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Episódio do leite adulterado desperta alerta para o que se come

Última atualização 19 de maio de 2013 - 13:09:59

O escãndalo do leite com água, ureia e formol (substãncia que pode causar cãncer) que assustou consumidores e acordou as autoridades para a necessidade de aperto na fiscalização também acendeu uma luz amarela na segurança dos alimentos.

Além da ameaça química, agentes biológicos como bactérias também causam preocupações para quem faz refeições na rua, no trabalho ou mesmo em casa. Por contaminação nas matérias-primas, refrigeração inadequada, falta de higiene e outras diversas razões, crescem as notificações de surtos das chamadas Doenças Transmitidas por Alimentos (DTAs) no país.

O que são DTAS

São doenças transmitidas pela ingestão de alimentos ou bebidas contaminadas. Existem mais de 250 tipos de DTAs e a maioria são infecções causadas por bactérias e suas toxinas, vírus e parasitas. Outras doenças são envenenamentos causados por toxinas naturais (como cogumelos venenosos, toxinas de algas ou peixes) ou por produtos químicos prejudiciais que contaminaram o alimento (chumbo e agrotóxicos, por exemplo). Fonte: Ministério da Saúde.

Nos últimos dois anos, o Ministério da Saúde registrou, respectivamente, 795 e 792 surtos, o maior número desde 2005. O episódio do leite, avaliam especialistas, mostra que também os consumidores – mesmo sem motivos para preocupações exageradas – precisam ficar mais atentos à segurança dos alimentos e a aspectos como alterações de sabor e integridade de embalagens. Ter atenção a questões simples, como datas de validade dos produtos que compramos no supermercado e levamos à geladeira, também podem fazer a diferença.

Estima-se que só nos Estados Unidos as DTAs alcancem 76 milhões de casos individuais por ano, com mais de 300 mil hospitalizações e 5 mil mortes. Seja por problemas de qualidade de matéria-prima, falta de higiene, conservação inadequada ou uso de substãncias que, mesmo permitidas, em excesso trazem riscos de longo prazo à saúde. No Brasil, onde calcula-se que o número de ocorrências é superior às notificações, o Ministério da Saúde não registra casos individuais. São contabilizados apenas surtos, em regra definidos como uma síndrome que envolve a partir de duas pessoas após a ingestão de alimento ou água contaminados.

Atenção ao que se come

Embora ressalte que não há razão para alarmismo ou neurose com o que consumimos, o engenheiro químico Cláudio Luis Frankenberg, professor de toxicologia de alimentos da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, avalia que o episódio do leite deixa uma lição:

– Precisamos ter uma fiscalização mais rigorosa, e a população tem de ficar atenta ao que consome.

Para o especialista, é importante que os consumidores sempre relatem os problemas detectados em alimentos, seja para o Ministério Público (MP), Vigilãncia Sanitária ou mesmo para os fabricantes. Só assim é possível aperfeiçoar controles de qualidade de matéria-prima, processos de produção, legislação e a própria fiscalização. A maior parte dos casos de problemas de saúde causados por alimentos, diz Frankenberg, nem chega a ser notificada porque os sintomas, em regra, desaparecem em questão de horas.

– A maioria dos processos de desintoxicação são feitos de forma caseira e isso não é quantificado. Às vezes, há adulterações que ocorrem por muito tempo, mas que só vêm à tona quando acontece um problema sério. Mas em outras vezes pode ter sido algo no processo produtivo que a empresa sequer notou – explica Frankenberg.

A nutricionista Semíramis Domene, diretora da Sociedade Brasileira da Alimentação e Nutrição e professora da Universidade Federal de São Paulo, aponta lácteos, carnes, pescados, ovos e hortigranjeiros como alimentos que, embora saudáveis, trazem riscos. Para Semíramis, observar procedência, forma como são manipulados e esterilizar produtos que podem conter bactérias são formas de evitar desde mal-estar a doenças sérias.

