O mundinho dos campeonatos estaduais muitas vezes não respeita cartão de visita. O Criciúma chegou com a força de quem é elite, construiu uma senhora vantagem no jogo de ida, mas para levar o título catarinense teria que ter algo mais: então peleou no Índio Condá diante de um adversário à moda do Oeste, e deixou o gramado com a taça.
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Desafio para os fortes, algo que o Criciúma tem em seu DNA, desde que desbravou a Copa Libertadores até quase a semifinal. Um time que sabe conquistar sob adversidade: perder por 1 a 0 significava vitória (o jogo de ida fora 2 a 0). Então, foi o trabalho perfeito para chegar à Série A do Brasileiro cheio de moral. Faixa no peito e sorriso de campeão. O time mais vencedor de Santa Catarina (uma Copa do Brasil, uma Série B e uma Série C são os destaques) está no seu ambiente natural, dos campeões.
Missões curiosas diante das circunstãncias
O curioso, desde o primeiro segundo após o apito inicial, seria constatar a evolução de dois contrastes: como o time que é mestre em defender (o Verdão tem a melhor zaga do campeonato), a acharia uma solução ofensiva; e como o time com vocação ofensiva (o Tigre ostenta o melhor ataque do torneio) encontraria um método para fechar às portas ao oponente.
O carequinha Heber Roberto Lopes, então, trilou o apito e lá se foi o time da casa com três atacantes, portanto com uma senha dada pelo técnico Gilmar Dal Pozzo: seu time iria com sede ao pote. O trio formado por Bruno Rangel, Fabinho Alves e Gral encontrou, contudo, montado por Vadão, uma arapuca. Toda vez que tentava estocar lá, via uma teia armada por volantes para roubar a bola. Invariavelmente, o sistema pensado pelo visitante virava perigosos ataques pelas alas.
Três atacantes, mas quem define é zagueiro
Não dá com atacantes? Então que os zagueiros resolvam: aos 12 minutos, num escanteio, Rafael Lima subiu soberano, no terceiro andar (como gostam de dizer os boleiros) e correu para o abraço. O sucesso do lance teve um detalhe: Rodrigo Gral, que não estava impedido, fez um corta-luz, atrapalhando o goleiro. A primeira resposta ao dilema estava respondida: defender seria um suplício para o Tigre, sua dupla de zaga costuma se confundir perigosamente na marcação.
O grupo do Criciúma acusou o golpe. Sentiu o gol sofrido e perdeu a estrutura que lhe permitia agredir para não ser agredido. Aí a proposta de jogo de Dal Pozzo ganhou forma: atacantes abertos segurando os alas tricolores, e uma movimentação em bloco, fazendo os três setores verdes avançarem de forma sólida e empurrarem o Tigre em seu campo. Este quadro durou até os 10 minutos finais, quando o Criciúma reequilibrou as ações até o apito que determinou o intervalo.
Athos entra para turbinar a criação
Tudo que houve no primeiro tempo de alternativas, de oscilação no domínio territorial, de possibilidades para os dois lados, sumiu nos 10 minutos iniciais. Uma série de momentos burocráticos insistiu em tomar forma. Dal Pozzo viu esta mesmice e apostou na entrada de Athos para construir um novo panorama.
Surtiu efeito. O Verdão começou a incomodar, já que trocava mais a bola no campo de ataque, e passou a criar boas situações com bola parada e em investidas de linha de fundo. Esta reanimação durou até os 25 minutos, quando o jogo voltou a ficar à feição de quem precisava ganhar tempo: enrolado, lateral e truncado. Para complicar, Fabinho Alves deixou o campo com dores musculares. Entrou Soares na vaga.
A Chapecoense passou a viver de momentos. Aos 32 minutos, um cruzamento à área passou por todos os jogadores e tinha o endereço do gole, exigindo excelente defesa de Bruno. A torcida entrou em campo e tentou levar o Verdão na garra.
Frieza e experiência para fazer a festa
Mas o Tigre foi frio e calculista. O time aplicou em campo uma postura experiente, refletindo o que foi passado por Vadão, um técnicoque agiu e repassou serenidade ao grupo mesmo com a desvantagem desde o primeiro tempo.
Os minutos se esvaíram, ainda com duas chances de gol que tiveram a participação brilhante de Bruno.
A nação verde se limitou a aplaudir seus guerreiros e a parte amarela, preta e branca das arquibancadas soltou o grito de campeão. Pela 10ª vez na história, o Tigre estabeleceu a hegemonia em Santa Catarina.
Mais ainda, no duelo particular com o adversário, o Criciúma estabelece a vantagem em decisões: em cinco, três ficam com o representante do Sul, dois com a turma do Oeste.
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