Florianópolis
Para empresários e representantes de sindicatos de indústria de Santa Catarina os encaminhamentos do governo federal diante das recentes manifestações não foram adequados. Essa avaliação foi unãnime no grupo que participou de enquete, realizada pela Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC), na manhã desta sexta-feira (19), durante reunião de diretoria em Florianópolis. O levantamento mostrou também que para 91,5% dos participantes os encaminhamentos do Congresso Nacional quanto ao tema não foram adequados. Além disso, para 79,7% os protestos não foram passageiros, nem tendem a arrefecer.
Para o presidente da FIESC, Glauco José CÔrte, o resultado do levantamento mostra que os assuntos públicos precisam ser tratados com mais seriedade. “As ações, tanto do poder Executivo, quanto do Legislativo, não estão conectadas com as demandas da sociedade”, afirmou, informando que a pesquisa será ampliada.
Em palestra na FIESC, o cientista político e articulista do jornal O Estado de São Paulo, Carlos Melo, avaliou como complicada a atual conjuntura. Para ele, as manifestações, as quais chamou de “jornadas de junho”, decorreram de uma série de fatos acumulados, entre os quais estão a baixa qualidade do serviço público, o mensalão, a corrupção, a eleição de Renan Calheiros à presidência do Senado e o superfaturamento na construção dos estádios. “A água não ferve de repente. Essa história de que o Brasil já deu certo não é verdade. Não estou aqui trazendo um discurso pessimista, mas temos que colocar o pé no chão. O Brasil está melhor que vários países, mas não chegou a seu ponto ótimo. O futuro ainda não chegou. Tem que ser construído e não é na base da retórica”, afirmou Melo.
Durante conversa com os empresários, o cientista político lembrou que nos últimos anos o mundo passou por uma grande transformação tecnológica e econÔmica, mas não política. “O Brasil não consegue mudar politicamente. A relação entre representante e representado se desgastou. Por isso, por meio da rede (internet) criou-se um movimento sem um líder, uma organização. Há uma horizontalidade. A liderança política nesse mundo novo é outra. E as ruas mostraram isso”, salientou Melo.
Dados apresentados na palestra mostram que o número de brasileiros na classe C aumentou e nas classes D e E se reduziu vertiginosamente. O articulista explicou que essa redução de desigualdade se deu por transferência de recursos e tributação e não pelo aumento da produtividade.
Em sua exposição, Melo disse ainda que a reforma tributária é pouco provável. No entanto, é necessário sentar à mesa e rever alguns pontos. Na opinião dele, mesmo que não haja redução da carga tributária agora, é fundamental, pelo menos, fazer reformas incrementais que ao longo do tempo melhorem a estrutura da complexa legislação. Ela exige das empresas um grande número de profissionais para dar conta da burocracia.
Ao final da palestra, apesar de ressaltar a dificuldade para construir cenários, o especialista afirmou acreditar em relativa recuperação econÔmica, mas não em corte de gastos ou grandes ajustes. “O grande problema é que não temos grandes lideranças políticas para conduzir esse processo. Hoje não existe o termo baixo clero porque não existe o alto clero”, finalizou Melo.
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