Home 07 de setembro: Nós não celebramos a pátria manchada com o sangue dos povos

07 de setembro: Nós não celebramos a pátria manchada com o sangue dos povos

Última atualização 4 de setembro de 2015 - 16:47:06
Brasil: Patriotismo, tradiçÃo e história. Esteé apenas um dos temas que vi circular emcelebraçÃo ao sete de setembro deste ano. É com este mesmo ideal que muitos estudantes serÃo obrigados a desfilar para garantir mais pontos na média. E por fim, é com este tema que mais uma vez a nossa verdadeira história será omitida para grande parcela da populaçÃo. Parece estranho falar contra a regra, no entanto, mais insólito é receber um convite para uma sessÃo solenena Câmara de Vereadoresna regiÃo onde resido, para aplaudir a semana da pátria e as etnias que a “compõe”, sendo citadas apenas as de origem europeia. Mais esdrúxulo do que isso, é ter que explicar para membros da Câmara a diferença entre um indígena e um Afrodescendente e dizer-lhes que estes nÃo fazem parte da mesma matriz cultural.
NÃo bastasse o ‘esquecimento’ e o desleixo com a questÃo dos povos que historicamente viveram na regiÃo, foram expulsos pelos europeus e hoje habitam as margens, a semana da falsa pátria começa com tragédia. Meu companheiro de vida e luta, Pedro Pinheiro, já dizia: “Mais um 07 de setembro e desde que Pindorama passou a ser Brasil, independente ou nÃo, as cores da bandeira verde, amarela e azul, deveriam ser vermelhas. NÃo pelo comunismo, mas sim pelo sangue indígena derramado por esses 515 anos de matança”. E agora, está mais vermelha do que nunca. A pátria amada e idolatrada dos ruralistas, dos assassinos de gentes, esse modelo de pátria que eu nunca vou amar, vitimou mais um de nossos irmÃos indígenas.
SemiÃo Vilhalva, indígena de 24 anos, foi assassinado segundo notas divulgadas pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI), “pelas milícias dos ruralistas à beira de um córrego onde procurava seu filho. As famílias relatam que apenas tiveram tempo de juntar alguns poucos pertences e correr para o meio da mata, buscando segurança para nÃo serem também assassinadas”.
SemiÃo foi baleado no domingo, dia 30, no Mato Grosso do Sul, em uma das áreas retomadas na Terra Indígena ÑanderuMarangatu. Famílias Guarani e Kaiowá precisaram deixar seus moradias após o local ser invadido por pistoleiros e fazendeiros. Segundo o CIMI, “O novo ataque (dos pistoleiros) foi realizado sobre o território sagrado de ÑanderúMarangatú, no local onde se encontra a fazenda denominada Piquiri, sobreposta aos 9.300 hectares de chÃo tradicional homologados pela Presidência da República”.
Por conta disso e de tantos ataques feitos historicamente contra os povos originários, temos a compreensÃo que essa bandeira da pátria está manchada com sangue indígena, caboclo e de outros e outras que lutaram por um mundo melhor. Essa bandeira carrega as marcas do povo lascado, do mesmo semblante que nos move em luta pela vida. Em resistência a essa falsa pátria, a essa falsa independência, é que o coletivo da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) e Pastoral da Juventude Rural (PJR), do qual faço parte, vai as ruas neste 07 de setembro se somando a outras organizações, fazendo eclodir suas pautas, denúncias e anunciando mudanças junto ao Grito dos Excluídosas. Mesmo com o coraçÃo sangrando, precisamos seguir, acreditando na força da organizaçÃo popular, já que, nÃo podemos contar com este estado de repressÃo que está a serviço da bancada da morte. O povo já está cansado de sofrer, por isso, vamos ocupar as ruas, pois este é o nosso lugar. Para os adoradores dos ruralistas e sanguinários, replico o recado dos povos originários: “E decidimos: Se o Governo Federal nÃo punir os executantes e mandantes desse homicídio, nós Terena, vamos dar uma resposta à altura para os ruralistas e iniciar imediatamente a autodemarcaçÃo de TODO NOSSO TERRITÓRIO! Povo Terena, Povo que se levanta”. Nos encontramos na marcha, protegidosas pelo revolucionário Jesus Cristo Camponês e Operário de Nazaré. Até breve.

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