Um estudo feito pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio) de Santa Catarina, aponta que o comércio pode ter perdido até R$ 400 milhões por dia com o bloqueio das rodovias no estado. Após quase 15 dias de protestos, a Fecomércio estimou que o impacto negativo da paralisação dos caminhoneiros no Estado pode chegar até a 0,6% do PIB nas regiões afetadas. Aqui no Oeste, onde a paralisação foi maior, esse valor pode significar R$ 150 milhões por dia, segundo a entidade.
Segundo a Fecomércio, a situação foi se agravando à medida que as paralisações foram aumentando. Nos primeiros dias, estima-se que a perda girou em torno de R$ 80 milhões diários. As regiões portuárias de Itajaí e São Francisco também foram impactadas, fazendo com que a balança comercial de Santa Catarina também perdesse em receita de exportação, já que quase 70% dos produtos exportáveis pelo porto de Itajaí vêm dos locais onde ocorreram bloqueios.
A Fecomércio entende que as demandas dos caminhoneiros no Oeste do Estado são legítimas, especialmente quando tratam da infraestrutura das estradas catarinenses. Inclusive, relembra que a infraestrutura deficiente é também uma causa dos empresários do setor terciário, expressa na “Carta do Comércio”, que foi entregue aos representantes do Poder Executivo e Legislativo de Santa Catarina durante o processo eleitoral.
No entanto, a entidade informou que discorda das paralisações, pois defende que bloquear estradas é prejudicial para a economia de todo o Estado e da própria região, já que limita a circulação de mercadorias, reduzindo as vendas e os ganhos do comércio.
Industria também sente impactos da greve dos caminhoneiros
Outro setor impactado pelos bloqueios de rodovias foi o setor da agroindústria. Segundo o vice-presidente regional da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), Astor Kist, a agroindústria de carnes e leite tem no oeste catarinense a sua maior concentração e a sua maior força.
Conforme Kist, a maior conquista deste setor, nos últimos anos, foi a condição de área livre de febre aftosa, sem vacinação. “Em função desta condição e devido à qualidade de nossos produtos, grandes mercados mundiais foram abertos e estão continuando a se abrir. Embora se reconheça como justa a reinvindicação dos transportadores, a manutenção prolongada da greve coloca em risco a cadeia produtiva e industrial de aves, suínos e do próprio leite. Os mercados externos exigem pontualidade nas entregas e carcaças altamente tipificadas. Existe uma sequência produtiva e de abates que está sendo comprometida”, argumenta.
Segundo o vice-presidente regional da Fiesc, os demais setores industriais, por não conseguirem combustíveis, por não conseguirem repor seus estoques de matéria prima e por não conseguirem escoar suas produções, também amargaram altos prejuízos. Ele criticou ainda os setores governamentais, a quem se dirige a reclamação, e estariam se omitindo na situação.
Indústria leiteira
As cooperativas Aurora e Cooperoeste Terra Viva, por exemplo, paralisaram as atividades por um período. Segundo o presidente da Cooperoeste, Celestino Persch, os prejuízos ainda não foram contabilizados, mas serão gigantescos. Ele lembra que a produção foi interrompida por vários dias, pois não havia mais como industrializar o leite sem materiais para embalar o produto.
Segundo Persch, o problema é grande e terá reflexos futuros. Ele lembra que muitos produtores precisaram descartar o produto e que, a situação que já estava crítica, ficará ainda mais, pois o produtor deixou de receber pelo leite descartado, enquanto que as despesas seguem. A assessoria de imprensa da Aurora Alimentos informou que a empresa também ainda não calculou os prejuízos.
Presidente da CDL lamenta prejuízos, mas valoriza o manifesto
SÃO MIGUEL DO OESTE
A presidente da Cãmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de São Miguel do Oeste, Lizete Lang, entende que os prejuízos para o comercio da região e, principalmente, para o município, serão enormes. Ela acredita que os comerciantes demorarão de quatro a seis meses para recuperar as perdas com as paralisações. Porém, acredita que o movimento valeu a pena, pois serviu para mostrar o descontentamento de várias classes e do próprio povo.
A presidente da CDL lamentou o fato de ter havido poucas reinvindicações atendidas pelos governos. Ela ainda considerou acertado o término do movimento, pois diante de 15 dias de paralisação, a situação já se tornava insustentável. “Acho que foi dado o recado para o governo e mostrado o poder que os caminhoneiros têm, podendo parar o Brasil. Lamentavelmente quem sempre paga a conta é o consumidor”, conclui
Promotoria de Justiça também se pronuncia sobre manifestações
Em coletiva de imprensa realizada na sede da Delegacia Regional da Polícia Civil de São Miguel do Oeste, na tarde do último sábado, dia 28, antes do fim das manifestações, o promotor de justiça, Maycon Hammes, acompanhado de líderes do Ministério Público Federal e órgãos de Segurança, apontou alguns dos impactos que as manifestações causarão às regiões Oeste e Extremo-oeste Catarinense.
Segundo o promotor, as agroindústrias foram afetadas. “A cadeia logística de recebimento de produtos e de escoamento desses materiais para o exterior está sendo bastante prejudicado. A substituição das matrizes dos animais, junto aos produtores rurais começam a ser afetadas e até a questão da continuidade genética desses animais começa a sofrer danos”, afirma. “Demissões podem acontecer. Com as perdas que os agricultores vem apresentando, o comércio passa a ser alvo de perdas. O comércio não está sentindo a crise agora, mas vai sentir daqui a um mês, dois meses, quando esses agricultores que não vão receber no final do mês não tiverem condições para pagarem as suas contas e quando não tiverem para comprar novos bens no comércio”, argumentou.
Hammes lembrou ainda das prefeituras da região, que vão registrar queda de arrecadação Segundo ele, as perdas também se refletem no contexto da educação, já que vários municípios suspenderam as aulas. Hammes explica que a promotoria não está absolutamente contrária as manifestações, mas que, segundo ele, existem formas pacíficas de se fazer reivindicações. “Será que essa é a melhor forma que dispomos para reivindicar o direito de uma categoria? Precisamos instaurar o caos e a desordem para atingir esse objetivo?”, questionou, lembrando que não se pode impedir o direito de ir e vir das pessoas.
O promotor entende que os bloqueios não prejudicam o Governo Federal. “Quem vai começar a sentir e pode talvez ser tarde demais é a própria população”, alerta.
deixe seu comentário