Periferia: onde os ‘esquecidos’aguardam uma visita
Última atualização 14 de agosto de 2015 - 16:13:55
É muito dolorido chegar na casa de alguém e ser surpreendida com a pergunta: “Será que porque a gente é tÃo pobre é que nÃo tem valor algum para os outros?”. Entre um gole e outro de chimarrÃo, que descia rasgando a garganta pela inquietude do momento, considerei pertinente falar sobre o porquê as periferias sÃo condenadas, lascadas e como os moradores sÃo jogados e vistos com preconceito pela cidade ‘do bem’.
Sentada ali meio por fora da Vila, perguntei ao morador quem eram os grandes mandatários das coisas ‘ruins’ pelas quais a periferia é condenada. De cara ele me disse: “Traficante algum mora na periferia, traficante mora em prédio de luxo, manda entregar droga, alicia menores. Quem mora na periferia se envolve nisso depois de ter todas as condições de trabalho e dignidade negadas no mercado tradicional que forma o restante da cidade”.
É cômodo julgar, é satisfatório ver a periferia pelos olhares estrangeiros e reproduzir, mas a exclusÃo real pela qual os moradores das periferias sofrem, essa ninguém quer saber, nÃo cabe comentar. Recordo-me de uma periferia rural onde estive em PalmitosSC, fazendo uma reportagem sobre a situaçÃo de uma família que estava enfrentado um problema muito sério com a abertura de uma fossa pela prefeitura em frente à casa.
Na verdade, o morador já havia caído no buraco e machucado a cabeça quando estive lá. Mesmo com a denúncia na imprensa, foram longos os meses até que a prefeitura decidisse que cobrir aquilo era algo importante de se fazer. Depois disso, estive mais uma vez em outras duas comunidades periféricas, de SÃo Miguel do OesteSC, município onde resido, ali, foram muitas as vezes em que os moradores clamaram ajuda. Pode ser, que ao ler estes escritos, nossas excelências digam: “Esse povo nÃo trabalha, só quer receber. Esse povo vive de bolsa família”. Ainda bem que existe o bolsa família, pois quando tudo nos é negado pela cor, pela nossa condiçÃo social, essa renda é bem vinda para colocar o pÃo sobre a mesa.
Claro, que para nossos gestores municipais, que planejam cruzeiros enquanto a mesa administrativa vai se abarrotando de tarefas, que gastam nosso dinheiro em viagens à Brasília (convenhamos, custo de vida para dois ou três dias é alto demais por lá), resolver problema de fossa, ocasionado pela péssima infraestrutura do local, nÃo é tÃo interessante assim. E aí está mais uma questÃo, pior ainda é quando o problema começou a ser gerado em outra administraçÃo e a atual nÃo quer resolver com precisÃo porque acredita ser mais interessante fazer isso próximo das eleições, porque é nesse período que a comunidade ‘pobre’ pode ser útil.
Se a periferia existe é porque um grupo está ganhando muito e a maioria está ficando sem nada. Se a periferia existe é porque índio, caboclo, negro ‘serviram’ para construir prédios, praças, palácios e depois de tudo muito bem feito, foram ‘libertos’ para viverem nas condições mais desumanas possíveis. Algo muito errado acontece. Infraestrutura, água, luz, saneamento básico é o mínimo que um município pode fazer por quem vive as margens. É uma questÃo muito mais humana. Se querem uma cidade boa para se viver, precisam dar condições para que a periferia também possa viver, para que as pessoas que vivem na periferia possam trabalhar, se alimentar, tenham água potável em casa. Colocar o pé na realidade dessas famílias poder público, tomar um mate, almoçar uma vez que outra na casa ‘do povo’, é uma dica interessante. Vale pensar. Até a próxima.
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