Embutidos como salsichas, salames e presuntos

Riscos:produzida por um fungo, a toxina botulínica pode causar a paralisia de músculos e até a morte por asfixia. Os industrializados costumam conter nitratos utilizados como conservantes, para evitar a proliferação de micro-organismos. A formação de compostos nitrosos no organismo pode causar cãncer de fígado.

Como evitar problemas:não consumir produtos crus, que devem ser cozidos por três minutos a 100ºC. Em produtos coloniais, observar a procedência e se consta algum tipo de inspeção. No caso de produtos industrializados, evite o consumo frequente.

Alimentos com muito sódio

Riscos:consumir alimentos com excesso de sódio pode causar problemas de saúde como cãncer de estÔmago, hipertensão, acidentes vasculares cerebrais e complicações renais. Está presente em produtos como comidas congeladas, pré-prontas, temperos prontos, sopas instantãneas, refrigerantes diet e light e até na água mineral.

Como evitar problemas:diminuir o consumo de produtos industrializados e trocar os temperos prontos pelos naturais.

Pescados

Riscos:consumir pescado que já tenha iniciado processo de deterioração e multiplicação de micro-organismos ou então de animais extraídos de locais poluídos, com a contaminação de metais pesados, por exemplo. Outros agentes, como parasitas, podem causar doenças como a difilobotríase. Conhecida como a doença do peixe cru, leva a desconforto abdominal, náuseas, vÔmitos e diarreia.

Como evitar problemas:para diminuir a contaminação por agentes biológicos como bactérias, fungos ou parasitas, deve-se prestar a atenção na aparência do peixe, observando se as guelras têm a cor entre o rosado e o vermelho e se olhos ainda estão brilhantes e saltados. Tentar saber também a procedência do pescado. No caso do peixe cru, deve-se exigir laudo sanitário que comprove a segurança para o consumo.

Ovos

Riscos:infecção por salmonela, bactéria que causa vÔmitos, náuseas, dor abdominal e diarreia e pode levar à morte.

Como evitar problemas:na hora da compra, rejeite ovos com a casca rachada e resíduos de fezes das aves. Evitar consumir o ovo cru em receitas como de gemada e maionese caseira. O ovo deve ser cozido por três minutos a 100ºC.

Verduras, frutas e legumes

Riscos:contaminação por bactérias, como coliformes fecais, que podem causar náuseas, diarreia, vÔmito e desidratação em crianças. Ingestão de altos níveis de agrotóxicos.

Como evitar problemas:para alimentos que serão consumidos crus, a eliminação de bactérias pode ser feita com a imersão em solução de uma colher de sopa de água sanitária – que contém cloro – em um litro de água por 20 minutos. Mas depois é preciso lavar os vegetais em água corrente novamente para retirar o cloro, que é tóxico. Se ingerido, o cloro pode dar origem à cloramina, subproduto cancerígeno. A água corrente também ajuda a remover agrotóxicos. Os alimentos que serão cozidos podem ser apenas lavados para a remoção dos agrotóxicos. Se possível, compre alimentos produzidos de forma orgãnica.

Carnes

Riscos:o consumo de produtos originários de animais que não são criados e abatidos em condições adequadas pode levar à transmissão de doenças como tuberculose e brucelose, conhecidas como zoonoses.

Como evitar problemas:cozinhar a carne a uma temperatura que atinja pelo menos 75ºC no centro geométrico do corte. Também é aconselhável não comprar o que não recebeu inspeção sanitária. Se o produto for muito barato, pode ser de abatedouro clandestino.

Palmito

Riscos:botulismo, doença causada por bactéria presente no solo que contamina alimentos em conserva elaborados em condições ruins de higiene. Pode causar paralisia dos músculos respiratórios, potencialmente fatal.

Como evitar problemas:ferver o palmito a 100ºC por três minutos.

Leite e derivados

Riscos:proliferação de micro-organismos por serem ricos em nutrientes e água.

Como evitar problemas:não consuma leite cru. No supermercado, prefira marcas reconhecidas e fique atento à integridade das embalagens e a validade. Nas indústrias, o leite passa por tratamento térmico, como a pasteurização ou a esterilização.

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