontro no Rio Grande do Sul e faço um pedido, para que fiquemos atentosas ao que nos fere muito próximo. Temos exemplos claros sobre o quanto o povo está sofrendo. O assassinato do menino Kaingang, Vitor Pinto, de apenas dois anos de idade, na rodoviária de Imbituba-SC, também a expulsÃo de indígenas da rodoviária de SÃo Miguel do Oeste, no mesmo estado, mostra que o sofrimento dos povos é histórico, as dores atravessam o peito e é preciso fazer resistência em uma sociedade que condena o roubo de uma camiseta de R$ 10,00 mas nÃo se comove com o assassinato brutal de uma criança indígena, degolada, por ser parte de um povo que foi e é atormentado dia e noite por pessoas “de bem”, por ricos e também por populares que cruzam as ruas e fazem justiça com as próprias mÃos, depois postam em suas redes sociais e falam sobre o quanto podem ser “valentes”. Também a imprensa comercial se enche de orgulho quando enviam seus aprendizesadestrados para falar com toda ousadia, e de um ponto de vista medíocre, sobre a vida dessas pessoas, “ladrões”, que desde que nasceram nunca tiveram paz, nunca souberam o que é o amor, nunca tiveram um dia de felicidade para celebrar.
Neste sentido, façamos a resistência, por favor nÃo calem sua voz, é necessário que as denúncias percorram os meios que ainda temos para falar de nós, para defender nossas pautas e necessidades. “Essa terra tem dono”. Que este grito de Sepé nos guie, nos oriente, nos dê paz para seguir a vida defendendo tudo aquilo que acreditamos, na mais pura convicçÃo de que viver só vale a pena quando nossa luta é pela libertaçÃo. Até a vitória.
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