— Eu chorava muito. E a Marina chorava por me ver chorando. Ela nÃo sabia o que estava acontecendo, mas sabia que era grave por estar indo para o hospital. Quem contou para ela foi uma menina que também se trata aqui. A menina explicou que a Marina estava dodói e teria de deixar que soldadinhos, no caso os remédios, entrassem no corpinho dela para combater os inimigos — lembra com olhos marejados a mÃe Débora Michel Sousa, 38.
Assim como Marina, outras 150 crianças sÃo diagnosticadas com câncer infantil em Santa Catarina a cada ano. No brasil, sÃo quase 12 mil novos casos anualmente. A incidência é maior entre 5 e 6 anos de idade. Leucemia, tumores do sistema central e linfomas sÃo as formas de expressÃo mais frequentes. Instituições públicas de saúde em Florianópolis, Itajaí, Blumenau e Joinville recebem as crianças de até 15 anos incompletos com câncer.
A notícia boa é que o índice de cura é elevado: 73% no Estado, frente à média de 70% no Brasil. Os números sÃo do Instituto Nacional do Câncer (INCA) em 2014.
Apesar de carequinha, Marina nÃo perde o sorriso, nem quando tem de deixar os brinquedos de lado para ir às sessões de quimioterapia. Ela se encaminha para a metade do tratamento e, segundo os médicos, o organismo responde bem.
— Agora eu gosto de ficar aqui. As enfermeiras sÃo legais. Mas estou feliz porque hoje vou poder ir pra casa brincar — comemora a menina.
Diagnóstico precoce é fundamental
Um dos objetivos da campanha Novembro Dourado, que acontece exatamente no mês do Dia Nacional de Combate ao Câncer Infanto-juvenil em 23 de novembro, é alertar para a importância do diagnóstico precoce da doença. A médica responsável pela área de Onco-Hematologia do Hospital Infantil Joana de GusmÃo, doutora Denise Bousfield da Silva, explica o motivo:
— Toda criança deve ser acompanhada pelo pediatra, que é treinado para perceber os sinais de alerta. Sintomas do câncer mimetizam [se confundem] sintomas de outras doenças mais frequentes. A persistência deles é que levanta a suspeita do câncer infantil. Tumores na criança têm menor período de latência e sÃo de alta fraçÃo de proliferaçÃo. EntÃo, quanto mais precoce é o diagnóstico, menos espalhada a doença vai ser — garante.
Apesar de as células cancerígenas se espalharem mais rapidamente nos pequenos, a resposta da criança ao tratamento costuma ser melhor quando comparada aos adultos, por isso a taxa de sobrevida elevada.
— A quimioterapia atua melhor em células que se proliferam rapidamente. Só que ela nÃo atua exclusivamente contra as células malignas, entÃo acontece queda de cabelo mais acelerada, feridas na boca e risco de infecçÃo. Por isso a gente cuida muito, porque a principal causa de óbito desses pacientes é por infecçÃo — detalha a médica.
Sinais de alerta do câncer infantil
— Mancha branca nos olhos, perda recente de visÃo, estrabismo, protrusÃo (deslocamento para frente) do globo ocular;
— Aumento de volume (massa) do abdômen e pelve, cabeça e pescoço, membros, partes moles (coxa, por exemplo) testículos e glândulas;
— Sinais ou sintomas sem explicaçÃo: febre prolongada, perda de peso, palidez, fadiga, manchas roxas pelo corpo e sangramentos;
— Dores progressivas nos ossos, articulações nas costas e fraturas, sem trauma proporcional;
— Sinais neurológicos: alteraçÃo da marcha, desequilíbrio, alteraçÃo da fala, perda de habilidades desenvolvidas, dor de cabeça por mais de uma semana com ou sem vômitos, aumento do perímetro cefálico.
— Ínguas que aumentam progressivamente de tamanho;
— Palidez inexplicada, que nÃo é anemia;
— Sangramentos;
— Manchas roxas no corpo que nÃo sÃo originadas por trauma (batidas);
— Dor de cabeça e vômito que fazem a criança despertar, parar de brincar;
— Puberdade precoce.
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