Mais de 500 pessoas recebem atendimento de hepatite na região
Última atualização 31 de julho de 2015 - 10:46:54
REGIÃO – Cansaço, dor abdominal, pele e olhos amarelados, febre, tontura, enjôo, vômitos, fezes claras e urina escura. Esses sintomas podem ser confundidos com qualquer outra patologia, como um mal estar momentâneo. No entanto, esses sintomas podem ser um alerta para algo mais grave, como uma hepatite.
Segundo dados do Hospital Albert Einstein, estima-se que no Brasil 2,5% da populaçÃo têm a doença e a maioria só descobre na fase avançada, com alto risco de câncer de fígado. Partes destes indivíduos estÃo presentes nos centros urbanos das regiões sul e sudeste, mas nÃo sabem que portam o vírus. Este cenário aumenta o risco de transmissÃo e potencializa a situaçÃo endêmica no Brasil.
Para lembrar e alertar a populaçÃo sobre a prevençÃo da doença, a reportagem do Jornal Expresso d’Oeste entrevistou profissionais da área e um paciente que descobriu a doença há 15 anos. Hoje, o paciente faz acompanhamento com profissionais especializados e vive uma vida basicamente normal.
O QUE É HEPATITE?
A responsável pelo setor de Epidemiologia da Unidade de Saúde de Caibi, Edimara Conte Portes esclarece que a doença é uma inflamaçÃo do fígado, causada por um vírus, mas que geralmente também pode ser provocada pelo abuso de bebida alcoólica e por reaçÃo indesejada de alguns medicamentos.
Ela conta que é uma doença silenciosa que nem sempre apresenta sintomas, por isso dos diversos casos de pessoas que nÃo sabem que tem hepatite. A hepatite está subdividida em A, B e C. As três sÃo as principais e com maior incidência na populaçÃo.
• Hepatite A: transmitida pela ingestÃo de água ou alimentos contaminados por fezes de pessoas infectadas pelo vírus. Para prevenir é preciso lavar as mÃos frequentemente, lavar bem os alimentos crus, cozinhar bem alimentos, principalmente frutos do mar;
• Hepatite B: transmitida pelo sangue ou nas relações sexuais sem preservativo. É possível pegar a doença por meio do compartilhamento de objetos, como agulhas, seringas, lâminas de barbear, materiais cirúrgicos, odontológicos ou de manicure sem adequada esterilizaçÃo. As gestantes portadoras do vírus tipo B pode transmitir ao bebê, por isso da importância do teste e vacinaçÃo da gestante. Já o recém nascido deve tomar a primeira dose da vacina contra hepatite B.
• Hepatite C: transmitida pelo sangue, por meio do uso de drogas com compartilhamento de seringas, agulhas ou canudos. Quem recebeu transfusÃo de sangue ou hemoderivados antes de 1993, deve fazer o teste. Já a transmissÃo sexual é menos frequente.
A prevençÃo do tipo B e C é a vacinaçÃo contra a hepatite B e o nÃo compartilhamento de objetos. É preciso assegurar que os materiais usados para tatuagens e piercings sejam totalmente descartáveis. Deve-se utilizar material de manicure individual e esterilizado e o uso de preservativo nas relações sexuais.
SITUAÇÃO REGIONAL
Edimara revela que a situaçÃo do Oeste de Santa Catarina é endêmica. Em Caibi em específico, a maior incidência de casos notificados é de hepatite do tipo B. Ela explica que a regiÃo foi colonizada pelos descendentes de italianos e alemÃes vindos principalmente do Rio Grande do Sul. Essas pessoas vieram de regiões com incidência da doença e como nÃo havia tratamento da doença e situaçÃo se alastrou. “Um dos motivos está relacionado com a ausência da vacina para hepatite B, que só começou a vigorar no ano de 1995 no nosso estado”, enfatiza.
