SC aguarda dois novos radares meteorológicos
Última atualização 18 de agosto de 2015 - 09:16:08
Enchentes, tempestades, chuva de granizo, estiagem e até tornados fazem parte do leque de desastres naturais de Santa Catarina. Para minimizar o impacto provocado pela força da natureza, a Defesa Civil de SC aguarda a compra de dois radares meteorológicos pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e InovaçÃo (MCTI), que reforçariam o monitoramento nas regiões Oeste e Sul do Estado.
No entanto, para inaugurar os equipamentos junto com o Centro de Monitoramento e Alerta Catarinense, no segundo semestre de 2016, o governo espera que a licitaçÃo dos radares seja lançada até setembro.
A aquisiçÃo faz parte do Sistema Nacional de ProteçÃo e Defesa Civil (Sinpdec) e Santa Catarina é um dos Estados que devem ser beneficiados. SerÃo dois radares: um no Oeste, provavelmente em Chapecó; e o segundo no Sul, na divisa com o Rio Grande do Sul. Digitais e com alcance de 400 quilômetros, cada um está orçado em aproximadamente R$ 5 milhões, custeados pela UniÃo. A manutençÃo ficaria sob responsabilidade do Estado. De acordo com o secretário de Defesa Civil de SC (SDC), Milton Hobus, as negociações para a publicaçÃo do edital estÃo bem adiantadas:
— Conversei recentemente com ministros que tratam do assunto e fiz um novo pedido, para que a licitaçÃo seja lançada até o começo de setembro. Assim poderíamos inaugurar os radares a tempo da abertura do Centro de Monitoramento.
O novo centro vai reunir os serviços como monitoramento e previsÃo do tempo, emissÃo de avisos e alertas, serviço de hidrologia e proteçÃo ao cidadÃo catarinense. O prédio será erguido onde está localizada a sede da Defesa Civil de SC, na avenida Ivo Silveira, em Florianópolis, e custará cerca de R$ 10,2 milhões, já garantidos pelo Estado através de financiamento. Até a inauguraçÃo do centro, o monitoramento meteorológico continua sendo feito pela Epagri/Ciram.
— Os radares trariam mais precisÃo nas informações. Por exemplo, no caso do Oeste, seria possível prever frentes frias que se aproximam da Argentina — diz Edson Silva, gerente do Ciram.
A reportagem do Diário Catarinense entrou em contato com o MCTI, o Ministério da IntegraçÃo (MI) e o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) questionando se há uma previsÃo do lançamento da licitaçÃo para a compra dos radares para Santa Catarina. No entanto, nenhum órgÃo encaminhou resposta até o fechamento desta ediçÃo.
Mais equipamentos afinam a precisÃo
Santa Catarina tem atualmente três radares em operaçÃo que já servem como garantia de nÃo existir pontos cegos de monitoramento (veja nos mapas abaixo). O mais recentemente instalado fica em Lontras.
Porém, os meteorologistas carecem de dados mais precisos do tempo nas regiões Oeste e Sul. O especialista Daniel Bittencourt, professor do curso técnico de meteorologia do IFSC com pós-graduaçÃo no NOAA (AdministraçÃo Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos), órgÃo referência em previsÃo do tempo nos EUA, explica a diferença de informações fornecidas por um radar de acordo com a distância:
— A indicaçÃo de alcance de um radar pode até informar 400 km, mas as informações sÃo mais precisas até cerca de 120 km. Até a curvatura da Terra interfere nessa transmissÃo de informações.
Bittencourt afirma ainda que, nos EUA, país onde há uma incidência de desastres naturais bem superior ao Brasil, há cobertura com radares em todo o território daquele país.
— A distância entre os radares nÃo passa de 150 km. Outro fato importante é que todos os equipamentos sÃo padronizados. Isso permite uma interaçÃo dos dados produzidos, facilitando uma posterior análise — afirma o especialista.
