Após oito anos, motorista fala sobre acidente que matou 16 pessoas em Descanso
Última atualização 29 de outubro de 2015 - 09:44:42
O julgamento do ex-caminhoneiro Rosinei Ferrari começou na manhà desta quarta-feira (28) no Fórum de Chapecó. Durante toda a manhÃ, os jurados, Ministério Público, Defensoria Pública e o juiz da 1ª Vara Criminal ouviram os depoimentos do perito que analisou o caminhÃo e de Ferrari, que falou sobre o acidente ocorrido em 9 de outubro de 2007 que provocou a morte de 16 pessoas e deixou pelos menos outras 40 feridas.
O perito
O primeiro a ser ouvido foi o perito criminal Luiz Almir Schneider Maran que produziu o laudo que indicou a existência de inúmeros problemas de freios, tanto no cavalo motor quanto no reboque, principalmente com desgaste nas lonas, tambores e sistema do freio de emergência.
Ele explicou que uma lona de freio comum tem 18mm de espessura, com limite de uso em 7mm. E em algumas rodas do veículo conduzido por Rosinei, essa peça possuía 5mm, além de marcas de desgaste que poderiam impedir o funcionamento correto dos freios. No reboque a falta de peças e reparos improvisados com amarras e pregos foram descritos.
Maran falou que no trajeto antes do acidente – um trecho de muitas curvas de declives acentuados na BR-282 – o tacógrafo mostrou uma reduçÃo de velocidade, possivelmente em uma tentativa do motorista de parar o veículo, mas na descida o caminhÃo – carregado com 30 toneladas de açúcar, três toneladas a mais que o permitido – ganhou velocidade novamente e atingiu as vítimas a 102km/h.
Fim do silêncio
Perto das 12h, Rosinei Ferrari foi chamado para prestar depoimento. Antes dele, sua esposa também falou na condiçÃo de informante. Contou sobre o trabalho e a rotina do marido, antes e depois do acidente. Ela respondeu os questionamentos do juiz, Jeferson Vieira, do MP e da Defensoria Pública.
Em sua fala, Ferrari contou que trabalhava há poucos meses com o caminhÃo. Ele teria carregado açúcar na cidade de Rio Brilhante (MS) com destino a Caxias do Sul (RS). Questionado pelo juiz, ele disse que o caminhÃo nÃo havia apresentado problemas nos freios até entrar na BR-282, pouco antes do ponto onde ocorreu a colisÃo.
“Eu segui pela rodovia e alguns carros passaram e deram sinal de luz. Eu imaginei que era alguma blitz da polícia. Em seguida vi uma ambulância passando, imaginei que se tratava de um acidente e reduzi a velocidade. Na descida eu vi a fila, mas o caminhÃo nÃo parou. Eu consegui contornar uma curva para a esquerda, outra para a direita e vi todas aquelas pessoas e o caminhÃo ganhando velocidade. Eu fiquei apavorado. Tentei desviar de quem estava do lado direito e joguei para a esquerda, mas tinha mais gente. EntÃo eu ouvi um estouro e depois apaguei, só acordei no hospital no dia seguinte”, relatou.
Em vários momentos, Rosinei se emocionou durante o depoimento e pediu desculpas para as famílias das vítimas. “Eu nunca quis machucar ninguém. Estava trabalhando para sustentar a minha família e sei que todos naquele local estavam tentando ajudar as vítimas do outro acidente. Mas queria pedir que tentassem me perdoar se puderem. Eu também sofro muito por tudo o que aconteceu”, disse.
Após o acidente, Rosinei ficou 73 dias internado se recuperando dos ferimentos que sofreu e depois ficou preso por 1 ano e oito meses. Em 2009 conseguiu uma liminar do Supremo Tribunal Federal para responder em liberdade.
O julgamento continua na tarde desta quarta-feira (28) com a manifestaçÃo dos Defensores Públicos e também do promotor do Ministério Público.
deixe seu comentário