A profissional enfatiza que a partir do momento em que o paciente chega à unidade com exame de HBS Ag reagente, o mesmo é encaminhado ao setor de epidemiologia para a notificaçÃo e orientações. Após seis meses da comprovaçÃo é preciso refazer o exame para saber se permanece reagente a hepatite. Caso sim é considerado portador crônico. “Este paciente será monitorado pela equipe do setor epidemiológico, sendo que a cada seis meses serÃo realizados exames e uma vez por ano realizado o exame da carga viral e se necessário encaminhamento para profissionais especializados”, esclarece.
MÉDIA DE PACIENTES POR MUNICÍPIO
Águas de Chapecó Riqueza Cunhataí SÃo Carlos Caibi Cunha Porà Palmitos Mondaí
10 45 0 72 131 44 157 82
Dos 131 diagnosticados em Caibi, 73 deles sÃo homens, 21 sÃo da área rural e 52 da cidade. As mulheres sÃo 58, da cidade sÃo 34 e do meio rural 24. Em Palmitos, os casos notificados de hepatite C em acompanhamento sÃo dois; para B em acompanhamento sÃo 90; para B em tratamento sÃo 13 e hepatite C em tratamento sÃo apenas dois. O número de exames realizados pelo município de Palmitos para hepatite A, B, C em 2015 foram de 1.755.
A reportagem entrou em contato com o Serviço de Atendimento Especializado em HIV e Hepatites Virais (SAE) de SÃo Miguel do Oeste para saber o número aproximado de pessoas que tem a doença. Segundo a responsável pelo setor, Juliana Pinheiro, o SAE atende 31 municípios e há 500 pacientes sendo atendidos. No entanto, ela acredita que mais de 2,5 mil pessoas tenham hepatite na regiÃo.
Para frear esses dados, a unidade de saúde de Caibi, como também de todos os municípios da regiÃo, está fazendo uma mobilizaçÃo para que a sociedade compareça nas unidades de saúde para fazer o exame e a vacina de imunizaçÃo contra hepatite.
Paciente inicia tratamento nove anos após a constataçÃo
Nereu Gallon, 47 anos, é frentista em Caibi. Ele descobriu a Hepatite B em 2000, quando foi doar sangue para uma campanha. Naquela época, o resultado para hepatite nÃo foi relevado, tanto que o tratamento iniciou apenas em 2009. “NÃo foi dada a devida importância na época, nÃo se tinha a orientaçÃo que se tem hoje”, conta.
Ao logo dos anos, Gallon sentiu alguns desconfortos em relaçÃo a sua saúde. A sua predisposiçÃo para tarefas do cotidiano ficavam comprometidas e toda alimentaçÃo lhe fazia mal. “Depois de dois anos que descobri a hepatite eu comecei a ter alguns problemas de saúde, mas nÃo sabia que era por causa da hepatite, na época eu nÃo tinha força para trabalhar”, relata.
O paciente realizou diversos exames no estômago, intestino e fígado mas, nenhum trouxe resultado satisfatório. “Só em 2009 que eu comecei a me tratar para hepatite”, afirma. O caibiense nÃo sabe a procedência da patologia, pois na sua família ninguém foi diagnosticado.
Depois que iniciou o tratamento, Gallon salienta que a sua saúde melhorou, no entanto, teve que adquirir hábitos alimentares saudáveis e o nÃo consumo de bebida alcoólica. “Depois que fui medicado eu melhorei, hoje eu nÃo acho uma doença grave, para mim é uma doença normal é só cuidar e controlar. NÃo é difícil”, frisa.
Sobre a questÃo do preconceito, o caibiense nÃo constatou nenhuma discriminaçÃo por parte da família ou da sociedade. Edimara acrescenta, que nesse caso, o círculo de amigos do paciente é de pessoas mais esclarecidas sobre o assunto, por isso que até hoje ele nÃo enfrentou nenhuma repudia. “Eu recomendo as pessoas para que elas façam o exame para evitar pelo que passei sem saber da gravidade da hepatite”, finaliza. Após a constataçÃo da hepatite B em Gallon, toda a sua família foi imunizada pela doença.
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