El Niño e a influência no clima em debate
A formaçÃo do El Niño no Pacífico Equatorial irá influenciar o clima no semestre de 2015, trazendo um volume de chuva maior do que a média. Essa afirmaçÃo causa apreensÃo em áreas mais vulneráveis do Estado, como o Vale do Itajaí, que sofreu fortes enchentes no passado, e o Oeste, que recentemente teve mais de 60 cidades afetadas por causa de volumes de precipitaçÃo acima da média. Para discutir o fenômeno, o Fórum Climático Catarinense promove o debate entre os dias 19 e 20 de agosto intitulado: El Niño 2015: conhecer para mitigar os seus impactos.
Meteorologistas preveem que o fenômeno deve começar a se mostrar em Santa Catarina já em agosto e tendo os picos de influência entre setembro e novembro de 2015. Neste período, é esperado que o El Niño fique entre moderado e forte.
— Se você tem um valor de 200 milímetros por mês, por exemplo, esse valor deve aumentar para 250 mm ou 300 mm. Mas nem todas as chuvas sÃo devastadoras, depende de quanto cai no mesmo dia — explica o meteorologista da Epagri/Ciram, Clóvis Corrêa.
Entre as palestras e mesas redondas, está programado um grupo de discussÃo que produzirá um relatório com recomendações para melhorar os sistemas de proteçÃo às chuvas.
— O El Niño ocorre há milhares de anos. Agora o ambiente mudou, temos casas em locais que podem ser afetados mais facilmente e precisamos nos preparar. Por isso é importante discutir e trabalhar em conjunto — Corrêa.
O evento está com as inscrições abertas pelo site da Assembleia Legislativa e é gratuito.
Incidência de fenômenos gera ações para minimizar os danos
Santa Catarina é considerado um dos Estados com maior incidência de fenômenos climáticos extremos. Enchentes, tornados e trombas d’água sÃo relativamente comuns e têm um histórico de destruiçÃo, inclusive recente. A atençÃo dos meteorologistas e da Defesa Civil está voltada para o El Niño, que se forma nas águas do Pacífico Equatorial e influencia todo o continente.
— NÃo é certo que ter o El Niño é sinônimo de problemas. Como regra do El Niño, temos mais chuva do que a média. A questÃo é quanto de chuva em que espaço de tempo — explica o diretor de PrevençÃo da Defesa Civil Major Fabiano de Souza.
Pela frequência destes fenômenos, a Defesa Civil do Estado começou uma série de ações que visam minimizar os danos à populaçÃo. A primeira delas é uma rede estruturada dos órgÃos regionais em que todas as informações sobre os eventos climáticos sejam repassados com a maior antecedência possível.
— Nesse momento, o trabalho está concentrado na informaçÃo e acompanhamento da situaçÃo. Trabalhamos junto com os institutos de meteorologia e estamos estruturando as regionais — diz Souza
Treinamentos para bombeiros estÃo em andamento com enfoque em desastres naturais.
Leandro Puchalski: Radar nÃo é salvador da pátria
InformaçÃo meteorológica é prevençÃo. NÃo adianta você saber, ter as informações e nÃo se preparar para os problemas que podem aparecer. Santa Catarina já faz isso, com suas possibilidades e tecnologias.
Sofremos com variações do tempo, porque estamos em um local de encontro de massas de ar, temos uma atmosfera dinâmica. Somos um dos Estados que mais tem fenômenos climáticos. Precisamos nos preparar.
Novos radares ajudariam na qualificaçÃo da informaçÃo que já se tem, mas nÃo salvam a pátria. A meteorologia avisa as coisas com uma semana de antecedência, e um radar é de curtíssimo prazo, mas seria imprescindível para informações qualificadas que podem até salvar vidas.
Tendo ou nÃo radares, é preciso ações de prevençÃo em outras esferas e acompanhamento. Um nÃo funciona sem o outro.
deixe seu comentário