O cavaleiro solitário Ozzy Osbourne
Última atualização 7 de abril de 2015 - 10:35:33
SC Rio de Janeiro (rj) – 13/10/2013 – SHOW BLACK SABBATH – Show da banda Black Sabbath na praça da Apoteose, no rio de janeiro.
RIO – O assistente bem que avisa: “Vou colocá-lo em espera por um minuto, e a próxima voz que você ouvirá será a de Ozzy”. NÃo que aquele senhor de fala claudicante e sotaque britânico que vem em seguida ao telefone pudesse ser qualquer outra pessoa. “E-e-e-eu nÃo sei!” continua sendo a resposta-padrÃo de John Michael Osbourne, o Príncipe das Trevas, 66 anos, mais de 40 deles dedicados ao rock e a diversas relações com o CramulhÃo. Depois de dois anos de turnê com o Black Sabbath, a banda que fundou com amigos da classe operária de Birmingham em 1968 e que mudou a História da música, Ozzy, sem muito descanso, arregimentou novamente Gus G. (guitarra), Blasko (baixo), Tommy Clufetos (bateria) e Adam Wakeman (teclados, filho da lenda Rick Wakeman) e já parte para a estrada de novo. Ele se apresenta no festival Monsters of Rock, em SÃo Paulo, no dia 25 deste mês, e ainda passa por Curitiba, no dia 28, e Porto Alegre, no dia 30.
O último show da turnê do Black Sabbath (que pode ter sido o último da história da banda) aconteceu no dia 4 de julho do ano passado, no Hyde Park, em Londres. Um mês depois, no dia 9 de agosto, Ozzy e sua banda se apresentavam no Estádio da Copa do Mundo em Seul, na Coreia do Sul.
— Nem tive tempo de descansar — lembra ele. — Mas depois da Coreia tivemos esses meses para dar uma parada e ensaiar a banda, antes dessa ida à América do Sul.
Ozzy diz que seus shows solo sÃo completamente diferentes das apresentações do Black Sabbath, mesmo com cerca de um terço das músicas em comum.
— É outro animal — define. — No Sabbath há muito trabalho de guitarra, pois Tony (Iommi, guitarrista) compôs alguns dos maiores riffs da história do rock, e o foco nÃo está em mim o tempo todo. Ninguém na face da Terra escreve riffs como os dele. Nos meus shows, as músicas sÃo mais aceleradas, eu fico pulando para lá e para cá.
No seu melhor estilo “I don’t know” (“Eu nÃo sei” — ele tem até uma música com esse nome), Ozzy nÃo confirma nem descarta mais uma reuniÃo do Sabbath, mesmo com Iommi tratando um linfoma (câncer linfático), diagnosticado em 2012.
— NÃo estamos ficando mais jovens — diz ele. — É claro que todos temos a vontade de compor e gravar mais um álbum, mas é difícil dizer se vai acontecer ou quando. Que eu saiba, Tony está indo bem no tratamento.
Apesar de exaltar o sucesso da turnê do Sabbath e do disco “13”, lançado em junho de 2013, ele diz que guarda uma mágoa da história toda.
— É triste que Bill (Ward, baterista original do grupo) nÃo tenha participado — lamenta. — NÃo sei o que fez com que ele nÃo estivesse lá (a versÃo oficial fala em diferenças contratuais; no disco, a bateria foi gravada por Brad Wilk, do Rage Against the Machine e dos Smashing Pumpkins; ao vivo, Clufetos, da banda de Ozzy, foi o titular), mas seria melhor se fôssemos nós quatro. Ainda assim, fui muito feliz na turnê com os meus velhos amigos. Ninguém toca Black Sabbath como o Black Sabbath. É mágico que quatro moleques de Aston, em Birmingham, tenham encontrado uma química como essa. Era muito emocionante ver o público, várias gerações, de pessoas da nossa idade a moleques mais jovens, em todos os shows.
Sem dar sinais de cansaço, ele se diz feliz por estar de volta à carreira solo e a caminho da América do Sul — o giro inclui uma apresentaçÃo em Buenos Aires, no dia 2 de maio, e já há datas marcadas para shows no México em agosto.
— Eu nÃo vejo muito os rapazes quando nÃo estamos em turnê, entÃo é bom tê-los por perto de novo — diz. — Nós entramos no estúdio da minha casa (em Los Angeles, a mesma do reality show “The Osbournes”) e vemos o que queremos tocar. Como nÃo estamos promovendo um disco novo, temos total liberdade para pensar no repertório. Também aproveitamos para pensar, sem pressa, em novas músicas. NÃo, nem me pergunte sobre disco novo, nÃo tenho a menor ideia de quando sairá.
Apesar da memória um tanto baleada (ele costuma dizer que os anos 1980 e 90, pesados em matéria de álcool e drogas, sÃo “um borrÃo” em sua mente), Ozzy afirma se lembrar com carinho da primeira vinda ao Brasil, no Rock in Rio, em “1984 ou 1985” (janeiro de 1985, Ozzy; memória aprovada por proximidade).
— Aquilo ficou na minha mente até hoje, a multidÃo de pessoas apaixonadas por música — lembra ele, que se apresentou junto com pesos-pesados como AC/DC e Scorpions e com companheiros de geraçÃo como Rod Stewart. — Acho que isso está no sangue de vocês.
EntÃo por que nÃo vir ao Rio desta vez (ele passou pela cidade sozinho pela última vez em abril de 2011 e voltou com o Black Sabbath em outubro de 2013)?
— Eu nem olho o itinerário — escusa-se. — Sharon (sua mulher há 33 anos, empresária com mÃo de ferro e celebridade da TV) e o escritório decidem aonde vamos. É claro que eu gostaria de fazer mais shows, em mais cidades, mas os negócios nem sempre permitem.
Entre os projetos de Ozzy (ou que terceiros e quartos decidem por ele) estÃo o festival itinerante Ozzfest (“imagino que neste ano nÃo aconteça”), mais trabalho na televisÃo (embora ele admita que “The Osbournes”, apesar de toda a popularidade que deu à família, o mostrasse mais debilitado do que realmente é), e um filme, que contaria a história de sua vida.
— Chegou um roteiro aqui em casa nos últimos dias, está na minha mesa — adianta. — Ainda nÃo consegui olhar, nÃo sabemos quem vai dirigir nem o elenco (há especulações de que Ozzy seria interpretado por Jack Black, Johnny Depp ou Colin Farrell). É mais um projeto que está sendo tocado, como muitos outros. NÃo é problema meu, é da minha mulher.
O tempo da entrevista vai chegando ao fim, e a ligaçÃo repentinamente cai. Tudo bem, estava na hora. Mas o telefone toca novamente.
— Oi, sou eu de novo! — diz o Príncipe das Trevas, agora sem a ajuda do assistente. — Telefonei novamente para me despedir. Apareça!
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