Maratonista conta em livro como a corrida a ajudou a superar o câncer de mama
Última atualização 18 de agosto de 2015 - 14:52:33
Os nomes de mÃe e filha tatuados nas costas ressaltam o amor incondicional materno — sentimento vital para que Déborah Aquino lutasse contra um câncer de mama com otimismo e coragem.
— Eu nÃo queria que a minha filha me visse fraca — relata.
Blogueira, mÃe, maratonista e agora escritora, Debs — como é conhecida nacionalmente — conta em 110 páginas como os 12 anos de corrida foram fundamentais para que ela nÃo perdesse a força. Num Piscar de Olhos nasceu por meio do incentivo de quem acreditava que a história de Debs pudesse inspirar outras mulheres a enxergar o câncer de mama como uma oportunidade para se conhecer e rever valores.
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O tratamento da corredora, que tem acumuladas duas maratonas e 19 meia maratonas, durou cerca de um ano. Em junho do ano passado, Debs realizou a última quimioterapia. Depois de quase um ano em remissÃo da doença — quando nÃo há sinais de câncer mas também nÃo é possível concluir cura —, a blogueira conversou com a reportagem sobre o medo e o papel da família na luta contra o câncer que a surpreendeu num piscar de olhos.
O diagnóstico
“Eu fiquei sabendo da doença em dezembro de 2013, pouco depois de ter chegado da maratona de Berlim. Os médicos já acompanhavam os nódulos que, até entÃo, eram benignos, mas que começaram a aumentar. Quando saiu o resultado da biópsia, o médico me ligou e pediu para eu ir até o consultório. Se nÃo fosse sério, ele nÃo pediria isso, entÃo eu já imaginei o que era e insisti para ele adiantar a notícia por telefone mesmo.”
Medo é inevitável
“Eu só chorava. Eu olhava para minha filha, na época com três anos, e só pensava 'meu Deus, eu nÃo vou ver ela crescer…'. Eu acho que quando você recebe um diagnóstico de câncer, a primeira coisa que você pensa é que vai morrer. Foi a partir desse momento que a relaçÃo com a minha família começou a mudar muito.”
A importância da família
“Eu pensava muito na minha filha, porque eu nÃo queria que ela guardasse esses momentos para o resto da vida dela. Toda vez que eu passava mal, pedia para meu marido tirar ela de casa. Eu nunca quis que ela me visse fraca, e isso também me ajudou, porque eu tinha de ser positiva para ela. O meu marido foi demais, ele me ajudou a enfrentar o tratamento de forma mais racional e tranquila. Ele cumpriu exatamente o que prometeu no altar: na saúde, na doença… E embora a minha mÃe nunca tenha demonstrado tristeza na minha frente, eu acredito que ela tenha chorado no cantinho dela. Mas ela sempre colocava o meu astral lá em cima. Em um processo como esse, a família é a base de tudo.”
Vida real em primeiro plano
“Quando você passa por um chacoalhÃo desses, você reavalia a suas prioridades. Antes os meus valores estavam totalmente invertidos. Eu me envolvia com as mídias sociais e deixava de viver a minha vida real. Eu me preocupava mais em postar fotos no Instagram e em responder os comentários dos seguidores. Eu ficava horas no Whats falando com vários grupos. Hoje, eu fico com a minha família, que é a minha prioridade. Eu nÃo troco eles por nada.”
O que mudou depois do tratamento
“Embora eu olhe para o meu cabelo, já crescido, e pense 'sou eu de novo', eu sei que, por dentro, sou uma pessoa totalmente diferente. NÃo tem como sair igual de um processo desses. Eu me tornei uma pessoa mais centrada e mudei muito em relaçÃo às pessoas. Durante o tratamento, poucos realmente ficaram do meu lado, nÃo sei se por terem dificuldade para lidar com isso ou por medo. Mas eu posso dizer que essa fase foi como uma peneira na minha vida. Antes eu tinha vários amigos, hoje eu os conto nos dedos, e nÃo me arrependo. Tudo isso também me tornou uma pessoa mais calma e tranquila.”
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Ensinamentos da corrida ajudaram a enfrentar a doença
“A corrida trouxe muita disciplina, persistência e perseverança para a minha vida. Quando você corre longas distâncias, para chegar até o final, precisa passar por muitos quilômetros sem saber como o seu corpo vai reagir. Você precisa aprender a lidar com imprevistos. E tudo isso eu trouxe para o tratamento. Eu conseguia enxergar o final, a cura, mas, para chegar lá, eu sabia que iria passar por muita coisa. Pensar assim me tranquilizava. Graças à corrida, o tratamento foi mais tranquilo do que eu imaginei.”
A primeira maratona depois do tratamento
“Eu voltei a correr um mês depois da minha última quimioterapia. Os treinos eram como se eu nunca tivesse corrido na vida, intercalando trotes e caminhadas. Mas o nosso corpo é uma máquina perfeita e ele ainda lembrava alguma coisa, tanto que, em dois meses, eu já consegui correr uma meia maratona. Eu fiquei tÃo feliz que me inscrevi para correr a maratona de Boston (EUA), em abril desse ano (2015). Eu senti que iria conseguir. Essa prova foi muito especial para mim, foi o encerramento de um ciclo. Quando eu fiquei doente, cheguei a me perguntar se algum dia eu conseguiria correr de novo. E oito meses depois, correr uma maratona, foi como colocar uma pedra em cima de tudo.”
Por que escrever em um blog
“O blog nasceu primeiramente com a ideia de um diário para a família acompanhar a gravidez. Eu comecei a ganhar seguidoras depois de participar de uma matéria sobre corredoras grávidas. EntÃo, passei a alimentar a página com outros conteúdos sobre alimentaçÃo e corrida, principalmente. Quando recebi o diagnóstico de câncer, transformei novamente em um diário. Eu nÃo tinha noçÃo do alcance que a página teria, e só me dei conta da minha responsabilidade no lançamento do livro, depois de conversar com as minhas seguidoras. Três adolescentes me contaram que começaram a se exercitar depois de verem as minhas fotos na academia durante as fases de quimioterapia. Elas levaram isso como um incentivo, e entÃo eu vi aonde as coisas estavam chegando.”
Num Piscar de Olhos
“Eu nunca pensei em escrever um livro, embora eu sempre tenha gostado de escrever. O convite veio da editora. No início, eu fiquei com medo de me expor e pensei que ninguém fosse ler, mas sabia que a iniciativa poderia ajudar muita gente. EntÃo nasceu o livro, que fala sobre a doença e como a corrida me ajudou a enfrentá-la. Eu abri a porta da terapia. Uma menina até comentou que se identificou muito com o livro e que a vida das pessoas é muito parecida, porque o caminho é diferente pelo livre arbítrio, mas as coisas que acontecem sÃo praticamente as mesmas.”
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